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7 em cada 10 praias impróprias estão em áreas urbanas

FSP, Cotidiano, p. B8-B9
21 de Dez de 2017

7 em cada 10 praias impróprias estão em áreas urbanas

JOÃO PEDRO PITOMBO
DE SALVADOR
MARCELO TOLEDO
DE RIBEIRÃO PRETO
CAROLINA LINHARES
DE BELO HORIZONTE
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Salvador é como um triângulo com dois lados banhados pelo mar. Mas, de suas 37 praias, 26 são consideradas ruins ou péssimas para o banho. A situação da capital baiana reflete o cenário de outras grandes cidades litorâneas: sete em cada dez praias poluídas no país estão em cidades com mais de 100 mil habitantes.
A situação será mais visível neste verão, estação que começa pontualmente às 14h28 (horário de Brasília) desta quinta-feira (21).
Levantamento da Folha, com dados sobre a presença de bactérias nas águas de 1.217 praias em 13 Estados do litoral, aponta que, de janeiro a outubro deste ano, 335 praias foram consideradas ruins ou péssimas, sendo 234 delas (cerca de 70%) em cidades grandes ou médias.
A classificação anual das praias, baseada nos níveis semanais ou mensais de coliformes, porém, trata-se de uma média. Ou seja, mesmo praias consideradas boas ou regulares podem apresentar riscos.
São consideradas péssimas aquelas que estiveram impróprias em mais de 50% das medições do período. São ruins as que estiveram impróprias entre 25% e 50% das vezes, e regulares, as impróprias em até 25% das coletas. As boas são aquelas que não estiveram impróprias em nenhuma das medições.
A concentração de praias sujas em áreas urbanas resulta de fatores como deficiências na coleta e tratamento de esgoto e a poluição dos rios.
"No litoral de São Paulo, por exemplo, a qualidade da água da praia reflete a quantidade de pessoas no litoral. Quanto mais gente, mais esgoto", afirma Cláudia Lamparelli, gerente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Empresas de saneamento da Bahia e de Santa Catarina apontam as ligações de esgoto clandestinas e crescimento desordenado das cidades como principal problema.
O enfrentamento requer investimento pesado em saneamento, que teve cortes orçamentários por causa da crise.
Em comparação com o ano passado, o resultado é um cenário de estagnação da qualidade das praias neste ano.
Entre as 1.217 praias monitoradas em 2017, 43% estavam boas, 30% regulares, e 28% ruins ou péssimas. Ou seja, de cada dez praias, cerca de três estavam ruins ou péssimas. Em 2016, 29% de 1.180 praias tinham essa situação.
MIGRAÇÃO PRAIANA
Entre as dez capitais com dados da chamada balneabilidade, quatro não têm nenhuma praia própria em todas as medições: Fortaleza, Recife, São Luís e Vitória.
Em Salvador, só quatro praias estiveram boas em todas as medições. São as mais afastadas do centro. Já as que ficam na região central, como Barra, Ondina e Rio Vermelho, têm qualidade ruim. No Rio, praias da zona sul como Copacabana, Ipanema e Leblon são apenas regulares.
Isso resulta numa "migração de fim de semana" de turistas e moradores para locais menores e mais distantes.
De Salvador, o destino é o litoral norte, onde fica, por exemplo, a Praia do Forte. Já Fortaleza perde espaço para destinos como Jericoacoara.
Das 522 praias consideradas próprias em 100% das coletas e classificadas como boas em 2017, 369 (cerca de 70%) estão em cidades com menos de 100 mil habitantes.
Também há exceções em cidades pequenas, como Bombinhas (SC), com 14 mil habitantes e trechos impróprios.
O banho em locais que não têm condições adequadas aumenta a chance de contaminação por vírus e bactérias. A doença mais comum é a gastroenterite, que causa enjoo, diarreia, dor de cabeça e febre.
Outros problemas são micoses e infecções nos olhos e ouvidos. Crianças e idosos são mais suscetíveis.
Questões sazonais também provocam variação na qualidade das praias. Temperatura, luminosidade e principalmente a chuva determinam a presença de bactérias na água.
"Quando chove, a gente já fica esperando um valor mais alto [de coliformes fecais]. A água de escoamento superficial lava tudo que está na cidade e leva para canais e córregos, que terminam no mar", diz Lamparelli.
Foi o que aconteceu na praia do Farol da Barra, em Salvador, que amanheceu no último domingo (17) com um córrego de água esverdeada cruzando a areia.
No final de semana, a praia foi considerada imprópria pelo Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), órgão ambiental da Bahia. Mesmo assim, estava cheia. Turista de Pernambuco, o estudante Erles Vieira, 22, não deixou de frequentar o local. "A praia me pareceu limpa em comparação às que costumo ir no Recife", disse.
Já o recepcionista Carlos Roberto Santos, 33, manteve sua rotina de surfe: "Frequento deste criança, não vou mudar isso".

Esgoto ameaça praias no litoral norte de SP

REGINALDO PUPO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SÃO SEBASTIÃO (SP)
MARCELO TOLEDO
DE RIBEIRÃO PRETO

Sem saber exatamente onde pisavam, o publicitário Maurício Sena Alves, 31, e sua namorada, Regina Dantas da Silveira, 28, recolhiam conchinhas num trecho da badalada praia de Maresias, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, a 191 km da capital.
Uma placa, não vista pelo casal, indicava a poluição no trecho onde o rio deságua no mar. "A água é tão limpinha que é difícil acreditar que jogam esgoto aqui", afirmou Regina, que usaria as conchinhas em trabalhos artesanais.
Com despejo de esgoto clandestino, o litoral norte paulista tem pontos de praias ruins e péssimos, mas em sua maioria está em condição própria para banho, com avaliações boas e regulares, de acordo com levantamentorealizado pela Folha.
Em Ilhabela, a praia de Itaquanduba teve ponto considerado ruim, assim como duas praias de Ubatuba (Picinguaba e Itaguá) e uma de São Sebastião (Prainha) -Caraguatatuba (também Prainha).
Todas elas pioraram a classificação em relação à balneabilidade de 2016, já que eram consideradas regulares.
Em Maresias, o trecho em que o casal pegava conchinhas está poluído com esgoto despejado clandestinamente no mar, numa região com um dos metros quadrados mais caros do país.
Segundo a Associação de Amigos Canto do Moreira, o rio no canto direito da praia, conhecido como Canto do Moreira, tem diversos pontos de descarga provenientes de casas simples, de médio padrão e de condomínios de luxo.
"Temos laudos que comprovam que os despejos ocorrem pelo menos desde 2008. Já fizemos diversas denúncias à prefeitura, mas nenhuma providência foi tomada", diz Rony Figueiredo, presidente da entidade.
Um estudo, feito em julho por empresa contratada, identificou dez pontos comprovados de descarga de esgoto e outros 15 suspeitos.
Alguns dos canos de PVC são enterrados ou escondidos sob a vegetação para dificultar a fiscalização. "É lamentável que uma praia tão famosa esteja nessa situação. Pior que surfei o dia todo aqui e não sabia", disse Pedro Lima, 22.
Apesar da poluição do mar, a Cetesb, a companhia ambiental paulista, classifica a praia de Maresias, que tem dois pontos de coleta, como própria para banho. Milhares de turistas são esperados para a temporada de verão.
EXTREMIDADES
O problema, para o engenheiro agrônomo André Mota Waetge, membro da associação, é que a Cetesb realiza a coleta de amostras no meio da praia, enquanto o esgoto é despejado nas extremidades."A bandeira sempre aparece verde e o turista acredita que a água está limpa", disse.
A Cetesb informou que segue critérios técnicos para a definição dos pontos de amostragem e que desde o mês de março um novo ponto de coleta, localizado em frente à Travessa Quinze, passou a fazer parte do programa de balneabilidade.
A medição indicou boa qualidade no local. Dos 30 pontos monitorados no município, 20 são considerados bons, 9 regulares e 1 ruim.
Já a Prefeitura de São Sebastião informou que fiscaliza as praias da cidade, atendendo a denúncias. Neste ano, conforme a administração, foram gerados 178 autos de fiscalização decorrentes de lançamento de esgoto em corpos d'água e galerias pluviais.
EXCEÇÃO
Em todo o litoral norte, dos 97 pontos de medição, há apenas um classificado como péssimo. Ele fica em Ubatuba, em frente ao número 1.724 da avenida Leovegildo Vieira, na praia de Itaguá. Em 2016, já estava nessa situação.
Dos 33 pontos da cidade, 22 estavam bons entre janeiro e outubro deste ano, 8 regulares, 2 ruins e 1 péssimo.
Já em Ilhabela, além do ponto considerado ruim, há outros 18 monitorados pela Cetesb, dos quais 7 foram avaliados como bons e 11, regulares. Oito dos 15 locais monitorados em Caraguatatuba foram tidos como bons, ante 6 regulares e 1 ruim.

FSP, 21/12/2017, Cotidiano, p. B8-B9

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/12/1945035-pais-tem-70-das-…

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/12/1945032-esgoto-ameaca-pr…

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