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Os sistemas agrícolas tradicionais nos interstícios da soja no Brasil: processos e limites da conservação da agrobiodiversidade.

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A expansão do agronegócio em todas as regiões do Brasil desafia o futuro dos sistemas agrícolas tradicionais. Este artigo pretende identificar os processos pelos quais agricultores tradicionais mantêm a diversidade agrícola na fronteira da soja no Brasil. Os dados foram obtidos a partir do levantamento e mapeamento das práticas agrícolas e da agrobiodiversidade junto a 113 agricultores indígenas, quilombolas e camponeses em seus respectivos territórios do Sul, Norte e Nordeste do país. A diversidade agrícola nos interstícios da soja (entre 66 e 188 espécies e variedades cultivadas) resulta da produção contínua de conhecimentos nos espaços oriundos da agricultura de corte e queima. Os conhecimentos agrícolas tradicionais configuram uma fronteira heterogênea, onde os interstícios cultivados por comunidades revelam-se como ilhas de agrobiodiversidade em um mar de monoculturas. Longe de serem opostos à modernidade ou à economia de mercado, os conhecimentos agrícolas tradicionais consistem em processos de inovação que residem na combinação engenhosa entre práticas e variedades "antigas" e "modernas". Assim, o conceito de conservação dinâmica permite ir além da ideia comum da substituição de variedades locais por cultivares comerciais, ou da "erosão" dos conhecimentos tradicionais frente ao avanço do agronegócio. Por outro lado, mesmo em territórios tradicionais relativamente estabilizados, a conservação dinâmica da agrobiodiversidade é ameaçada pelos impactos ambientais da expansão da soja. Por mais que as formas tradicionais de praticar a agricultura sejam ainda operantes nestes interstícios, um processo extra-territorial de desqualificação dos conhecimentos agrícolas locais ameaça os sistemas agrícolas tradicionais, por causa da aceleração dos ritmos e escalas de mudanças ambientais. Assim, medidas de reconhecimento, proteção e monitoramento dos territórios tradicionais são condições básicas para que a(o)s agricultora(e)s sigam conservando a agrobiodiversidade de forma dinâmica.