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Ainda o Alto Solimões

Diário do Amazonas
24 de Mar de 2008

A apreensão manifestada pela Organização das Nações Unidas com relação aos dados fornecidos pela Fundação Nacional do Índio sobre o plantio disseminado de coca no Alto Solimões apenas reafirma o estado dramático de abandono que esta mesorregião representa. Não que essa agricultura seja recente na tradição cultural das etnias da fronteira. O epadu dos ticunas e demais tribos não passa da coca cultivada milenarmente em toda a Amazônia Continental, Peru, Colômbia, Bolívia e outros. Os missionários franciscanos e salesianos na Amazônia brasileira e adjacências produziram vasta bibliografia sobre essa prática natural e medicinal da Erythroxylum coca. Ela é analgésica, afina o sangue, evita o mal-estar causado pela altitude e fadiga, melhora o funcionamento do fígado, da vesícula, é diurética, acelera a digestão, regula a melanina da pele e evita cáries. A questão é a rede do narcotráfico que se dissemina entre aborígenes e caboclos da região por absoluta falta de alternativa.

Apesar dos esforços e da presença operante e resistente da Igreja Católica, da atuação das Forças Armadas, com o programa Calha Norte e demais atuações do poder público, o quadro é de extrema pobreza e risco. "Quem não traficou vai acabar traficando...", disse um delegado da Polícia Federal num momento de pura distração e inabilidade. E, cá pra nós, embasado nos dados eloquentes de sua rotina funcional. Não há maiores alternativas de sobrevivência na região que permita aos jovens especialmente resistirem à proposta indecente da sedução do narcotráfico.

Daí a gravidade das denúncias que o Ministério Público quer transformar numa ação civil pública por ato de improbidade administrativa por decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas contra o governo do Estado, por conta do convênio celebrado entre a Secretaria Estadual de Infra-Estrutura e o Consórcio denominado Sociedade Civil de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Mesorregião do Alto Solimões, a mais depauperada do Estado. Após diligências e a constatação da inexistência das obras já remuneradas com a metade dos aproximadamente R$ 36 milhões de reais, os promotores entenderam os dados da Funai, a apreensão do Escritório da ONU na América do Sul e a necessidade urgente de recursos para contradizer a desajeitada, sombria e dramática avaliação da Polícia Federal. Quem não traficou....

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