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Xingu: de novo

Jornal Pessoal
Autor: Lúcio Flávio Pinto
28 de Mar de 2005

O governo Lula começou invertendo a prioridade da administração anterior para a construção de uma nova grande hidrelétrica na Amazônia. Não seria mais Belo Monte, no Xingu, mas duas barragens no rio Madeira, em Rondônia: Jirau e Santo Antônio. Elas não apenas permitiriam gerar um volume de energia maior, ao menos numa primeira etapa: dispondo de eclusas, também regularizariam a navegação em todo Madeira, servindo à intenção do novo governo de integrar aquela parte da América do Sul, envolvendo Bolívia, Peru e Chile.

Agora as coisas parecem ter voltado - em mais este aspecto - ao que eram sob FHC. Numa palestra que fez no dia 18, no Rio de Janeiro, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, disse que como é inviável construir ao mesmo tempo Belo Monte e as duas usinas do Madeira, o "mais factível" é optar pelo Xingu.

O projeto de Belo Monte já não é mais o mesmo. A revisão começou na gestão tucana e se prolongou na era petista. A capacidade (de mais de 11 mil megawatts) foi reduzida à metade (5,5 mil MW), a área do reservatório foi ainda mais minimizada, o oneroso sistema de transporte foi dissociado da geração (barateando o orçamento) e a participação de empresas privadas ampliada. Assim, a obra tem menor impacto ambiental e ficou muito mais barata, abaixo de cinco bilhões de dólares.

Mas quem acredita que debaixo dessa nova roupagem o santo não seja o mesmo? O projeto de Belo Monte não terá sido modificado principalmente para vencer resistências ao formato original, devendo seguir uma implantação modulada, em etapas? Uma vez construída a primeira barragem, a funcionar como usina a fio d'água, os demais barramentos não virão como conseqüência inevitável? É bem possível: sozinha, Belo Monte não terá viabilidade econômica, mesmo com todas as reforms que recebeu.

A volta da prioridade ao aproveitamento hidrelétrico do Xingu tem um significado: é conseqüência da pressão dos novos empreendimentos eletrointensivos que estão surgindo na região. Tanto o pólo de bauxita e alumina da Alcoa em Juruti como a nova mina em consolidação pela Companhia Vale do Rio Doce, no Pitinga, no Amazonas. No Madeira, onde não existe ainda uma demanda desse porte, as duas usinas, com capacidade para 7 mil MW, deixariam energia "na gaveta", como observou Tolmasquim na sua palestra carioca. Na gaveta, obviamente, não gera dinheiro.

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