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Vendedores" de reserva são localizados

A Tribuna do Acre-Rio Branco-AC
Autor: Josafá Batista
05 de Dez de 2004

Os responsáveis pela tentativa de vender a Floresta Estadual do Chandless, uma área protegida com 975 mil hectares, foram localizados e devem ter a prisão decretada nesta semana pela Polícia Federal.

Os nomes não foram revelados para garantir o sigilo das investigações, que estão na fase final.

O anúncio, oferecendo a reserva por R$ 34,12 milhões, foi localizado pelo Instituto de Terras do Acre (Iteracre) no final do mês passado. A oferta, no entanto, já havia chamado a atenção de um grupo empresarial japonês, que só não fechou negócio porque, segundo o Iteracre, teve acesso à matéria do jornal A TRIBUNA, denunciando o estelionato.

"O grupo empresarial entrou em contato conosco e perguntou maiores informações. Quando dissemos que a área era uma reserva florestal estadual e não podia ser vendida, os executivos desistiram do negócio", disse o diretor do Iteracre, Henrique Corinto de Moura.

Segundo Moura, os responsáveis pelo golpe são mesmo acreanos e conseguiram várias ofertas nas terras, já que o anúncio "permitia" a venda parcial da reserva. Cada hectare sairia por R$ 35.

Os nomes e toda a transação feita com a Imobiliária Kramer, de Manaus (AM), que publicou a oferta numa revista de bordo, já foram encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal.

Segundo as investigações, um dos responsáveis pelo golpe mora em Rio Branco e pertence a uma das famílias tradicionais da classe média acreana.

Câmara Federal quer detalhes

A repercussão do anúncio da Reserva Chandless chegou à Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), onde a Comissão de Biopirataria começou a apurar o episódio.

Henrique Moura foi convidado para participar de uma audiência pública para explicar os detalhes do episódio.

"A notícia do golpe impressionou os deputados federais que integram a Comissão de Biopirataria da Câmara Federal. Agora, quando eu for até lá, vou expor a situação terrível da cadeia dominial acreana, além de outros problemas que precisam ser resolvidos até para impedir novos absurdos desse tipo", disse Moura.

A cadeia dominial a que se refere o diretor do Iteracre é o registro em cartório das propriedades privadas do Acre. Por meio dele, é possível descobrir os processos de compra e venda das terras.

Na análise dessa cadeia, o Iteracre descobriu que há centenas, milhares de hectares arrecadados para a reforma agrária que foram invadidos por fazendas em vários pontos do Estado. Os registros cartoriais omitem esse fato, numa total irregularidade.

Conheça o Chandless Localizado no centro de diversidade das florestas de mogno e bambu da região que vai do Acre ao sul do Amazonas, a Floresta Estadual do Chandless, com 972 hectares, é um dos últimos refúgios da vida silvestre no Acre.

A área é considerada uma região prioritária para a conservação da natureza. Com a criação da reserva em 1998, o Chandless ficou sob a proteção do governo e tornou-se um patrimônio do povo brasileiro.

Dentro da reserva também se encontram duas terras indígenas. Com a Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema, elas formam um corredor ecológico entre o Brasil e o Peru.
(Josafá Batista-A Tribuna do Acre-Rio Branco-AC-05/12/04)

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