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Valoração da caminhada, indignação e revolta marcam abertura do I Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia

Coiab-Manaus-AM
08 de Nov de 2003

A abertura do I Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia, esteve marcada por discursos de valoração da caminhada do movimento indígena, fruto de anos de luta e sacrifícios que custaram a vida a muitas lideranças, e por um clima de indignação e revolta, face ao comportamento de descaso e morosidade adotado pelo governo Lula a respeito dos direitos dos povos indígenas.

As lideranças valorizaram a iniciativa da Coiab em promover o I Fórum, por permitir que o movimento indígena se reencontre para discutir os seus principais problemas buscando uma saída comum, a pesar da diversidade de experiências, identidades e culturas. "Este é o momento oportuno para definirmos as políticas públicas que queremos, diferentes das que normalmente propõe e promove o governo, que normalmente não conhece a nossa cultura e reais necessidades", afirmou o líder Djarruri Karajá.

O líder Davi Kopenawa/Yanomami, lamentou que não houvessem mais não índios na platéia do Fórum, "para ouvirem os problemas qulemaixaram para nós, para a nossa natureza e cultura, desde que invadiram as nossas terras". Como exemplo desses problemas lembrou que a terra indígena Yanomami que já foi homologada continúa até hoje invadida. Davi conclui o seus discursos pedindo à Coiab e a todos os presentes que se empenhem na homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, como área contínua, em Roraima.

Para o coordenador geral da Coiab, Jecinaldo Saterê Mawé, o I Fórum Permanente dos Povos Indígenas, expressa a necessidade das lideranças e organizações indígenas de se encontrarem, visando o fortalecimento do movimento indígena em cada região do país, passo importante para a construção do movimento indígena a nível nacional. "Não adianta tomar iniciativas nacionais, se antes não dispormos de organizações indígenas fortes e bem articuladas nas regiões", ressaltou.

O ex-coordenador da Coiab, Euclides Macuxi, descreveu a peculiaridade do movimento em 2003. Nos anos 80, disse Euclides, o movimento indígena era mais reivindicatório e as organizações indígenas atuavam de forma isolada. A Coiab veio para possibilitar a articulação dessas organizações. Hoje, o movimento indígena enfrenta o desafio de não apenas criticar e cobrar. Ele tem que avançar para a definição e execução de ações propositivas, nas diferentes áreas de seu interesse: territorialidade, saúde, educação, etnodesenvolvimento e questão ambiental. Junto a esse desafio, segundo Euclides, vem a necessidade de formar quadros para o movimento indígena. O ex-coordenador geral da Coiab faz questão de esclarecer que esta perspectiva não implica em deixar de lado os iniciadores do movimento, as lideranças antigas e tradicionais. "O que se quer é responder de forma adequada às demandas impostas pelos novos tempos.", concluiu.

O Coordenador Geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), Sebastião Alves Manchineri, destacou na sua exposição a necessidade de os Estados da Amazônia Continental garantirem a proteção dos territórios indígenas, dos recursos naturais e da biodiversidade, bem como a sustentabilidade desses povos e o respeito aos sistemas jurídicos indígenas, como forma de salvaguardar a diversidade, identidade, espiritualidade e continuação histórica dos povos indignas, que enquanto habitantes imemoriais da Amazônia querem viver nas suas terras livres e em paz. Sebastião destacou ainda a necessidade do fortalecimento institucional das organizações indígenas e da formação acadêmica e científica das lideranças do movimento indígena, para incidirem com qualidade na definição do destino de seus povos.

O representante da Coica no Fórum Permanente dos Povos Indígenas na Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Jacanamijoy, caracterizou o Fórum Permanente da Coiab como evento convergente às iniciativas dos povos e organizações indígenas de outros países do continente, que também hoje estão empenhados em garantir a vigência de seus direitos. Antônio Jacanamijoy comprometeu-se em levar as resoluções do I Fórum Permanente da Coiab para o Fórum Permanente da ONU.

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