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60% da mata a ser derrubada é nativa

FSP, Cotidiano, p. C3
31 de Out de 2009

60% da mata a ser derrubada é nativa
Após a construção da estrada-parque, governo terá de plantar mesmo número de árvores derrubadas e mais de 300 mil mudas
Entre as árvores que serão cortadas, há espécies como guaçatomba, capororoca, leucena, santa bárbara, aroeira e quina-do-mato

José Ernesto Credendio
Alencar Izidoro
Da reportagem local

Uma obra prevista para compensar os estragos ambientais da ampliação da marginal Tietê vai precisar de sua própria compensação ambiental, já que sua construção vai exigir a derrubada de 8.137 árvores, quase 60% delas nativas do Estado.
Trata-se de uma estrada-parque, com uma ampla ciclovia que margeará o rio Tietê da região da Penha, zona leste da capital, até Itaquaquecetuba, município da Grande São Paulo.
É mais um capítulo da polêmica que cerca a ampliação da marginal, projeto estimado em R$ 1,86 bilhão, que deve ficar pronta em março de 2010. O valor inclui os R$ 89 milhões que serão gastos na estrada-parque.
A Nova Marginal, nome do projeto, é um convênio entre o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e foi planejada para reduzir os congestionamentos.
Na obra da marginal, serão eliminadas 559 árvores. Ainda serão impermeabilizados 19 hectares (30 campos de futebol) de solo, prejuízo que o governo considera mínimo tanto do ponto de vista de perda de vegetação como de terrenos para infiltrar a água da chuva.
Foi por conta desses danos ambientais que a Secretaria do Verde exigiu a estrada-parque.
O problema é que, para a construção dessa estrada-parque, com uma ampla ciclovia, o governo teria de escolher entre desapropriar um grande número de imóveis ou então ocupar o espaço mais arborizado às margens do rio. Optou-se pela opção mais barata: derrubar a vegetação.
Entre as árvores que serão sacrificadas na construção da estrada-parque há exemplares de espécies como guaçatomba, capororoca, leucena, santa bárbara, aroeira e quina-do-mato.
A compensação para esse estrago será o plantio na área do mesmo número de árvores cortadas. Todas devem ser de espécies nativas. O governo também terá de entregar um lote de outras 338.011 mudas, no mesmo local, de espécies nativas.
Caso haja atraso, a prefeitura e o governo, que tocam a obra juntos, terão de entregar outras 50 mudas por dia de demora.
Paulo Vieira de Souza, diretor de engenharia da Dersa, empresa estadual de transportes, disse na semana retrasada que havia sido pego de surpresa com as novas exigências de compensação ambiental. Afirmou que as considerava "salutares", embora "onerosas".
"Tem duas formas de fazer compensação. Tem aquela que proíbe tudo. E aquela que paga quase que uma multa por aquilo que vai fazer. Em vez de proibir, ele [poder público] pede contrapartida para melhorar a cidade. Como cidadão, acho sensacional", disse. "Para cada trecho que tem desmatamento passa a ter compensação. Tem repique em cima de repique."
O ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), porém, vê problemas no processo e diz que isso só ocorre por causa do "desmonte" da estrutura de licenciamento ambiental do Estado.

outro lado

Desmate foi opção à remoção de casas, diz pasta

Da reportagem local

A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, responsável pelo licenciamento da estrada-parque, diz que a necessidade de cortar 8.137 árvores se deve à mudança no traçado da via, que ladeia o Tietê.
O traçado original, afirma a secretaria, ocasionaria a remoção de um número muito grande de famílias na região. Além do impacto social, as remoções ainda aumentam o custo com desapropriações e o reassentamento das famílias.
A solução, afirma a secretaria, foi ampliar uma estrada já existente no Parque Ecológico do Tietê. As árvores que serão sacrificadas ficam no caminho escolhido para o projeto.
A secretaria diz também que esse novo desmatamento terá sua compensação, com o plantio do mesmo número (8.137) de árvores de espécies nativas na região. Também foi exigida a entrega de 338.011 mudas para complementação das obras e serviços necessários na implantação da ciclovia.
Ainda segundo a secretaria, as árvores que serão cortadas fazem parte de um "fragmento florestal em estágio inicial de regeneração natural, sendo de porte baixo e pequena diversidade de espécies".
A Dersa, estatal que conduz a ampliação da marginal em conjunto com a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras, também diz que, no conjunto, a ampliação da marginal e suas compensações trarão ganhos, e não perdas ambientais para a Grande São Paulo.
Em nota, a Dersa afirma que "nos próximos 20 anos essas árvores deverão ter absorvido 15 mil toneladas de carbono (número baseado em pesquisa do Instituto Florestal de São Paulo)". No total, haverá mais 150 mil árvores na região.
O governo diz ainda que a redução dos congestionamentos vai reduzir a poluição.

FSP, 31/10/2009, Cotidiano, p. C3

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