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A luta esportiva nos rituais pós-funerários: corporalidade, chefia e disputa política no Alto Xingu.

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Este artigo propõe uma revisão conceitual e etnográfica sobre a luta corporal alto-xinguana (kindene), que encerra os rituais pós-funerários em homenagens aos chefes (egitsü). Organizado segundo um intrincado sistema de convites, trocas e formalidades, o ciclo interétnico do egitsü tem na kindene seus momentos de mais intensa interação entre os povos da região. As relações entre donos, aliados e convidados, ancoradas no aparentamento dos chefes com os falecidos homenageados, determinam a formação dos times anfitriões e seus adversários, implicando um cenário de ‘mistura’ e diferenciação. A dinâmica dos combates separa a apresentação dos campeões, potenciais ‘substitutos’ dos chefes atuais, dos lutadores comuns. Tal separação, reflexo da fabricação dos corpos e reclusão diferenciada em famílias de chefes, garante visibilidade aos campeões, parte de um processo dialético entre exibição pública de performances e confinamento doméstico para produção de pessoas. Neste artigo, a kindene não será analisada como epifenômeno do ritual, ‘arrefecimento de tensões’ ou ‘válvula de escape’ para os conflitos intra e interétnicos – perspectiva que orientou trabalhos que passaram pelo tema –, mas como um modo de construção da chefia por meio de biografias, contendas políticas locais e regionais, rivalidades históricas que atravessam gerações e transformações que consolidaram o sistema regional alto-xinguano.