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Yanomami pedem ao Exército que proteja a Terra Indígena Yanomami

CCPY-Comissão Pró Yanomami -Boa Vista-RR
25 de Mai de 2005

Os Yanomami querem o Exército como parceiro na defesa das fronteiras do país e no combate às invasões de suas terras. Esse desejo foi manifestado pelos líderes da região do Demini ao Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, General Paulo Studart que, a convite de Davi Kopenawa, visitou no último dia 11 de maio a Maloca de Watoriki , juntamente com oficiais militares, representantes da Igreja, da Funai e da Funasa. O grupo foi acompanhado pelo representante da Comissão Pró-Yanomami (CCPY) em Roraima, Ednelson Souza Pereira, e da coordenadora pedagógica do Projeto de Educação Intercultural (PEI) da CCPY, Ângela Kurovski.

"Eu não quero a roupa de vocês, eu gosto de me vestir como Yanomami. Eu quero apenas ser Yanomami e viver sem medo dos garimpeiros na minha casa. Eu quero que o Exército ajude a proteger os Yanomami", declarou ao General o ancião Justino Yanomami num discurso traduzido para o português pelos professores yanomami Dário e Anselmo.

Além de lideranças tradicionais, vários professores e agentes yanomami de saúde destacaram a importância de preservar a Terra Indígena e o papel que o Exército pode ter nessa preservação. Para eles, quando o Exército protege as fronteiras e vigia a região, controlando a presença de invasores não indígenas, ele também ajuda a resguardar o Povo Yanomami e pode contar com a sua parceria.

Davi Kopenawa deixou claro ao General Studart que os Yanomami não são em princípio contrários às obras de ampliação da pista de pouso de Surucucus. No entanto, querem que sejam definidas medidas cuidadosas de proteção, em particular, no que se refere à saúde e ao meio ambiente, e seja estabelecido o prazo mais curto possível para a construção. "Nós temos medo que venha gente brava, que traga doenças. Nós não somos contra o Exército proteger a fronteira, como muitas vezes dizem por aí. Pelo contrário, proteger a fronteira das invasões é bom para os Yanomami. Nós ajudamos a proteger a fronteira, expulsamos muitos garimpeiros daqui, mas nós temos medo das doenças dos brancos", afirmou Davi, que fez ainda um apelo ao oficial: "Você tem um coração bom, vem conversar com os Yanomami, queremos que você fale sobre nossas preocupações para o general que vai substituir você". Garantiu também que o interesse dos Yanomami em defender as florestas como patrimônio do Brasil é o mesmo dos militares.

Davi reafirmou que as declarações de que os Yanomami têm interesse em criar um estado separado com o apoio de estrangeiros não passam de mentiras de quem quer destruir e roubar a floresta por conta própria. Pediu ao General que não deixe as crianças não indígenas acreditar nessas inverdades que continuam alimentando ódio e desconfiança contra os povos indígenas. Para Davi, são essas mentiras propagadas por interesses econômicos escusos que insuflam o preconceito da população de Roraima contra os povos indígenas.

Na reunião, o General Paulo Studart reafirmou seu apoio às iniciativas dos Yanomami e também aos trabalhos realizados por aqueles que os apóiam. O representante da CCPY, Ednelson Pereira, resumiu para os convidados a atuação da entidade desde a sua criação em 1978. A maior preocupação da CCPY, afirmou Ednelson, é com a garantia da integridade física e cultural dos Yanomami, garantia que passa pela defesa de sua terra. Acrescentou que o papel fundamental da entidade é preparar os Yanomami para a defesa autônoma dos seus interesses e direitos através de educação, capacitação e apoio às associações yanomami. A coordenadora pedagógica, Ângela Kurovski, apresentou o Programa de Educação da CCPY e o seu empenho em formar jovens professores yanomami e garantir o acompanhamento pedagógico das escolas na terra indígena.

No encontro, Fátima Yanomami, esposa de Davi Kopenawa, em nome das mulheres da comunidade, destacou a importância do papel feminino como pilar da continuidade da sociedade yanomami e salientou também aí a importância da preservação da terra indígena: "Nós queremos que o Exército ajude a proteger nossa terra, nossa floresta, para que nossos filhos cresçam sem doenças e sem mortes", afirmou e pediu a atenção especial dos visitantes para que reparassem como as crianças da aldeia estavam sadias, acrescentando: "Nós não queremos que os brancos formem vilas aqui, pois nossos filhos poderão pegar doenças e morrer".

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