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Você comeria alimentos transgênicos?

OESP, Alías, p. J7
17 de Out de 2004

Você comeria alimentos transgênicos?

Sim. Alimentos transgênicos contêm componentes de plantas que sofreram modificações genéticas visando torná-las mais resistentes a pragas, doenças e herbicidas. Isso permite menor uso de defensivos agrícolas. A transgenia, ou seja, a transferência de um gene de uma espécie para outra com a qual não se cruzaria em condições naturais ocorre quando há falta ou deficiência de genes importantes na própria espécie. Um gene novo a essa espécie, porém conhecido de outros organismos, é introduzido para dar um reforço ou cumprir a função. As proteínas desse gene são extensivamente testadas quanto à aceitação na alimentação humana. É saudável que a sociedade discuta esse ponto, embora fique difícil entender porque não se questionem medicamentos derivados de microrganismos transgênicos, como a insulina. Temos uma legislação robusta de biossegurança e uma Comissão Técnica Nacional de Biossegurança de alto nível. Ali é o fórum de decisão.
(Marcos Machado, Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas)

Não. Esses produtos resultam de cruzamentos em que espécies distintas, como soja e bactéria, são cruzadas em laboratório. A transferência de genes é feita com a ajuda de vírus e marcadores antibióticos, aumentando a chance de surgirem novos elementos infecciosos e alergias, além do risco de desenvolvimento de resistência a antibióticos. Até 2003 existiam dez estudos sobre o impacto de transgênicos à saúde. Nestes, não se verificaram efeitos negativos. Pesquisas independentes apontaram problemas ainda não explicados, como disfunção hepática em ratos. Os EUA plantam transgênicos há dez anos, mas não rotulam os alimentos. Sem controle do consumo, problemas de saúde não podem ser associados à alimentação. Os transgênicos estão ligados a outro risco para produtores, consumidores e ambiente: o maior uso de agrotóxicos. Contradizendo a propaganda, produtores americanos de soja transgênica usam de duas a cinco vezes mais herbicidas em suas lavouras.
(Gabriel Fernandes, da AS-PTA, Assessoria a Projetos em Agricultura Alternativa)

O óleo é o mesmo
Os alimentos transgênicos não são uma ameaça à saúde humana. Já foi constatado, por exemplo, que o óleo de soja transgênica, quando analisado em laboratório, é igual ao óleo de soja normal. O único questionamento é se o cultivo de alimentos transgênicos teria algum impacto ambiental ainda não detectado, como o desenvolvimento de plantas daninhas, ou o (des)controle de pragas. Além disso, os transgênicos representam uma evolução, o barateamento da produção de alimentos. No mais, já consumimos muitos alimentos, principalmente frutas, que são geneticamente modificados.
(Cristiane,São Paulo, SP)

Selo de identificação
Os estudos e as pesquisas são contraditórios e ainda não se sabe, com certeza, os riscos que corremos ao ingerir alimentos transgênicos ou derivados deles. Enquanto a polêmica continua, deveria ser obrigatória a afixação de advertências coladas ao produto identificando-o como "transgênico" e sua colocação em gôndolas ou seções separadas. Ainda seria importante realizar uma ampla campanha mostrando os dois lados da moeda.
Edmundo Ribeiro, Recife, PE

Desnecessários
Não comeria porque os transgênicos não são necessários. A natureza não precisa deles. Aliás, eles fazem mal a ela. Conseqüentemente, farão mal a nós, que somos parte dela.
Roberta Ferrari, Rio de Janeiro, RJ

Ser mutante
Não há uma posição uniforme entre a comunidade científica sobre o assunto nem pesquisas científicas idôneas. Não quero virar um mutante no futuro!
Marco Antonio Maia, São Paulo, SP

Contra a fome Na década de 80, achávamos que não seríamos capazes de alimentar a população mundial em 2000. Graças ao desenvolvimento de novas tecnologias de cultivo e de genética, hoje a produção de alimentos é um problema distante. Não podemos dispensar, sem testes, nenhuma iniciativa que promova maior produtividade e qualidade na agricultura ou em qualquer outro setor. As pesquisas com alimentos transgênicos não demonstraram ainda nenhum motivo para que esses alimentos sejam evitados.
Wendel Silva, Vila Velha, ES

Menos Agrotóxico
Comeria por conterem menos agrotóxicos, que comprovadamente são nocivos à saude. Os malefícios dos transgênicos são uma suposição.
Cunha, Florianópolis, SC

Natureza pura Não comeria porque sou adepto das coisas naturais, daquilo que não é industrializado e muito menos geneticamente modificado.
Marco Pólo Xavier Passos, Caruaru, PE

Fé na ciência
Consumiria pelo mesmo motivo que tomo vacinas, viajo de avião, assisto ao noticiário na TV, uso computador, apóio as pesquisas com células-tronco e embriões, aprovo os transplantes de órgãos e estou, agora, respondendo a uma pesquisa pela internet: crença na ciência e nos seus avanços.
Raul Almeida São Paulo, SP
Fé no governo
Acredito que, se o governo liberar o produto para consumo, é porque o mesmo não poderá causar mal aos consumidores em geral.
Paulo Neves São Paulo, SP

Revés da natureza
Não vejo problema em comer esse tipo de alimento. O medo é o meio que a natureza vai encontrar para driblar ou aproveitar essas alterações defensivas e/ou nutritivas.
Leslie, São Paulo, SP

Igual à célula-tronco
Transgenia é evolução, melhoria na qualidade das produções e dos produtos. Comparativamente, é o mesmo que cair na discussão de políticos e religiosos sobre pesquisa de células-tronco.
Sanderson Capobianchi, São Paulo, SP

De olho nas empresas
Quando existem empresas por trás da discussão e interesse feroz no assunto, fico fora. No caso da soja, se o Brasil produz a melhor soja não transgênica e o rendimento é grande, qual o motivo de produzir a transgênica? Tem pedra nesse mingau! Nunca vi empresa estrangeira fazer alguma coisa de boa para nós brasileiros, só querem levar nosso minguado salário. Pobre dos agricultores ingênuos que vão embarcar nessa.
Ingo Foz do Iguaçu, PR

Questão de peso
Depende. Engorda?
Bussunda, Rio de Janeiro, RJ

Fiscalização duvidosa
A maioria das autoridades de plantão "estão à venda" e, portanto, facilmente susceptíveis a uma grana para fazer vista grossa; nem sei há quanto tempo estou ingerindo esses alimentos transformados.
Jorge de Paiva Campos, São Paulo, SP

Visão de fora
Comeria porque os produtos que se encontram no mercado foram avaliados como seguros para consumo humano. Aqui na Europa temos vários deles nas maiores redes de supermercado, como óleo de soja, margarina, produtos de panificação, snacks de milho transgênico e outros. Todos estão rotulados de acordo com a legislação da Uniao Européia.
Antonio Mantoan, Rotterdam, Países Baixos
Brincando de Deus
A quantidade de alimento produzida no mundo é suficiente para alimentar toda a população da atualidade. Pode ser desenvolvida a ciência que for que as diferenças sociais e econômicas continuarão a existir se isso não for trabalhado como um valor a ser alterado. Além disso, os estudos dos impactos dos transgênicos no corpo humano e no meio ambiente não estão finalizados. Por mexer na estrutura do alimento, essa alteração irá para o nosso corpo. Para que isso? O homem está brincando de Deus....
Renata Lobo de Felício, São Paulo, SP
Nova geração
Se o caráter que se deseja incorporar à variedade existe no DNA da planta, por que lançar mão da engenharia genética se podemos fazê-lo por meio do melhoramento convencional, apenas realizando-se cruzamentos? No caso de o gene desejado não existir na planta, deveríamos levar em conta a espécie a ser mexida, o caráter ou o gene incorporado. Não há dúvida de que a possibilidade de usar a engenharia genética é muito tentadora e rompe um dogma da biologia, que é a transferência dos genes pela via não sexual. O surgimento de uma nova geração de transgênicos voltados para a melhoria da qualidade nutricional dos alimentos pode se revelar forte alternativa para a nutrição dos povos, sobretudo os mais carentes.
Gal Camano, Campinas, SP
O problema é o lucro
Não confio nessa biotecnologia de alimentos. Quando a ciência se alimenta de lucro, os resultados podem não ser muito saudáveis para a população.
Luiz Fernando Carvalho, Nossa Senhora do Socorro, SE

OESP, 17/10/2004, Alías, p. J7

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