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Vazão menor em Belo Monte pode elevar preço da energia

Valor Econômico - https://valor.globo.com/empresas/noticia
06 de Jan de 2021

Vazão menor em Belo Monte pode elevar preço da energia
Questões ambientais levam Ibama a estudar possível redução do fluxo de água na usina

Por Gabriela Ruddy - Do Rio

Cerca de um ano depois de entrar em plena operação, a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, volta a gerar controvérsias devido aos seus impactos ambientais. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai definir até o fim de fevereiro se determinará a redução na vazão do rio Xingu e um estudo da consultoria Thymos mostrou que, caso o órgão opte pela mudança para reduzir os impactos ambientais da usina, poderá haver um aumento de até R$ 40 no preço da energia no mercado de curto prazo de eletricidade em março. Desde o início da operação em 2015, até o fim de 2019, o projeto operou com uma disponibilidade de água menos restritiva, mas a partir de 2020 estava previsto o início um período de seis anos de alteração entre diferentes vazões, definido pelo Ibama. No entanto, análises feitas pelo instituto em 2019 verificaram um aumento na intensidade dos impactos ambientais do empreendimento, referentes, por exemplo, às inundações periódicas de planícies próximas, além de alterações nas populações de peixes e nas condições de navegação do Xingu.
Com isso, o órgão ambiental solicitou estudos complementares ao consórcio Norte Energia, responsável pelo projeto, entregues em dezembro. Procurado, o consórcio afirmou que a possibilidade de mudança na vazão do Xingu o surpreendeu. Os documentos estão em análise pelo Ibama, que vai tomar até o fim do mês que vem a decisão sobre mudar ou não a vazão do rio que atende a hidrelétrica. O estudo da Thymos aponta que uma eventual redução no volume de água disponível para Belo Monte pode impactar todo o sistema elétrico brasileiro. A mudança na vazão poderia causar aumento de R$ 10 por megawatt hora (MWh) em janeiro no preço de liquidação das diferenças (PLD), utilizado no mercado de curto prazo de energia, no qual negociam os consumidores que estão no mercado livre, ou seja, aqueles não são atendidos por distribuidoras regionais. O impacto pode subir para R$ 13 por MWh em fevereiro e R$ 28 por MWh em março, mesmo que a demanda por energia nesses meses apresente comportamentos típicos para a época. Caso, por outro lado, ocorra um aumento no consumo de eletricidade nacional, a alta nos preços pode chegar a R$ 40 em março. "Belo Monte é uma usina considerada estruturante. Essa própria definição leva a entender que ela é relevante para o país. Estamos falando da terceira maior hidrelétrica do mundo. Tirar um volume da usina de operação, gerando menos do que poderia, impacta a segurança energética", explica o sócio da Thymos, Alexandre Viana.
Além dos impactos nos preços de energia, o estudo da consultoria mostrou também que redução da vazão vai impactar o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE). O mecanismo transfere volumes excedentes das usinas que geraram além de sua garantia física para aqueles que geraram abaixo, de modo a equilibrar o mercado. Com isto, pode haver desequilíbrios no sistema e alterações na medição do risco hidrológico. Segundo o gerente de preços e estudos de mercado da Thymos, Gustavo Carvalho, outras hidrelétricas podem ser impactadas pela mudança. "O MRE funciona como um condomínio, criado para mitigar o risco hidrológico; se uma hidrelétrica gera mais do que o previsto e outra gera menos, há uma compensação entre elas. De certa forma estamos discutindo um risco não hidrológico, então outras usinas podem vir a pedir alguma compensação por isso", explica Carvalho. De acordo com o próprio consórcio Norte Energia, uma redução na vazão do Xingu determinada pelo Ibama entre outubro e dezembro já causou perdas na geração de Belo Monte equivalentes a 142 MW médios. Em 2021, a concessionária estima que a perda pode chegar a 1.575 MW médios, equivalentes a 45,7% da garantia física da usina. Um outro efeito da redução da geração seria o subaproveitamento da linha de transmissão construída para atender ao projeto. A infraestrutura de 2,5 mil quilômetros de extensão é operada pela Xingu-Rio Transmissora de Energia, subsidiária da chinesa State Grid, e custou R$ 5 bilhões.
Com 11,2 gigawatts de potência, a usina de Belo Monte somente entrou em plena operação em novembro de 2019, nove anos após a assinatura do contrato de concessão pela Norte Energia. A construção do empreendimento foi alvo de polêmicas na última década, devido aos impactos ambientais e sociais associados à inundação do terreno para a construção do reservatório, com efeitos principalmente sobre populações indígenas e ribeirinhas da região de Altamira, no Pará. A expectativa do mercado é que a Norte Energia e o Ibama cheguem a um consenso sobre a questão da vazão do reservatório que evite maiores impactos ao setor de energia no país. A concessionária defende a possibilidade de manter estudos e monitoramentos permanentes e que eventuais desvios em relação aos impactos previstos inicialmente possam ser alvo de ações mitigatórias. De acordo com o sócio da Thymos, revisitar as condições para um projeto que já tem licença ambiental emitida pode passar um sinal ruim para investidores. "É importante sempre ter uma visão integrada, focar em discutir o legado dos projetos de forma estruturada e abrir mão dos extremos", diz Viana.

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