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Além de Kyoto

CB, Opinião, p. 20
01 de Out de 2004

Além de Kyoto

O sinal verde dado ontem pelo governo russo para a ratificação do Protocolo de Kyoto reacende na humanidade as esperanças de que a Terra enfim possa começar a reverter o processo de saturação da atmosfera por gases tóxicos e fazer retroceder o efeito-estufa. Para entrar em vigor, o acordo internacional assinado no Japão, em 1997, precisava ser ratificado por pelo menos 55 países que respondam por 55% das emissões de CO2 dos países industrializados. Com a decisão da Rússia - que embora precise ser referendada pela câmara baixa do Parlamento, é dada como certa, já que o Kremlin tem maioria absoluta na casa -, completa-se a exigência.
Portanto, 30 de setembro de 2004 é dia especial na história do planeta. Não porque a consciência ecológica tivesse falado mais alto, mas por não haver outra saída, como admitiu com franqueza, diante do conselho de ministros, o vice-ministro russo de Relações Exteriores, Yuri Fedotov: ''Se nos negássemos a ratificá-lo (o Protocolo), seríamos marginalizados''. Igualmente franco, o conselheiro econômico do Kremlin, Andrei Illarionov, afirmou ter se tratado de ''decisão forçada''. Analistas interpretaram o gesto como um aceno de boa vontade à comunidade internacional.
Adesão ou rendição, importa que, além de desencadear processo vital para a Terra, o passo dado pela Rússia - responsável pela produção de 17,4% dos gases tóxicos emitidos pelas potências econômicas - tem ainda o mérito de pressionar os Estados Unidos a fazer o mesmo, pois deixa a Casa Branca mais marginalizada. Em 1997, o presidente Bill Clinton acatou o acerto de Kyoto, mas em 2001 se negou a ratificá-lo, alegando razões econômicas. George W. Bush mantém a postura. John Kerry, que disputa o cargo com ele, é menos inflexível: admite retomar as negociações.
Melhor será se o sucesso da pressão internacional sobre Moscou se repetir em Washington. Os EUA têm cerca de 25% de participação na emissão dos gases que aumentam a temperatura global e provocam reações generalizadas na natureza. As conseqüências vão desde a elevação do nível dos mares e oceanos pelo derretimento de blocos de gelo até interferências na precipitação de chuvas e na produtividade agrícola. Centenas de comunidades costeiras e mesmo países-ilhas do Pacífico estão ameaçados de inundação; fenômenos como ciclones e furacões são cada vez mais freqüentes. Não há tempo a perder. Mais: tanta protelação tornou ultrapassada a meta de Kyoto, baseada na poluição de 1990. As exigências precisam ser ampliadas.

CB, 01/10/2004, Opinião, p. 20

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