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Vida de indigente na sede da Funai

Diário da Amazônia - http://www.diariodaamazonia.com.br
Autor: Cyntia Dias
11 de Ago de 2010

Com a reestruturação da Funai há dois anos, a sede da antiga Coordenação Regional do órgão em Porto Velho passou a ser ocupada precariamente por índios karitiana, karipuna e outros que se dirigem à cidade e não têm outro local para ficar. O local é sujo e insalubre, mesmo assim chega a abrigar até 40 pessoas em época de pagamentos. A falta de atenção da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Porto Velho revolta os índios. Segundo o presidente da Associação do Povo Karitiana, Renato Karitiana, os setores de educação indígena, assistência social, proteção a terra indígena e elaboração de projetos para melhorar a qualidade de vida dos indígenas ficaram mais deficientes desde que começou a reestruturação da Funai. O cacique Cizino Dantas Moraes Karitiana, da Aldeia do Rio Candeias, sente falta do auxílio do órgão. Ele diz que a Funai não quer mais ajudar os índios e que eles querem na administração pessoas que os tratem com carinho, que ajudem os indígenas.

Gumercindo Karitiana, cacique da Aldeia Central, diz que a Funai abandonou o índio. "Quando a gente vem aqui tem que tirar dinheiro do bolso. Quando precisa ir ao médico não tem ninguém para acompanhar. O índio tem que se virar sozinho". Reforçam a corrente por mudanças, os caciques Francisco Delgado, da Aldeia Central, e Raimundo Nonato, da Aldeia do Rio Preto, as lideranças Karipunas e caciques e lideranças Karitianas.

Os índios reivindicam mudança nos quadros da administração da Funai. Eles querem acelerar o processo de troca de coordenadores do órgão na Capital. Hoje o cargo de coordenador técnico é ocupado por Raimundo Nonato da Silva. Eles querem a troca por Reginilson Jacob de Oliveira e José Raimundo Sarmento, escolhidos pelas comunidades para assumir tal atividade.

Alojamentos

Os índios que vêm à Capital para resolver problemas pessoais ou coletivos ficam alojados nas dependências da Funai. Os alojamentos são precários, sem a mínima condição de receber qualquer pessoa. Hoje cerca de 25 pessoas estão acomodadas no local. Em datas de pagamentos o número sobe para até 40 pessoas. A alimentação só é fornecida para os índios que estão doentes, os outros têm que arrumar dinheiro para sobreviver. Alguns vendem artesanato, atividade responsável por até 20% da renda das aldeias. Atualmente os indígenas só conseguem produzir 50% dos alimentos que consomem.

Funai

"A Funai não consegue atender todas as necessidades dos índios", reconhece o coordenador de campo da Fundação Nacional do Índio, Reginilson Jacob de Oliveira. Todo Final de ano é feito o planejamento orçamentário para o próximo período, mas nem todos os projetos são contemplados em sua totalidade o que causa descontentamento por parte dos indígenas. A verba destinada ao órgão também é insuficiente. Hoje a Fundação passa por diversos problemas, mas o coordenador garante que está sendo montada uma equipe técnica que vai compor as coordenações com o objetivo de fazer um melhor acompanhamento do indígena.

"Nossa preocupação hoje é segurar o índio dentro da reserva. Os índios estão muito integrados com a sociedade branca. Ele come a mesma comida, veste as mesmas roupas, sabe o valor do dinheiro. Algumas famílias já estão morando por aqui, por isso a preocupação em mantê-los nas aldeias."

"Eles têm que aprender a se virar"

Com a nova reestruturação da Funai - iniciada em 2007 - foi extinta a administração regional de Porto Velho, juntamente com os núcleos e os postos de atendimento, e criadas as coordenações regionais localizadas em Cacoal, Ji-Paraná e Guajará-Mirim , com as respectivas coordenações técnicas locais.

Em Porto Velho serão criadas três coordenações técnicas que ainda estão sendo estudadas e previsão para funcionamento no início de 2011. Por enquanto, explica o coordenador Regional em Ji-Paraná, Vicente Batista Filho, a Funai está trabalhando a composição, planejando essas novas coordenações e escolhendo as equipes técnicas.

Sobre a precariedade das condições de vida dos índios que vivem ou se alojam nas dependências da Funai de Porto Velho, Batista Filho disse que esse é um problema grave que será sanado com a nova reestruturação. O coordenador ainda fala sobre os índios que vão para a cidade acompanhar algum parente quando acometido de alguma doença ou resolver algum problema e acabam não retornando para a aldeia. Eles ficam alojados em barracas de madeira e lona dentro das dependências da Funai e sobrevivem da venda de artesanato.

Quando questionado sobre a falta de auxílio para o índio que precisa ir ao hospital ou ao INSS, o coordenador é enfático. "Eles têm que aprender a se virar sozinhos". Para os índios que não conhecem o idioma ou os costumes da sociedade branca é providenciado acompanhamento, garante ele. Sobre a comida, Batista Filho falou que a alimentação é destinada apenas para os doentes.

Hoje existem 19 terras indígenas demarcadas em Rondônia. A população soma aproximadamente 8 mil índios distribuídos em aproximadamente 53 etnias.

ONG denuncia situação precária

A situação precária do prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Porto Velho preocupa a Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé. Hoje os 67 funcionários lotados na coordenação da Funai da Capital não dão conta de atender a demanda que vem de todo o Estado. O telefone está cortado. A situação dos índios que moram nas dependências da sede é desumana.

Os índios que se dirigem à Capital apenas para resolver alguns problemas pessoais como aposentadoria, no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ou doenças, nos hospitais, precisam se virar sozinhos já que não há um atendimento social adequado. A situação se torna ainda mais crítica quando o indígena não conhece os costumes dos brancos, não fala a língua, não sabe como se locomover dentro da cidade.

Segundo Israel Correa Vale Junior, coordenador da Associação Kanindé, muitos índios, a maioria da etnia Karitiana, vieram para a cidade e não retornaram para as aldeias. Há casos de famílias inteiras morando na sede na Funai. Eles vivem, em sua grande maioria, da venda de produtos artesanais. Correa comenta sobre a nova reestruturação do órgão. Ele diz que quando a coordenação regional estava na Capital, a situação era ruim, quando passou para Ji-Paraná, só piorou. O prédio está com a estrutura muito precária. Incapaz de receber adequadamente os índios que lá se alojam, ou moram.

Ji-Paraná

Israel comenta, por telefone, que a estrutura da regional de Ji-Paraná é até boa se comparada com a de Porto Velho. Ele também cita outras cidades onde o atendimento ao povo indígena está melhor. Nas regionais de Cacoal, Vilhena, e Gujará-Mirim percebe-se que estão tentando sanar alguns problemas, disse.

Os problemas da Funai continuam os mesmos. Falta de pessoal, de verba e ainda há a necessidade de fortalecimento do órgão por parte do governo Federal. Precisa-se atuar com mais propriedade, afirma. Alguns problemas também ainda estão em discussão, como a compensação por parte das Usinas Hidrelétricas.

Em Porto Velho são atendidos os povos Karitiana e Karipuna. O Estado de Rondônia conta hoje com 23 terras indígenas e cerca de 8 mil índios das mais variadas etnias. As Unidades de Conservação e as terras indígenas representam um impedimento à devastação, impedindo o desmatamento de grandes áreas no Estado, ressaltou Israel Correa.

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