VOLTAR

Yanomami fazem exame para identificar vírus

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=74133
Autor: ANDREZZA TRAJANO
12 de Nov de 2009

A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) coletou amostra de sangue de quatro índios Yanomami brasileiros para verificar se eles estão infectados com o vírus da Influenza A (H1N1), a chamada gripe suína. Se confirmado, este será o primeiro registro da doença em populações indígenas tradicionais no País.

Apesar de a instituição não tratar os casos como suspeitos, alguns indígenas Yanomami e Yekuana que vivem na divisa do Brasil com a Venezuela estão gripados. O sangue foi coletado em índios da comunidade Yaritha, na região do Alto Orinoco, que fica a um dia e meio de caminhada para os índios (três dias de caminhada para os não-índios) da comunidade Haraú, no país vizinho, onde morreram dois Yanomami por conta da doença. Outros seis Yanomami venezuelanos estão infectados com o vírus do H1N1.

Os casos da doença na Venezuela provocaram alerta no Brasil. Na região de risco vivem aproximadamente quatro mil índios Yanomami e Yekuana espalhados em 22 comunidades. Os grupos são nômades e é intenso o trânsito entre os indígenas dos dois países, uma vez que não existe uma fronteira para eles. O Brasil tem aproximadamente mil quilômetros de fronteira com a Venezuela e a maior parte está na divisa com o território Yanomami.

Inclusive, o surto de malária nos índios brasileiros ocorrido na metade deste ano teve início na Venezuela. Doentes de lá atravessaram a fronteira e infectaram os indígenas daqui. Só em junho e julho, durante o período de pico da doença, foram registrados 500 casos de malária entre os índios.

O alerta quanto à possibilidade de gripe suína entre os índios brasileiros foi dado ontem pela Funasa, em reunião com representantes do Gabinete Emergencial Influenza A (H1N1), autoridades em saúde do estado e município, Exército Brasileiro e da Hutukara Associação Yanomami (HAY).

No encontro, realizado na sede da autarquia, no bairro São Francisco, eles definiram os protocolos de combate à doença que serão empregados caso ela atinja os índios brasileiros. Hoje, às 11h, está marcada uma entrevista coletiva com a imprensa, no mesmo local, para repassar o plano de ação adotado pelas autoridades.

Funasa diz que monitora toda a reserva

De acordo com o coordenador da Funasa, Marcelo Lopes, desde sábado passado, 7, equipes de saúde da instituição estão espalhadas entre as 22 comunidades indígenas que ficam na faixa de fronteira com a Venezuela, atuando de acordo com o protocolo de combate ao H1N1 preconizado pelo Ministério da Saúde (MS). Os médicos ficam nos polos-base.

Ele explicou que o protocolo vem sendo cumprido desde o alarme da pandemia, mas que, diante da proximidade da região infectada na Venezuela com a área onde ficam os índios brasileiros, "fechou em 100%" o limite de trânsito deles.

"Não temos 22 médicos à disposição das 22 comunidades, mas como não temos nenhum caso confirmado da doença, estamos instalando radiofonias nas comunidades que não possuem. Teremos prescrição da medicação específica de combate ao vírus e se for necessário, orientação médica através dessa radiofonia com plantão na Funasa e na Secretaria Estadual de Saúde", esclareceu Lopes.

Conforme ele, a orientação é que se houver alguma síndrome gripal aguda grave entre os índios, eles devem ser removidos para Boa Vista para que sejam submetidos a exames para confirmação do vírus. Em caso positivo, todos os índios que estiverem com síndrome gripal aguda grave serão tratados.

Apesar de a Funasa já ter previsão orçamentária financeira, se for necessário, pode ser implantado um plano emergencial com o aumento no número de horas de voos e de equipes de saúde.

A Funasa também vai traduzir as duas cartilhas que possui sobre a Influenza A - uma para profissionais de saúde e outra para a população em geral - para a língua Yanomami.

Elas serão distribuídas nas comunidades entre os indígenas que trabalham como agentes de saúde, para os conselheiros de saúde locais e distritais e para os demais indígenas. "Estamos dando um passo à frente do primeiro caso, que é para quando ele aparecer, se é que vai aparecer, estarmos 100% preparados", enfatizou Lopes.

Ele ainda ressaltou que assim como ocorreu no surto da malária, em que os profissionais de saúde do Brasil trataram indígenas da Venezuela doentes, na hipótese de algum índio contaminado pela gripe suína atravessar a fronteira, igualmente receberá atendimento médico.

Tratamento é igual para índio, diz médico

Conforme o presidente do Gabinete Emergencial, o infectologista Alexandre Salomão, toda a estrutura do gabinete está à disposição da Funasa para evitar uma epidemia entre os índios.

Ele explicou que o protocolo de tratamento seguirá o que foi determinado pelo Ministério da Saúde, mas que neste caso será individualizado, uma vez que os índios vivem em região geográfica de difícil acesso e têm costumes étnicos e culturais diferenciados.

Assim como os não-índios foram acometidos gravemente pelos sintomas da gripe suína, já que o vírus é uma variação nova, os indígenas também serão submetidos a uma infecção grave caso sejam infectados, observou o médico ao ser questionado.

"O protocolo do Ministério da Saúde, em termos de orientação de tratamento, não diverge com orientação de medicação do índio para o não-índio. Só que nunca tivemos aqui no Brasil a gripe suína em situação epidemiológica numa área remota, em populações indígenas com seus costumes, mas apoiaremos com toda a infraestrutra possível", enfatizou acrescentando que o último caso de registro da Influenza A no Estado foi notificado em setembro.

Hutukara alerta comunidades sobre risco da doença

O diretor da Hutukara Associação Yanomami, Anselmo Xurupim, que participou da reunião, disse que assim que tomou conhecimento da doença entre os índios Yanomami da Venezuela, enviou mensagem via radiofonia ao seu povo alertando sobre os riscos da doença.

Ele fica na sede da entidade, em Boa Vista, e tem acompanhado os riscos do vírus H1N1 pela imprensa. "Avisamos às comunidades da região de fronteira que não é para ir muitas vezes para fazer visitas das famílias que moram na Venezuela nem de lá para o Brasil. É grande a ligação entre os Yanomami dos dois países", observou.

O Exército Brasileiro colocou à disposição das autoridades toda a estrutura dos pelotões de fronteiras instalados em Surucucus e Auaris, com médicos, laboratórios, veículos e aeronaves, para o combate à Influenza A.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.