VOLTAR

Acampamento Terra Livre: mães indígenas contam ao G1 sonhos e lutas pelo futuro das crianças

G1 https://g1.globo.com/
27 de Abr de 2019

Mais de 4 mil indígenas participaram do Acampamento Terra Livre, em Brasília. De terça a sexta-feira (26), a Esplanada dos Ministérios foi palco de resistência e cultura. Entre o público, estavam centenas de mulheres que escolheram levar os filhos para viverem a experiência de protestar no centro do poder.

Em meio à luta por direitos, os cuidados maternos com os pequenos eram divididos com todos os "parentes" ali presentes. Afinal, como disse a jovem kaingang que veio do Rio Grande do Sul, "toda aldeia se empenha na proteção das crianças, elas são o nosso futuro".

Para falar sobre direitos e futuros desses povos, o G1 conversou com mulheres indígenas, mães e avós, presentes no ato. Ao todo, cerca de 150 etnias enviaram representantes para a 15ª edição do acampamento no DF.

Veja o que essas mulheres indígenas esperam para o futuro de seus filhos e povos:

Jaqueline de Paula, Rio Grande do Sul

Da etnia Kaingang, a jovem Jaqueline de Paula teve o primeiro filho aos 16 anos. Hoje, aos 20, ela participa pela segunda vez do Acampamento Terra Livre.

Para chegar na edição deste ano, a indígena enfrentou 2,1 mil quilômetros de estrada - do Rio Grande do Sul até o Distrito Federal. Desta vez, com a presença do filho, o pequeno Vitor, de 4 anos.

Apesar das dificuldades de viajar de ônibus e enfrentar quase dois dias de percurso, Jaqueline afirma que "vale a pena o esforço". A meta, segunda ela, é "buscar mais direitos pela demarcação de terras indígenas".

A aldeia onde a jovem vive com a família fica a mais de duas horas da capital do estado, Porto Alegre. No local não tem escola e nem postos de saúde, conta. Todo o atendimento de serviços básicos depende da estrutura de outras cidades da região.

"Na aldeia não tem colégio e as crianças de seis anos têm que sair para ir no colégio dos brancos."
Com as dificuldades, a indígena que não chegou a completar o ensino médio, se diz preocupada com o futuro do filho.

"Não seria feliz se precisássemos sair da aldeia para ele estudar."
Jaqueline quer que o filho aprenda sobre as culturas do mundo, mas que também goste de estar entre seu povo.

"Não é a mesma coisa viver lá fora", diz. "Lá dentro me sinto mais à vontade porque têm todos todos os parentes. Se saio, me sinto mal e insegura."

Bruna Xokleng, Santa Catarina

A estudante de nutrição Bruna, do povo Xokleng - de Santa Catarina - vive o mesmo dilema que a moradora do Rio Grande do Sul.

Com um filho pequeno, a jovem de 23 anos contou ao G1 que também se divide entre os cuidados com o bebê, de 1 ano e 4 meses, e as tentativas diárias de manter o vínculo com a aldeia onde nasceu.

Há três anos, ela precisou deixar o povoado, no município catarinense de Ibirama, para fazer faculdade em Florianópolis.

"Penso que vale a pena o esforço porque tudo que eu fizer hoje vai refletir depois nele [filho]", diz.

"Não queria que ele ficasse fora da aldeia, mas hoje em dia tem que sair para estudar e trabalhar e ser alguém."
Em Brasília para participar do acampamento, ela afirma que decidiu marcar presença no ato para representar as estudantes que "sofrem dentro das universidades", explica. "É bem difícil estar lá e permanecer estudando".

Bruna diz que o sentimento é de "estar fazendo algo pelo futuro do filho".

Gilmara Akai, Pará
"Importante que nossos filhos aprendam a estar nessas reuniões". É dessa forma que Gilmara Akai, mulher do povo Munduruku, do Pará, vê a participação do filho de três anos no maior encontro de povos indígenas do país.

É a primeira vez que ela participa do Acampamento Terra Livre, em Brasília. Pelo gramado da Esplanada dos Ministérios, o pequeno Miguel corria livre brincando com seu arco e flecha durante os três dias do evento.

A cada sorriso trocado com a mãe, a criança se mantinha atenta aos movimentos dos mais velhos, já acostumados a manifestações. De mãos dadas, mãe e filho participaram de uma marcha pelo centro da capital, na sexta (26), e gritaram juntos palavras de ordem em defesa dos direitos indígenas.

"Quando ele tiver uns 12 anos, quero que tenha a prática de falar sobre esses assuntos, como fazem os caciques e guerreiros do nosso povo."
Terra Livre
O Acampamento Terra Livre, que é a maior conferência do Brasil sobre povos tradicionais, começou na terça-feira (23) e teve programação até esta sexta (26). O tema, este ano foi "Sangue indígena, nenhuma gota a mais".

O grupo também é contrário à proposta de municipalização dos serviços de saúde e protesta contra medidas recentes do governo federal, como mudanças na Funai- antes vinculada ao Ministério da Justiça.

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/04/27/acampamento…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.