VOLTAR

Xavantes em ação no lazer da Avenida Paulista

JT, Cidade, p. A5
06 de Set de 2004

Xavantes em ação no lazer da Avenida Paulista
Desta vez, o domingo na Paulista foi dedicado aos índios, que tiveram uma tenda bem em frente ao prédio da Fiesp. Xavantes disputaram uma corrida de toras e protestaram contra a invasão de suas terras

Mariana SantAnna

No início era avenida, que ganhou ares de parque aos domingos e, ontem, recebeu um toque de cerrado: o Domingo na Paulista teve como tema a cultura indígena. Uma das tendas, em frente ao prédio da Fiesp, tinha fotografias de índios e foi toda dedicada a esse povo, principalmente às etnias Krahô, Xavante, Caiapó e Xererê.
Mas a principal atração começou por volta das 10h: a corrida das toras, ou Uiwede. Ela é tradicional entre os índios Xavantes, e é realizada quando acabam as chuvas (leia mais na entrevista). Primeiro vieram os homens - cerca de 40 deles -, carregando toras que pesavam de 100 kg a 110 kg. Depois foi a vez das mulheres que carregavam troncos mais leves: de 60 kg a 80 kg. Cada grupo carregava uma tora, e os participantes - todos devidamente pintados - se revezaram carregando o peso durante o percurso, que foi da Rua Bela Cintra à Avenida Brigadeiro Luís Antônio.
O objetivo era, além de mostrar um pouco de sua cultura para o homem branco, protestar contra o impacto ambiental que a agricultura vem causando na região Centro-Oeste do País.
Eles conseguiram chamar a atenção do público. O casal Tarcísio e Vanda Septimio estava em São Paulo visitando os filhos. Eles moram no Tocantins e têm contato com índios. "Não sabíamos que eles estariam aqui. Viemos passear porque sabemos que aos domingos sempre tem alguma coisa na Paulista", contou ele. Quando viram a corrida, pararam para acompanhar. "Temos interesse na cultura deles, queremos assistir", disse Vanda.
Já os estudantes Rodrigo Tavares da Silva, Anelise Ribeiro e Maico Santos sabiam da presença dos índios no evento e gostaram do que viram. "É importante ter contato com a cultura do nosso país", disse Anelise. Rodrigo, porém, acha que os índios "se sentiram como se estivessem no zoológico". "As pessoas querem ver, chegar perto, pegar neles, como se fossem simplesmente uma atração, e não um povo", opinou. Maico completou: "Herdamos muito da cultura indígena. temos de aprender sobre eles e também respeitá-los."
Projeto continua com sucesso
As cerca de 35 mil pessoas (estimativa da organização) que estiveram ontem participando das atividades do Domingo na Paulista confirmam que o projeto é um sucesso de público. O casal de professores universitários Sandra Coutinho e Alex Huerta são freqüentadores assíduos: todos os domingos chegam cedo e ficam até por volta do meio-dia, com suas duas filhas, Monique, de 5 anos, e a pequena Ana Paula, de 11 meses. "A Monique é quem mais aproveita, mas todos nós gostamos", afirmou a mãe. "É uma ótima oportunidade de combatermos o sedentarismo."
Seu marido faz algumas sugestões. "O espaço poderia ser maior, e uma das pistas liberada para as crianças andarem de bicicleta, skate e patins, ou mesmo para os adultos e idosos caminharem." Sandra complementa: "O projeto é ótimo, mas pode melhorar.

Corrida espanta os maus espíritos

O índio xavante Hiparidi, organizador da corrida das toras que aconteceu ontem, no Domingo na Paulista, é membro da Associação Xavante Warã. Ele explicou o que é a corrida e por que os índios vieram a São Paulo para correr.

O que representa a corrida das toras para vocês?

Tradicionalmente representa a fertilidade, habilidade, felicidade e é para espantar os maus espíritos.

Ela é realizada em que ocasiões?

No final da chuva, quando o tempo fica fresquinho. Isso representa pessoas nascendo. Aqui o que estamos fazendo é uma manifestação, porque o governo está liberando o plantio da soja, tanto a transgênica como a convencional. Isso nos preocupa, porque o plantio está entrando nas áreas indígenas. A idéia é mostrar que nós queremos o cerrado, não a soja. O plantio está prejudicando o entorno das terras indígenas. A caça está cada vez mais difícil, os rios estão poluídos, entre outras coisas.

De onde vieram os índios que participaram da corrida?

Um grupo veio do Maranhão, outro grupo, e eu também, viemos do Mato Grosso.

Foi a primeira vez que aconteceu a corrida no asfalto?

Sim.

E foi mais difícil?

Sim, tem uma dificuldade. A diferença no pé, entre outras coisas. O jeito de correr é diferente. É mais cansativo, se gasta mais a força.

JT, 06/09/2004, Cidade, p. A5

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.