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05 de Nov de 2024
Vingança, pesca ilegal, oito acusados: saiba tudo sobre o inquérito que indiciou Colômbia pela morte de Bruno e Dom
Investigação foi concluída e enviada ao Ministério Público Federal, como anunciou a PF nesta segunda-feira
Eduardo Gonçalves
05/11/2024
A Polícia Federal indiciou Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, como mandante dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, em 5 de junho de 2022, no Vale do Javari, Norte do Amazonas. A investigação da PF concluiu que o crime foi cometido como vingança contra as atividades de Bruno, que combatia a pesca ilegal e a invasão da Terra Indígena do Vale do Javari, maior área com povos originários isolados ou de recente contato do planeta. Outras oito pessoas foram indiciadas por participação nos homicídios.
O inquérito foi concluído e enviado ao Ministério Público Federal (MPF) na sexta-feira. Segundo a PF, Colômbia forneceu os cartuchos das armas usadas no duplo homicídio, patrocinou a empreitada criminosa e também atuou na "coordenação da ocultação dos cadáveres".
Se Colômbia for denunciado pelo Ministério Público, a Justiça terá de decidir se aceita ou não torná-lo réu para ir a julgamento. Um dos indiciados anteriormente no crime pela PF, Oseney da Costa dos Santos, já teve sua denúncia rejeitada por falta de provas. Mas ele ainda está em prisão domiciliar, por caber recurso contra decisão (leia no quadro abaixo).
A Justiça já tornou réus Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que admitiu ter matado o jornalista e o indigenista em uma emboscada no Rio Taquari, e Jefferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da Dinha. Jefferson é acusado de também ter participado da emboscada e de ajudar a esconder os corpos. Os dois estão em uma penitenciária federal, assim como Colômbia. Um terceiro réu, também preso, é Jânio Freitas de Souza, considerado o braço direito de Colômbia.
Os outros réus são Francisco Conceição de Freitas, Eliclei Costa de Oliveira, Amarílio de Freitas Oliveira, Otávio da Costa de Oliveira e Edivaldo da Costa de Oliveira. Todos vão responder pelos crimes de ocultação de cadáver e, com a exceção de Francisco, por corrupção de menor: eles teriam obrigado um adolescente a participar da ação criminosa. Eles respondem ao processo em liberdade.
O grupo liderado por Colômbia atuava com a pesca e a caça predatória em Atalaia do Norte, no Amazonas, próximo a terras indígenas e à tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, de acordo com o inquérito. "A ação do grupo criminoso gerou impactos socioambientais, causou ameaças aos servidores de proteção ambiental e as populações indígenas", informou a Polícia Federal, em nota.
A corporação acrescentou que continua "monitorando os riscos aos habitantes do Vale do Javari" e abriu outros inquéritos para apurar ameaças a indígenas. A suspeita sobre a participação de Colômbia foi revelada pelo GLOBO seis dias após a morte da dupla, antes da descoberta dos corpos de Bruno e Dom.
Preso desde 2022
Colômbia está preso desde dezembro de 2022. Ele havia sido detido antes, em julho do mesmo ano, ao se apresentar com documentos falsos à sede da PF em Tabatinga, mas pagou uma fiança de R$ 15 mil e deixou a cadeia em outubro. As apurações apontam que ele tem contato direto com o Amarildo.
- Não tenho dúvida que o mandante foi Colômbia. Temos provas de que ele fornecia as munições para Jefferson e Amarildo encontradas no caso - disse o então superintendente da Polícia Federal do Amazonas Alexandre Fontes em janeiro.
Servidor licenciado da Funai, Bruno era alvo constante de ameaças pelo trabalho junto aos indígenas contra invasores na região: pescadores, garimpeiros e madeireiros. Dom, que o acompanhava, produzia reportagens sobre o Vale do Javari.
Os dois foram vistos pela última vez em 5 de junho de 2022. Os restos mortais seriam encontrados dez dias depois, queimados, esquartejados e com marcas de tiro. Conforme a perícia da PF, Bruno foi atingido por três disparos, dois no tórax e um na cabeça. Dom foi atingido uma vez, no tórax.
A PF investigou se havia um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais capturados pela quadrilha. Bruno teria descoberto o esquema, o que contrariou Colômbia, que tem dupla nacionalidade: brasileira e peruana.
Segundo as investigações, Colômbia recorria à venda de animais para lavar o dinheiro da droga produzida no Peru e na Colômbia e vendida a facções criminosas no Brasil. Há suspeita de que ele teria ordenado a um dos executores da dupla colocar a "cabeça de Bruno a leilão".
Segundo Amarildo contou às autoridades, houvepib um embate em que Bruno chegou a tentar reagir após ser atingido da primeira vez. Após o duplo homicídio, a embarcação que levava as vítimas foi afundada por Pelado e os demais acusados de participar do crime, com sacos de terra colocados no casco para que ela não voltasse à tona.
Outra morte
Colômbia também é suspeito de ter encomendado a morte do colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos em 2019. Maxciel foi assassinado com dois tiros na nuca por volta das 18h30m do dia 6 de setembro daquele ano, na Avenida da Amizade, a mais movimentada de Tabatinga, quando andava de moto com a mulher e a enteada.
A PF apura se Colômbia teria contratado os pistoleiros neste caso. O nome de Maxciel fazia parte de uma lista de pessoas marcadas para morrer em que também constava Bruno, além de outros servidores da Funai, e de integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), segundo a polícia.
Maxciel e Bruno atuaram juntos no combate à pesca ilegal e ao garimpo no Vale do Javari, em 2019. Dias antes de ser executado, o colaborador da Funai havia participado de uma operação das forças de segurança que apreendeu embarcações com toneladas de pirarucu, o que teria revoltado Colômbia.
Nesse mesmo período, Bruno coordenou, como chefe do departamento de indígenas isolados, uma megaoperação de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e no Rio Jutaí, no Vale do Javari. Cerca de 60 balsas de garimpo foram destruídas.
Repercussão
O assassinato de Dom e Bruno teve repercussão internacional, principalmente na imprensa do Reino Unido, onde o jornalista trabalhou como colaborador do jornal The Guardian. O Parlamento Europeu aprovou um texto que abordava a situação de indígenas e ambientalistas no Brasil, com destaque para o assassinato. A resolução fazia uma cobrança ao Brasil para que o caso fosse esclarecido.
O caso que, na gestão de Jair Bolsonaro, também levantou críticas sobre a suposta omissão do governo diante de políticas voltadas para os povos indígenas e grupos isolados da região.
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