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Vários crimes ambientais em Paraty

OESP, Vida, p. A13
07 de Fev de 2006

Vários crimes ambientais em Paraty
Em blitz que vai até domingo, Ibama flagrou construção irregular do piloto Xandy Negrão; outras serão vistoriadas

Felipe Werneck

Uma mansão avaliada em US$ 3 milhões, encravada na Praia do Caracoatá, no fiorde tropical do Saco de Mamanguá, em Paraty, com heliponto, seis bangalôs, sauna, academia de ginástica construída sobre um rio que teve o curso desviado e uma piscina na areia. Tudo irregular, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que conclui até o fim da semana processo administrativo em que deve pedir a demolição da casa, disse ontem o gerente-executivo do órgão no Rio, Rogério Rocco.
O terreno de 56 hectares, protegido por duas Áreas de Proteção Ambiental (APA) - de Cairuçu e Reserva Ecológica de Juatinga -, é do empresário Alexandre Funari Negrão, o Xandy Negrão, também piloto da Stock Car. Foi vistoriado ontem por técnicos do Ibama e militares da Marinha.
"Há unanimidade dos órgãos ambientais quanto à situação ilícita da construção", afirmou Rocco. "Faremos nova vistoria na quarta-feira e um laudo minucioso. A tendência é que se decida pela demolição, com comunicação ao Ministério Público Federal para procedimento nas esferas cível e criminal."
Pelo menos outras 20 construções de alto padrão serão vistoriadas amanhã no Saco de Mamanguá. A operação, iniciada no domingo e coordenada pelo Ibama, tem a participação do Exército, da Marinha, da Receita Federal e das Polícias Federal, Rodoviária Federal e Militar.
A lei diz que qualquer atividade na região precisa de autorização do Ibama e do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Os documentos mostram que o empresário procurou o Ibama em dezembro de 2002 e pediu uma autorização para "projeto residencial". A resposta, negativa, veio em julho de 2003. No entanto, Negrão já havia começado a construir. Entre 2003 e 2004, ele foi autuado três vezes, recebendo multas que variavam de R$ 50 mil a R$ 300 mil.
Medidas compensatórias
Em fevereiro de 2004, o empresário procurou o Ibama e propôs um termo de compromisso, que foi assinado em 4 de junho do mesmo ano. O documento cancelava todos os autos de infração e multas e regularizava a construção em troca de medidas compensatórias: plantio de 1.500 mudas, construção de sistema de esgoto e sistema de drenagem para evitar erosão.
Resultado: o Ibama virou réu em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal, junto com os infratores (Negrão, o arquiteto e a construtora responsáveis pela obra). Na ação, o MPF pede a demolição da casa.
Na semana passada, Rocco publicou no Diário Oficial decisão que anula o termo de compromisso. Sobre a possibilidade de corrupção ao longo do processo, ele avisa: "Vamos apurar internamente a motivação de quem assinou o ato administrativo. O que foi apelidado de medida compensatória é vexaminoso. Decidimos pela revalidação das multas, que chegam a R$ 1,3 milhão em valores atualizados."
Defesa
Em nota oficial, a advogada de Negrão, Vanusa Murta Agrelli, alega que construção no Saco do Mamanguá atendeu a todas as normas e exigências legais. Ela afirma que o terreno foi adquirido após a extinção legal da reserva ecológica prevista para o local e que as obras não provocaram supressão da mata, porque substituíram duas antigas edificações.
Na operação de ontem, uma pessoa foi presa na Serra da Bocaina, acusada de desmatar 4 mil hectares do parque nacional. O detido, Enoque Soares, também foi multado em R$ 24 mil. "A degradação é democrática, ocorre com casas de alto e baixo padrão", diz Rocco.
A força-tarefa criada para vasculhar problemas ambientais em Angra dos Reis e Paraty termina no domingo. "Não vamos resolver todos os problemas da região em uma semana, mas acho que passaremos uma mensagem."

OESP, Vida, 07/02/2006, p. A13

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