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Amazônia, emissora de gás carbônico

A Crítica, Brasil, p. A9
28 de Nov de 2003

Amazônia, emissora de gás carbônico
Estudo revela o inverso da absorção do gás

A idéia de que a Amazônia funciona como um sumidouro de carbono, absorvendo parte do excesso de C02 lançado na atmosfera pelo homem, não é verdadeira para toda a floresta. Segundo estudo publicado ontem por pesquisadores brasileiros e americanos na revista "Science", perturbações climáticas e da cobertura vegetal podem alterar o modelo tradicional de emissão e absorção de gás carbônico pelo ecossistema. Normalmente, as árvores absorvem mais C02 na época de chuva e depois perdem na época de seca, quando a fotossíntese é reduzida. Nas proximidades de Santarém (PA), onde o estudo foi feito, no entanto, ocorreu o inverso: a floresta emitiu mais gás carbônico na época de chuva do que na seca. Se o aquecimento global tornar o clima mais seco na Amazônia, como prevêem alguns modelos, é possível que a floresta se transforme em um emissor de carbono, a exemplo do que foi observado nessa região, alertam os cientistas.
El Niño
A inversão pode estar associada a perturbações naturais ocorridas ao longo das últimas décadas, como o fenômeno El Nino, que reduz os índices pluviométricos na Amazônia. Os resultados são baseados em dados coletados ao longo de três anos por duas torres de monitoramento ao sul de Santarém, na Floresta Nacional do Tapajós, onde a estação seca já é naturalmente mais longa. Isso aumentou a mortalidade de árvores e produziu um acúmulo de necromassa - folhas, galhos e troncos -, que libera C02 à medida que é decomposta. "E um material que se decompõe muito lentamente", explica Humberto da Rocha, um dos autores do estudo, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. "Estamos vendo a memória de algo que aconteceu dez ou 20 anos atrás."
As plantas absorvem C02 para fazer fotossíntese e crescer. Quando morrem, esse carbono é eventualmente liberado de volta para a atmosfera. E como a decomposição é favorecida pela maior umidade na temporada de chuvas, a emissão de carbono acaba sendo maior nessa época do ano, explica Rocha. Na contabilidade final, foi registrada uma emissão média anual de 1,3 tonelada de carbono por hectare na área de estudo. "Os resultados mostram uma peculiaridade regional e não podem ser extrapolados para a Amazônia de forma simplista", adverte o pesquisador. Cada torre tem mais de 60 metros de altura e monitora uma região de até mil hectares.

A Crítica, 28/11/2003, Brasil, p. A9

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