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Amazônia em clima de guerra

JB, País, p. A5
14 de Nov de 2003

Amazônia em clima de guerra
Operação Ajuricaba mobiliza 3 mil homens para treinamentos e lança mão até de pombos-correios

João Pinheiro

Enquanto o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, revela preocupação com a defesa nacional, a região da Amazônia vive uma situação de guerra. Até o dia 22 de novembro, pelo menos 3 mil homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica vão ocupar uma área de 2,6 milhões de quilômetros quadrados entre os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima e parte do Pará. A Operação Ajuricaba II é coordenada pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) e tem o objetivo de preparar homens em comando e tropas no planejamento e na execução de operações de defesa do país.
As manobras apresentam situações em que os militares treinarão o combate de tropas convencionais e forças irregulares do tipo guerrilha. Os homens terão ainda a atualização de planejamentos operacionais já existentes para o uso de forças militares na Amazônia, incluindo o deslocamento estratégico a partir de outras regiões do país.
Participam do exercício comandantes e tropas que incluem o CMA, o Comando Militar do Oeste, Forças de Ação Rápida do Exército (Brigada de Infantaria Pára-Quedista - RJ), 1o Batalhão de Operações Especiais - RJ, 3ª e 10ª Brigadas de Infantaria Motorizada - GO e PE; 4o Esquadrão de Aviação do Exército - AM; e elementos da Marinha do Brasil e da FAB. Além dos militares, estão envolvidos 35 aeronaves, 200 viaturas e 170 embarcações.
- A execução da operação permitirá a avaliação de procedimentos operacionais de guerra irregular em áreas urbanas e rurais (resistência contra o invasor), controle de espaço aéreo, comando e controle, inteligência, assuntos civis, apoio logístico e comunicações, entre outros.
Paralelamente à operação, estão sendo reforçadas as ações de vigilância e controle de fronteira e da calha dos principais rios da região. São realizadas, ainda, iniciativas de natureza humanitária junto à população local, com a finalidade de afirmar a presença do Estado em regiões remotas do Território Nacional, segundo o CMA.
Durante a manobra, o Exército vai testar novas formas de comunicação para impedir a captação de informações por inimigos. O CMA ressalta a importância da criatividade na busca de soluções para os problemas e o intenso uso de recursos locais e de mensagens preestabelecidas.
Para isso, são usados dois sistemas: a entrega de mensagens por meio de pombos-correios - permitindo que as os textos escritos sejam enviados até a distância de mil quilômetros, no prazo de 10 horas - e o uso de militares brasileiros com domínio de idiomas indígenas como radioperadores. Esses militares estão aptos a operar redes de rádio em línguas nativas. Pelo menos 10 índios foram instruídos para participar da manobra.
Nos exercícios da terça-feira, os integrantes da operação promoveram operações psicológicas com a distribuição de chamadas (spots) em estações de rádio; filmetes para a televisão; cartazes; panfletos e outdoors. A campanha psicológica é usada para impedir o avanço de tropas inimigas.
''Essas campanhas constituem um poderoso recurso à disposição de um comandante para auxiliá-lo no cumprimento da missão. Proporcionam economia de meios e a conquista mais rápida dos objetivos militares'', explica o Centro de Comunicação do CMA. ''A campanha psicológica tem por objetivos, entre outros, intensificar o espírito de corpo, a determinação, a união e o espírito combativo da tropa; obter o apoio incondicional da população da área aos esforços militares; abater o moral, a capacidade combativa e a vontade de lutar dos invasores; apresentar ao invasor a probabilidade de insucesso e o elevado custo de uma intervenção militar na Amazônia.''
O nome da operação é uma reverência a Ajuricaba, chefe da tribo Manaós, que, no século 18, resistiu à tentativa portuguesa de escravizar a população indígena na Amazônia. Após tenaz resistência, foi aprisionado e, ao ser conduzido para Belém, onde seria julgado, preferiu a morte à escravidão, jogando-se, ainda acorrentado, nas águas do Rio Amazonas.

JB, 14/11/2003, País, p. A5

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