VOLTAR

Agenda de ministro privilegia ruralistas e alvos da Lava Jato

FSP, Poder, p. A4
Autor: LEITÃO, Nilson; BUZATTO, Cleber
02 de Mai de 2017

Agenda de ministro privilegia ruralistas e alvos da Lava Jato

CAMILA MATTOSO
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

Ligado ao agronegócio, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), teve sua agenda dominada por ruralistas e alvos da Lava Jato em seus 55 dias de mandato.
Foram cem audiências com integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária e com políticos investigados. Não houve nenhum encontro com representantes indígenas.
Além de ter a Funai (Fundação Nacional do Índio) como subordinada, a pasta tem papel decisivo no processo de demarcação de terras, reivindicação que se intensificou no governo de Michel Temer e tem provocado conflitos nas últimas semanas. Os ruralistas são adversários históricos dos índios em conflitos agrários.
Segundo levantamento feito pela Folha, dos 305 encontros oficiais marcados, 82 foram com ruralistas e 18 foram com deputados e senadores que entraram na lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.
Na última terça (25), quando policiais e índios entraram em confronto durante protesto em frente ao Congresso, Serraglio recebeu dois ruralistas, segundo sua agenda, além do senador Fernando Collor (PTC-AL), um dos alvos do Ministério Público.
Os manifestantes pediam a retomada das demarcações de terras indígenas e a saída do peemedebista do cargo.
Poucos minutos depois de o conflito acabar, o ministro chegou a ir à Câmara para se encontrar com deputados da bancada ruralista.
Na quinta (27), lideranças indígenas foram ao Ministério da Justiça entregar suas reivindicações. A assessoria da pasta afirmou que Serraglio e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) estavam lá para receber os representantes, que recusaram o encontro.
"Não vamos sentar nem com Padilha nem com o ministro da Justiça. Eles queriam nos dar cafezinho e água. Não queremos cafezinho, mas sim a demarcação das terras. Não vamos legitimar um governo que está massacrando nosso povo. Esse ministro da Justiça age em nome dos ruralistas", disse Kretã Kaingang, integrante da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpin).
No Dia do Índio, 19 de abril, Serraglio teve 11 compromissos, dos quais cinco foram com ruralistas.
Em entrevista à Folha logo que assumiu, o ministro criticou indigenistas e disse que os envolvidos em conflitos no campo deveriam parar com a discussão sobre terras, que segundo ele "não enche barriga de ninguém".
Cerca de 30% das doações de campanha de Serraglio em 2014 foram de empresas ligadas ao campo. Ele foi relator da PEC 215, uma proposta de emenda à Constituição que altera o sistema de demarcação de terras indígenas.
OUTRO LADO
A assessoria de Serraglio disse que "não houve solicitação de lideranças indígenas para audiências com o ministro", mas que "vários grupos foram atendidos pela Assessoria Especial do Ministério da Justiça e pela Funai".
A pasta disse ainda que Serraglio trata "constantemente" com o presidente da Funai sobre os assuntos debatidos com as lideranças indígenas.
O ministro respondeu que os encontros com ruralistas "são relativos a diversos temas, como pleitos de doações de equipamentos, destinação de emendas parlamentares para a área de segurança, convênio com a Força Nacional, construção de presídios (...), entre outros. Os pleitos que são exequíveis estão ou serão atendidos".
Serraglio afirmou também que "jamais houve qualquer tratativa a respeito [da Operação Lava Jato]"

Tem que falar só com o índio, diz deputado

CAMILA MATTOSO
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), presidente da bancada ruralista, defende que as entidades indigenistas sejam excluídas do diálogo do governo com os índios. "Eu me considero um defensor indígena."

Folha - O sr. vê alguma distorção na agenda do ministro?
Nilson Leitão - Não há nenhuma distorção, porque eu também me considero um defensor indígena. O que existia antes era um ministério que era ideológico e que confundiu a sua função de Ministério da Justiça para ser um escritório de defesa de alguns setores, das ONGs, de entidades.

Quais são os pleitos que vocês levam ao ministro?
São vários. A Constituição tem uma versão muito clara sobre isso [ele defende tese restritiva a novas demarcações]. Qual é nossa posição? É que não tenha intermediários nesse primeiro momento. Que o governo dialogue diretamente com o índio.

Tribo a tribo?
Chamar o cacique para conversar com eles, não pode mais ser apenas através de entidades.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1880243-governo-deve-dialoga…

Para indigenista, ministro da Justiça favorece o agronegócio

CAMILA MATTOSO
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

Para o secretário-executivo do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Cleber Buzatto, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio favorece o agronegócio.

Folha - Vocês pediram audiência com o ministro?
Cleber César Buzatto - Tivemos demanda de um povo envolvido em uma reintegração de posse. Por enquanto não houve de nosso conhecimento nenhuma audiência de indígenas com o ministério e muito menos com o ministro. Havia demanda das organizações que fazem parte do Conselho Nacional Indigenista para uma reunião em abril, mas o ministério não viabilizou. Nem o conselho, que é um órgão oficial, tem funcionado.

A que o sr. atribui a conduta do ministério?
Isso demonstra a posição muito evidente do ministro da Justiça e do próprio governo Temer de favorecer o setor ligado ao agronegócio.

É preciso intermediação das entidades no diálogo?
Avaliamos que se trata [a defesa da exclusão das entidades] de mais uma estratégia de postergações que não contribui para a resolução dos conflitos.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1880226-para-indigenista-min…

FSP, 02/05/2017, Poder, p. A4

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1880222-agenda-de-ministro-p…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.