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´Y Ikatu Xingu: atores do Xingu se unem por "água limpa e boa"

Amazonia.org
22 de Set de 2005

´Y Ikatu Xingu: atores do Xingu se unem por "água limpa e boa"

Mais de 10 mil índios que habitam o Parque Indígena do Xingu e cerca de 450 mil não-indígenas de 35 municípios do norte do Mato Grosso estão ameaçados em sua qualidade de vida e capacidade produtiva pela degradação que o desmatamento vem provocando sobre as nascentes do Rio Xingu. A relação de interdependência entre os recursos naturais e os povos da região assim como a história da campanha ´Y Ikatu Xingu serão ambos relatados na palestra que o coordenador da Campanha Xingu do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli, apresenta no Mercado Floresta. A presença do ISA na feira também ocorre com a palestra "Repartição de benefícios para o acesso à bidoversidade" e pelos produtos e experiências trazidos ao estande do Instituto, compondo um apanhado das ações da entidade em várias regiões do Brasil, do Xingu ao Rio Negro e o Vale do Ribeira.

A campanha ´Y Ikatu Xingu teve início em 2004 com a união de índios, fazendeiros, agricultores, governos, comerciantes e sociedade em geral para recuperar as matas ciliares do Rio Xingu, após o Encontro Nascentes do Xingu, que reuniu mais de 340 pessoas em Canarana (MT). Embora cada segmento possua seus problemas específicos, as ameaças sobre a água serviram para formar uma rede de articulação de ações locais, gerando uma agenda regional para 2005, e a escolha de ´Y Ikatu como nome da campanha, que em Tupi significa "água limpa e boa".

A diversidade cultural do Parque do Xingu, criado em 1961, com 14 etnias indígenas, tem ligação direta com os recursos florestais e os serviços ambientais a eles associados, como os mananciais e a qualidade do solo. A constatação de que os desmatamentos e queimadas secaram as nascentes do Xingu, influindo na disponibilidade de peixes, e do quanto a retirada de vegetação tem levado ao assoreamento de vários cursos d'água e à redução da fertilidade das terras, afetando principalmente os fazendeiros, impulsionou ações específicas de cada um dos segmentos locais.

Enquanto produtores rurais irão recuperar as matas, as prefeituras são estimuladas a implantar programas de educação ambiental, formar viveiros de mudas e melhorar o saneamento básico das cidades. Já os índios, vêm monitorando a qualidade da água dos rios e coletando sementes.

Com mais de 2,3 mil Km de extensão, o Rio Xingu é um exemplo do quanto a conservação dos recursos naturais associa-se diretamente aos usos humanos, seja na disponibilidade hídrica, seja em atividades tradicionais, ritos e intercâmbio cultural entre as comunidades. Enquanto a Bacia do Xingu é habitada secularmente por povos indígenas, suas nascentes estão justamente em meio a um dos maiores pólos agropecuários do País, no leste mato-grossense. Como monitora regularmente a Bacia do Xingu, o ISA apurou aumento no desmatamento da região em mais de 800 mil hectares de floresta (ou 4,53%) entre 2000 e 2003.

A apresentação de Santilli no Mercado Floresta diz respeito, portanto, às soluções propostas pelos povos locais para o cuidado com a natureza e ao envolvimento de diferentes setores da economia numa campanha de recuperação socioambiental. Se de um lado, a líder da aldeia Wederã, Severiá Idiorê Karajá propõe maior diálogo com os fazendeiros para diminuir pressões e encontrar pontos de interesse em comum, o coordenador ambiental do Grupo Amaggi, uma das maiores produtoras e exportadoras de soja do Mato Grosso, João Shimada, reconhece a importância do compromisso dos grandes proprietários na campanha e que "a principal ação a curto prazo por parte dos produtores de soja seria o isolamento de áreas degradadas para resolver problemas como assoreamento e perda de biodiversidade".

Amazônia.org, 22/09/2005

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