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1 g de solo tem 1 milhão de bactérias

OESP, Vida, p. A20
26 de Ago de 2005

1 g de solo tem 1 milhão de bactérias
Número de espécies é muitíssimo maior do que se imaginava, revela estudo de cientistas americanos publicado na 'Science'

Herton Escobar

Pegue todas as espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos conhecidos da Amazônia. Agora triture tudo e tente encaixar o que sobrou dentro de um pacotinho de açúcar. Só assim, talvez, seja possível ter uma idéia - ainda que muito distante - da biodiversidade de microrganismos que podem ser encontrados em um único grama de solo: 1 milhão de espécies de bactéria, segundo um estudo publicado hoje na revista Science.
Até recentemente, acreditava-se que esse número era de "apenas" 10 mil espécies - um paradigma estabelecido em 1990 por um grupo de pesquisa na Alemanha. Agora, cientistas do Laboratório Nacional de Los Alamos (LANL), nos Estados Unidos, produziram um número ainda mais impressionante. A partir de novas metodologias computacionais, eles reavaliaram os dados da equipe alemã e chegaram a um número de espécies cem vezes maior.
"É uma floresta tropical inteira na palma da mão", diz o microbiólogo Tom Schmidt, especialista da Universidade do Estado de Michigan (MSU). Na verdade, muito mais do que isso: o número de espécies animais conhecidas no Brasil inteiro gira em torno de 150 mil, segundo algumas estimativas.
VIA-LÁCTEA
As comparações podem ir ainda mais longe: o número de micróbios em 1 tonelada de solo, segundo os novos cálculos, é maior do que o número de estrelas na Via-Láctea (1016 ante 1011, respectivamente). "A exploração da diversidade microbiana está se tornando mais parecida com a exploração do espaço, na qual o solo represente a 'última fronteira', habitada por um universo microbiano largamente desconhecido", escrevem os pesquisadores Tom Curtis e W. T. Sloan, em artigo que acompanha o estudo na Science.
Calcular números de espécies é sempre algo complicado, especialmente quando se fala de seres microscópicos. As bactérias são o grupo de organismos mais diversificado do planeta, mas ninguém sabe dizer ao certo quantas espécies existem. "Essa é justamente uma das grandes perguntas pendentes", disse ao Estado o pesquisador John Dunbar, que coordenou o estudo no LANL. "Não dá nem para dar um chute."
A estimativa para 1 grama de solo serve como indicador. A amostra original foi tirada de um campo agrícola na Alemanha, mas a biodiversidade microbiana certamente varia de solo para solo.
O mais importante do estudo, segundo os pesquisadores, foi a metodologia estabelecida para chegar ao novo resultado. Antes, os cientistas defendiam que o número de bactérias de cada espécie na amostra era basicamente o mesmo. O novo cálculo, entretanto, considera que a quantidade de indivíduos varia entre as espécies.
Para fazer o estudo não foi preciso - nem seria possível - cultivar todas essas bactérias. A estimativa é feita a partir de processamentos do DNA presente na amostra. "Finalmente temos um método eficiente para calcular diversidade bacteriana", afirma Dunbar. Segundo ele, trata-se de uma ferramenta importante para estudos comparativos sobre o impacto de atividades humanas na biodiversidade dos solos, incluindo mudanças climáticas, poluição e erosão.

OESP, 26/08/2005, Vida, p. A20

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