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Águas do rio Pinheiros vão viajar 85 km até torneiras do Cantareira

FSP, Cotidiano, p. C1; C3
22 de Fev de 2015

Águas do rio Pinheiros vão viajar 85 km até torneiras do Cantareira
Volume percorrerá três represas, um rio e uma adutora, passando por cinco municípios de SP
Manobra irá mandar água poluída da represa Billings para sistema de abastecimento da região metropolitana

Fabrício Lobel de São Paulo

Para aliviar os efeitos da mais grave crise hídrica da Grande São Paulo, o governo paulista quer que a água do poluído rio Pinheiros percorra um trajeto equivalente ao de duas maratonas.
Nesse caminho de 85 km, a água que sairá do Pinheiros circulará por três represas, um rio e uma adutora, num ciclo inédito por cinco municípios até chegar às torneiras da zona norte da capital.
Essa viagem da água faz parte da corrida do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para interligar mananciais, socorrer as regiões mais afetadas pela seca e evitar a implementação de um rodízio.
A primeira etapa começa na usina de Pedreira, no extremo sul do rio Pinheiros.
Há décadas, a usina libera água do rio para a represa Billings. No entanto, após o Pinheiros se tornar uma espécie de vala de esgoto da cidade, essa liberação passou a ocorrer somente para evitar o transbordamento do rio.
Essa água acaba por aumentar o nível da Billings. Diante do agravamento da crise hídrica, essa operação tem ocorrido diversas vezes neste ano.
A Folha solicitou mais de uma vez ao governo do Estado a informação sobre o volume dessa manobra e a quantidade de vezes em que ela foi feita. Os questionamentos nunca foram respondidos.

BARREIRA E TRATAMENTO
Quando, da usina de Pedreira, a água seguir ao sul e depois a leste, num percurso de 20 km, encontrará uma barreira física --uma barragem ao lado da Anchieta, rodovia que liga São Paulo ao litoral sul do Estado.
A construção foi feita em 1982 pela Sabesp com o objetivo de garantir que a água da Billings não se misturasse com o rio Grande, que abastece o ABC paulista.
Neste ponto haverá a primeira intervenção proposta pelo governo.
Como a Folha revelou na sexta (20), a água da Billings será bombeada para superar a barragem feita para separar as duas represas.
Ultrapassada a Anchieta, a água ali passa a ser diluída.
Parte dela será captada e tratada no sistema Rio Grande, que abastece o ABC. Outra parte poderá alcançar o extremo oposto da represa.
De lá, será enviada por duas tubulações ao longo de 11 km. No sistema Alto Tietê, no extremo leste da Grande SP, a água será tratada, no município de Suzano.
Com mais volume, o Alto Tietê poderá avançar para áreas hoje atendidas pelo Cantareira, como a zona norte da capital, na última etapa da corrida da água.

Moradores culpam ar nos canos por sobretaxa
Queixa de aumento excessivo na conta de água reforça a hipótese
Hidrômetro não mede ar, diz Sabesp; para engenheiro, problema é possível devido à redução da pressão

Felipe Souza de São Paulo

Dezenas de pessoas fizeram fila no guichê de atendimento da Sabesp na sexta-feira (20). A maioria levou a mesma reclamação: aumento excessivo no valor da conta. A suspeita dos clientes é que a diferença tenha sido provocada por uma medição irregular dos hidrômetros.
Uma hipótese é o registro de ar pelo hidrômetro após as reduções de pressão feitas pela Sabesp na capital. Especialistas disseram à Folha que é possível ocorrer o problema.
Dona de uma lanchonete no Pari (centro), Patrícia Aparecida Martins, 41, disse que o valor da conta de água saiu da média de R$ 1.300, registrada em 2014, para R$ 2.500 em fevereiro de 2015.
"De que adiantou eu usar só copos descartáveis e controlar o acesso ao banheiro para economizar?", disse.
Ela afirmou ter contratado um especialista que não detectou nenhum vazamento. "A água acaba todos os dias, mas a conta disparou."
A Sabesp informou ter encontrado problemas no hidrômetro da lanchonete e emitiu uma nova conta conforme a média de consumo de 2014, no valor de R$ 1.112,26.
Na casa da securitária Maria Rosa Câmara, 44, na Vila Mariana (zona sul), o registro de consumo passou de 44 m³ em janeiro para 135 m³ em fevereiro. "Tomei um susto quando vi que a conta pulou de R$ 425 para R$ 2.742 de um mês para o outro [545% ]."
Segundo ela, não houve gasto excessivo ou instalação de nova caixa-d'água, por exemplo. "A Sabesp disse que vai levar até 20 dias para avaliar meu caso." A companhia afirmou que o aumento pode ter sido causado por um vazamento interno e acionou um técnico para verificar o local.

INVESTIGAÇÃO
O promotor de Justiça do Consumidor Gilberto Nonaka instaurou inquérito para investigar o problema, como noticiou "O Estado de S.Paulo" neste sábado (21). A Sabesp tem 15 dias para responder ao Ministério Público.
O engenheiro do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade de São Carlos, Eduardo Cleto Pires, diz que o hidrômetro pode registrar ar como se fosse água na volta da redução de pressão, sobretudo se o imóvel ficar em local elevado.
"Quando o abastecimento é retomado após uma pausa, ele também leva o ar que ficou nos encanamentos. Se o cliente abre a torneira, o ar passa pelo hidrômetro e será contabilizado", disse.
Mas, segundo Pires, esse "gasto falso" só vai causar um aumento significativo na conta se ele ocorrer diariamente.
Especialistas aconselham reabrir as torneiras apenas após o abastecimento voltar. Dessa forma, a quantidade de ar contida nos encanamentos deverá ser insignificante.
A Sabesp afirmou que "a redução de pressão não afeta a medição dos hidrômetros" e que os aparelhos, aprovados pelo Inmetro, "são projetados para registrar apenas o volume de água, e não ar".

FSP, 22/02/2015, Cotidiano, p. C1; C3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209223-aguas-do-rio-pinheiro…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/209227-moradores-culpam-ar-n…

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