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Acampados em Brasília, mais de três mil indígenas exigem suas terras e direitos

G1 http://g1.globo.com/
Autor: Amelia Gonzalez
25 de Abr de 2018

Mais de três mil indígenas, vindos de aldeias de todo o país, estão reunidos em Brasília para o Acampamento Terra Livre (ATL) de 2018, encontro que acontece anualmente desde 2003, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) com um objetivo direto: lutar pela demarcação de terras indígenas e pela garantia de seus direitos. Antes de passar a contar para vocês as principais notícias que estão acontecendo agora durante o ATL, quero lembrar que, para quem se mobiliza em torno das questões que envolvem um desenvolvimento sustentável (tema principal aqui deste blog), a maneira com que os indígenas cuidam e preservam suas terras é um exemplo.

Não, não estou defendendo que se passe a viver como eles, o que muitos acham que seria um enorme retrocesso civilizatório o que outros, com razão, discordam. A questão aqui, fundamental, é tentar fazer uma espécie de imersão na maneira como eles entendem e respeitam o ambiente em que vivemos. E aprender alguma coisa. Ou muita coisa.

Feito o parêntesis, assumida minha posição, passo às notícias. É preciso, antes ainda, informar que os indígenas falam através das lideranças que escolhem. E as mulheres indígenas foram o principal assunto no primeiro dia do Acampamento, que aconteceu anteontem (23) no Memorial dos Povos Indígenas, na Praça do Buriti, em Brasília. Afinal, entre elas existe hoje uma pré-candidata à presidência pelo PSOL, Sônia Guajajara.

"As falas foram duras: exigiram a demarcação imediata das Terras Indígenas e o fim do ataque aos direitos indígenas. Se os povos indígenas estão entre os mais vulneráveis sob governos que não acolhem as políticas públicas diferenciadas e de garantias constitucionais, é entre as mulheres que os efeitos do problema podem ser piores", contam os repórteres do site Amazônia.org.br.

Os repórteres que estão fazendo a cobertura para a Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro contam que a primeira noite no acampamento foi bem fria e chuvosa. A água entrou nas barracas armadas nos jardins do Memorial e muitos rituais foram feitos para defender os povos de um mal maior.Na fala dos indígenas captadas pelas câmeras do vídeo feito pela equipe do site da Mobilização Nacional Indígena, a mágoa está sempre presente e deixa mais do que aparente uma relação ainda muito complexa com o povo branco, ou não-índio, como eles gostam de falar:

"A gente sai de casa e vem preparado sabendo que não vai ser fácil. É chegar aqui e ninguém vai abrir as portas pra nós. Engraçado que quando chegamos aqui eles fecham as portas pra gente, mas quando eles querem invadir nosso território, eles querem invadir sem consultar ninguém"

"Quando o Brasil foi invadido, que o Cabral invadiu, a gente habitava aqui no Brasil. E hoje a gente continua lutando para poder defender o restante do nosso território".

"O fazendeiro fala que ele tem um título de terra de duzentos anos. Se o título de terra dele tem duzentos anos, o nosso é de mil, mil e quinhentos, três mil anos atrás. Quando agimos na defesa desse direito, somos criminalizados".

Como sempre acontece, o acampamento está sendo marcado por protestos, encontros, debates. No segundo dia, lideranças foram recebidas em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Lá o assunto foi a PEC215, o grande temor dos índios, já que tira deles a última palavra sobre demarcações, passando isso para as mãos do Congresso. Há hoje um passivo de 836 terras indígenas a serem demarcadas:

"No atual governo, composto não somente pelos cargos ocupados pelo Executivo, mas também caracterizado por uma forte influência do legislativo, dominado pela bancada ruralista, os processos de demarcação estão tomando o caminho contrário, quando não simplesmente paralisados", diz o texto do blog da Mobilização.

Índios precisam de terra para viver, é dela que tiram seu sustento. Qualquer empreendimento que invada um pouco que seja de espaço onde eles podem pescar e plantar, faz um estrago danado em sua rotina. Pensando em tornar mais clara essa situação, a tribo dos Munduruku aproveitou o encontro para lançar um mapa, sugestivamente chamado de "Mapa da Vida".

"O mapa da vida nasce da indignação dos Munduruku ao ouvirem do governo que a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós iria alagar 'apenas 7%' da terra indígena Sawre Muybu. O que parecia pouco aos olhos do governo e dos empreendedores envolvidos com o licenciamento da usina era - e é - inegociável para os Munduruku. Pedir que abram mão de seu território é pedir que abram mão do seu modo de vida e de sua relação com o Rio Tapajós e suas florestas", diz o texto do Mapa, feito em parceria com o Greenpeace.

Hoje, no terceiro dia de Acampamento, a luta continuou. Dessa vez, foi para tentar evitar que uma ferrovia corte as bacias do Xingu e Tapajós, entre Mato Grosso e Pará. Chamada de Ferrogrão, ela vai ter quase mil quilômetros de extensão, partindo da região produtora de cereais de Sinop (MT) e chegando aos portos de Miritituba (PA), para consolidar o novo corredor ferroviário de exportação de soja pelo Norte do país. Não há como não impactar a vida dos indígenas que moram nesse trajeto, e a maior indignação é com o fato de eles não terem sido consultados.

"Temos o nosso protocolo no Xingu. Os interessados em fazer a ferrovia têm que fazer a consulta. Estamos preparados para isso", afirma Wareaiup Kaiabi, presidente da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), para o blog da Mobilização.

A exoneração do presidente da Funai Franklimberg de Freitas, exatamente na época do ATL, também foi um assunto que mereceu a atenção dos indígenas. Segundo comentários nas redes sociais, a exoneração foi feita a pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), composta por 252 parlamentares, entre deputados e senadores. Mas a demanda teria sido de outros indígenas, considerados "ruralistas". Há um imbróglio aí que precisa ser entendido.

O tema do Acampamento, que termina na sexta-feira (27) é "Unificar as lutas em defesa do Brasil Indígena - Pela garantia dos direitos originários dos nossos povos". Está acontecendo num momento percebido pelo movimento indígena nacional como o maior ataque aos direitos indígenas desde a promulgação da Constituição Federal em 1988.

Sempre que o tema aquecimento global versus desenvolvimentismo vem à tona, é inevitável que o estilo de vida indígena seja citado como exemplo, como eu disse no início do texto. Mas tem sido também inevitável uma absurda e incoerente falta de respeito aos hábitos e costumes que ajudem a preservar mais o meio ambiente, coisa que os indígenas têm muito a ensinar. Uma pena.

http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/acampados-em-b…

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