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Zoólogo americano paga propina para preservar floresta

G1- g1.globo.com
Autor: Claudia Dreifus do 'New York times'
06 de Nov de 2008

Em entrevista, Stuart L. Pimm fala de suas ações para conter a extinção.
A maioria dos resultados positivos está localizada no Brasil.

Para um homem cuja especialidade de estudo é um dos assuntos mais desagradáveis no planeta, a extinção, Stuart L. Pimm é surpreendentemente animado. Recentemente, durante uma manhã quando visitava a cidade de Nova York, Pimm, um zoólogo de 59 anos, estava cheio de histórias sobre muitos dos lugares para onde viaja: África do Sul, Madagascar e, até mesmo, Sul da Flórida, onde tenta salvar a Pantera da Flórida, que está em perigo. Menos de 100 sobrevivem na natureza. Em 2006, Pimm, professor titular de Conservação Ecológica da Escola Dóris Duke, na Universidade de Duke, ganhou o Prêmio Heineken para Ciências Ambientais, o Nobel para o mundo da ecologia.

Pergunta: Como uma pessoa faz da extinção o centro de sua vida profissional?
Pimm: Em 1978, eu fui ao Havaí, que é supostamente um paraíso tropical. Gosto de pássaros e estava empolgado para entrar na floresta e ver a famosa fauna e flora das ilhas. Ali estava o rico arquipélago, no meio do Pacífico, cheio de plantas e pássaros maravilhosos (um lugar supostamente até mais rico do que Galápagos em diversidade natural). Eu trazia livros sobre a fauna e flora, todos publicados no início dos anos 1970. Mesmo assim, quando estava na floresta Havaiana, tive um choque: meus livros estavam listando espécies que estavam extintas (ou entrando em extinção). Eu ficava na floresta seis dias por semana e pensava, "se dedicar tempo suficiente, certamente verei as espécies que ainda faltam". Mas eu vi muito pouco. Na verdade, no Havaí hoje, eu diria que existem apenas dez espécies de pássaros nativas restantes e outras dez tentando sobreviver. Então, de repente, esse assunto de extinção pareceu ser muito real. Quando encontrava biólogos para conversar, havia sempre a mesma conversa: "Você imagina como era o Havaí antes, com 150 espécies de pássaros e 1500 de plantas?" Aquilo mudou minha vida.

Pergunta: Como isso aconteceu?
Pimm: Bom, eu percebi que extinção era algo que poderia estudar como cientista. Eu poderia perguntar, por que espécies entram em extinção?”, como isso acontece?” e quão rápido isso acontece?” Com essas informações em mãos, alguém poderia fazer algo sobre isso. Eu agora passo muito tempo em Washington, trabalhando para ter leis que protejam as espécies. Eu treino jovens para fazerem o mesmo. Sempre digo para meus alunos que, se eles quiserem se tornar biólogos ambientalistas, devem estar preparados para ir ao mato amanhecer para colher amostras e depois vestir terno à tarde para conversar com um político.

Pergunta: Quais animais você diria que, nesse momento, estão em maior risco no mundo?
Pimm: Há simplesmente muitos para citar. Algo como 12 % de todos os pássaros, um terço de todos os anfíbios e, provavelmente, um número parecido de plantas estão em risco sério. E mais, cerca de um 1% de todas as espécies do planeta estão tão em perigo que se não fizermos a coisa certa imediatamente elas serão extintas em uma década. O boto chinês foi declarado extinto o ano passado. Outro boto pequeno do Mar de Cortez está em perigo imediato.

Pergunta: O quê uma pessoa pode fazer para parar as extinções?
Pimm: Uma das coisas que eu fiz foi iniciar uma organização não governamental (ONG) chamada SavingSpecies.org. Ela faz o que o titulo fala. Nós temos trabalhado com grupos conservacionistas locais e governos do Brasil e de Madagascar fazendo uma variedade de projetos que esperamos interromper as extinções em potencial. Uma das coisas que sabemos é que muitas espécies em perigo vivem em áreas grandes. Mas a população de animais fica fragmentada por causa do uso da terra para o cultivo. Os animais isolados não podem encontrar parceiros. Então, tentamos comprar terra próxima a esses ambientes fragmentados para tentar criar corredores e integrar os animais selvagens.

Pergunta: Já obteve sucesso?
Pimm: Sim. Na costa Atlântica do Brasil, nós estamos tentando salvar o mico-leão dourado, um primata em risco que tem o tamanho de um gato doméstico. Ano passado, com o envolvimento de grupos conservacionistas locais, nós ajudamos na compra de cerca de 110 hectares de pasto bovino que separavam duas áreas de habitat natural. Este pasto recebe árvores. As duas áreas logo poderão se conectar e será possível alguém solitário encontrar um parceiro e se multiplicar. Em outra área na América do Sul, não vou citar o nome, tem havido uma imensa retirada de madeira ilegalmente. Por quê? Porque um chefão local estava recebendo dinheiro de madeireiras. Meus amigos e eu decidimos dar a ele um valor mais alto e nós paramos com corte de madeira ilegal. Talvez nós vamos queimar no inferno por pagar propina, mas ajudou os animais e a população indígena, que está sujeita a muitas coisas ruins. Em termos de custo beneficio, foi um bom negócio.

Pergunta: Seu grupo tem trabalhado muito com a população indígena. Por que isso é importante?
Pimm: Porque quando se separam áreas para reservas indígenas, se reduz o desflorestamento. Tem outro projeto no norte da Amazônia que meu grupo está envolvido. Essa área esta habitada por uma população indígena que tem direitos legais sobre a terra de sua tribo. Recentemente, exploradores vieram a essa área, querendo transformar as florestas que cercam sua tribo (local onde essas pessoas caçam e pescam) em campos de arroz. Eles dizem que ninguém é dono da floresta. Então meus alunos brasileiros e uma missão católica têm ensinado aos adolescentes da tribo o uso de tecnologias modernas, como posicionamento global, o GPS. A idéia é de que o GPS pode ajudar a registrar onde eles caçam e pescam e isso definiria quais são suas terras e fronteiras. Esse é um exemplo de que quando ajudamos os locais a manter suas tradições, ajudamos a fauna e a flora a sobreviver.

Pergunta: Como você financia SavingSpecies.org?
Pimm: Nós levantamos fundos de maneiras tradicionais, mas também vendemos créditos de carbono para doadores simpatizantes. Como você sabe, quando se restauram florestas, se absorve CO2 da atmosfera. Existem pessoas que gostariam de ser neutras em carbono, não gostam de queimar mais carbono do que absorvem. Então, se alguém compra uma passagem de avião e se sente mal por todo o carbono que estão emitindo durante o vôo, vendemos a eles créditos de carbono do reflorestamento que fizemos. Nós esperamos que essa gentil troca seja eventualmente uma obrigação financeira em partes do mundo.

Pergunta: Você é religioso?
Pimm: Eu sou um cristão que acredita. "Deus amava tanto o cosmos que deu a ele seu único filho". Esta é uma citação do São João. Para mim, isso diz que cristãos têm a obrigação de tomar conta do mundo. Nós não podemos levar espécies à extinção e destruir florestas e oceanos arbitrariamente. Quando fazemos isso, estamos destruindo a criação de Deus. Dito isso, Eu não sou vegetariano. Eu gosto de um bom bife de vez em quando. Eu abato gado? Sim.

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