VOLTAR

Xukuru dá ultimato ao Governo

Diário de Pernambuco-Recife-PE
17 de Out de 2003

Crise entre facções indígenas rivais é relatada para deputados federais em audiência

Se em trinta dias não houver um acordo entre os índios Xukuru, as facções rivais podem voltar a se enfrentar na reserva da nação, em Pesqueira (216 km do Recife). Pelo menos foi o que garantiu ontem o líder dos Xukuru de Cimbres, Expedito Cabral, o Biá, durante uma audiência com os deputados federais que integram a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, na sede da Funai, no Recife. O grupo de Cimbres é uma dissidência dos Xukuru de Ororubá, liderados pelo cacique Marcos Luidson de Araújo, o Marquinhos, filho do cacique Chicão, assassinado em maio de 1998. No dia 7 de fevereiro deste ano dois integrantes do grupo de Marquinhos foram mortos. O cacique afirmou ter sido vítima de uma emboscada, versão desmentida pela Polícia Federal que abriu inquérito para apurar o conflito.
"Estamos no Recife há oito meses, queremos voltar a trabalhar na terra que foi o que sempre fizemos. Nosso povo não agüenta mais esperar", afirmou Biá. Cerca de 100 índios estão morando numa pensão, ao lado da Funai, no bairro da Boa Vista. Segundo Biá, o restante do grupo, aproximadamente 1,5 mil integrantes, permanecem nas aldeias Cimbres, Cajueiro e Guarda, de onde não podem sair, temendo perder a posse de 7.500 hectares de terra. "Além disto também estamos sendo mantidos em cárcere privado, pois Marquinhos não deixa nossos companheiros saírem", atacou.
O grupo de Cimbres indicou ao Governo federal a fazenda Jardim Jatobá, com 4.500 hectares, a 18km de Pesqueira, para ser comprada. Os índios querem ser assentados no local. "Fizemos isto há mais de um mês e não obtivemos resposta. Se não houver nenhuma providência vamos retornar à reserva e teremos um conflito", advertiu Biá.
O administrador regional da Funai, Manoel Lopes, no entanto, acredita que a compra da fazenda não resolveria problema algum, pois a propriedade faz divisa com a área ocupada pela facção Orurubá. "Isto poderia fomentar ainda mais a disputa, pois eles ficariam lado a lado. os riscos são grandes numa situação assim". Os Xukuru de Ororubá estão divididos em 20 aldeias, somando mais de seis mil integrantes. Lopes ainda aposta na possibilidade de unir os lados rivais, via que os próprios índios afirmam ser impossível. "Não queremos nenhuma conversa com Marquinhos, para nós ele não tem representatividade", frisou Biá.
Para o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP) a briga entre os dois grupos enfraquece a causa indígena. O parlamentar criticou a postura ofensiva de ambos os lados e disse que se houver violência todos perdem. "Índio dividido perde a força", sentenciou. Fantazzini reconheceu que este é, atualmente, um problema nacional, atingindo os Xavante e Terena, por exemplo. "A Funai foi inteiramente sucateada, o que inviabilizou o crescimento das nações. Então, eles acabaram rachando politicamente", justificou. O deputado contou que a comissão irá encaminhar todas as queixas ao Seviço de Repressão a Crimes Contra Comunidades Indígenas e à ouvidoria da Funai.
"Vamos buscar uma solução pacífica", prometeu.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.