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Água cada vez mais suja

CB, Brasil, p.19
23 de Set de 2004

Água cada vez mais suja
Relatório mostra que existem mais de 20 mil áreas contaminadas no país por despejo de material proveniente da atividade industrial

A preocupação das empresas com o lucro está comprometendo a qualidade das águas no Brasil. Relatório divulgado ontem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revela que as águas dos rios, lagos e lagoas do país estão cinco vezes mais poluídas do que há dez anos. Os pesquisadores apontam a existência de mais de 20 mil áreas contaminadas, com populações expostas a riscos de saúde. A principal causa de contaminação é o despejo de material tóxico proveniente das atividades agroindustriais e industriais, responsáveis pelo uso de 90% da água consumida.
O despejo de esgotos urbanos e rurais é a segunda maior causa de poluição. A existência de lixões às margens dos cursos de água aparece em terceiro. O relatório alerta para a falta de controle ambiental quanto a geração, tratamento e destinação final de resíduos gerados no processo produtivo, normalmente acumulados nas margens de cursos de água.
Há dez anos, a poluição era detectada nos cinco quilômetros próximos da costa. Atualmente, os vestígios de emissão de esgoto nas águas oceânicas são verificados a uma distância de até 50 quilômetros da costa. Os resultados do levantamento apontam que, nos próximos dez anos, poderá faltar água para consumo humano nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.
Parte do problema poderia ser amenizada se houvesse uma política eficiente de combate ao desperdício. ''Pior do que o cidadão que lava o carro em frente à calçada é a distribuidora que desperdiça quase 30% de toda a água por causa de problemas técnicos como vazamentos em canos'', acusa Leonardo Moreli, secretário-geral da Defensoria da Água, do ministério do Meio Ambiente.
Casos de câncer
Um dos casos que mais chamou a atenção dos pesquisadores é o da contaminação do Aterro Mantovani, que teria causado danos à saúde de alguns moradores de Santo Antônio da Posse, em São Paulo. O Ministério Público Federal (MPF) encaminhou ontem pedido de instauração de inquérito civil público para investigar problemas causados pela poluição. O procurador da República Alexandre Camanho garante haver registro de casos de câncer e mortes causados pelo alto índice de contaminação das águas.
Com base no relatório divulgado pela UFRJ, Camanho pretende entrar com pelo menos 30 ações cíveis e criminais na Justiça. A idéia é pedir indenização para as populações prejudicadas e garantir auxílio financeiro para tratamento médico dos doentes. O MPF planeja ainda obrigar as 50 multinacionais que atuam na região a trabalhar pela recuperação do meio ambiente.
O relatório é também utilizado como instrumento político para atacar governos estaduais e federal. O trabalho de despoluição do Rio Tiête, em São Paulo, por exemplo, foi alvo de duras críticas. Os ambientalistas reclamam do fato de o governo paulista ter removido mais de cinco milhões de toneladas de material tóxico do rio e depositado na Lagoa de Carapicuíba.
O estudo tece ainda uma teoria conspiratória sobre a presença de soldados do exército americano em solo brasileiro em 2003. Sob a desculpa de auxiliar programas de combate à dengue, as expedições teriam vindo ao país com o objetivo de conseguir informações sobre a localização de fontes de água.

CB, 23/09/2004, Brasil, p. 19

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