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'Vale a pena investir em energia no Brasil'

O Globo, Economia, p. 35
Autor: MEXIA, António
21 de Out de 2007

'Vale a pena investir em energia no Brasil'
EDP quer diversificar operações no país e aposta em projetos de geração de térmicas a carvão e eólica

Entrevista: António Mexia

O presidente da Energias de Portugal (EDP), António Mexia, quer diversificar investimentos em terras brasileiras.
Hoje, a subsidiária Energias do Brasil atua principalmente na distribuição: Bandeirante Energia (SP), Escelsa (ES) e Enersul (MS). O alvo, agora, é geração. O plano prevê R$ 2,2 bilhões até 2010. Em estudo, pequenas hidrelétricas, térmicas a carvão, eólica e até biomassa.

Mirelle de França*

O Globo: A EDP pretende diversificar os negócios no país?

António Mexia: Estudamos construir mais de 20 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que somariam cerca de 540 megawatts. E também queremos investir em usinas térmicas a carvão, porque ficam prontas mais rápido, em cerca de três anos, enquanto a construção das hidrelétricas pode levar até cinco anos.

E usinas térmicas a gás? Estão descartadas?

Mexia: Gás no Brasil, hoje, é um problema. Por outro lado, já estamos estudando o mercado de etanol brasileiro para produzir biomassa. Só que não é fácil negociar com os fornecedores do setor (usineiros), o que significa que, se o objetivo é responder rápido à demanda de energia, teremos um problema pela frente.

A empresa tem forte presença em geração eólica na Europa e, agora, também nos EUA. O Brasil não tem potencial nesse setor?

Mexia: Já somos o quarto maior player de energia eólica do mundo. Sem dúvida, o Brasil oferece condições físicas muitos boas, mas não posso dizer o mesmo em relação ao marco regulatório. O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) tem limitações.

Qual a imagem que o Brasil projeta para um investidor estrangeiro de energia elétrica?

Mexia: O Brasil é um país que conta hoje com estabilidade econômica e também bom capital humano. O problema são as mudanças nas regras do jogo. Mas, sem dúvida, vale a pena investir no país.

País tem que recuperar tempo perdido, diz Mexia

O Globo: Qual o papel das operações brasileiras da EDP na estratégia de crescimento da empresa?

António Mexia: Nosso plano é crescer em torno de 14% ao ano, de 2006 a 2010. O Brasil deve e pode contribuir muito para este crescimento. Tudo vai depender, no entanto, das oportunidades que surgirem no mercado brasileiro.

Qual o foco dos novos investimentos que a EDP pretende fazer no Brasil? MEXIA: Depois de investirmos em distribuição numa primeira fase, agora queremos crescer em geração. Hoje, temos 70% investidos em distribuição e 30% em geração. Mas queremos equilibrar a proporção atual.

Por quê?

Mexia: Faz mais sentido equilibrar os investimentos. É na geração que vão surgir as melhores oportunidades, porque é esse segmento que precisa de resultados mais urgentes no Brasil. É preciso recuperar o tempo perdido, ou seja, a falta de investimento em geração nos últimos anos.

A que o senhor atribui essa falta de investimentos?

Mexia: Durante anos, foram aprovadas menos hidrelétricas do que o esperado, por causa de questões ligadas ao licenciamento ambiental. Esse quadro vai acabar fomentando o crescimento de usinas térmicas, que ficam prontas mais rapidamente.
Fala-se na hidrelétrica do Rio Madeira, mas é preciso tocar projetos de menor porte nesse segmento, entre 150 megawatts e 350 megawatts. E é nisso que estamos pensando.

O senhor acredita que o Brasil vive o risco de um novo racionamento de energia ou até mesmo de um apagão elétrico no médio prazo? MEXIA: Espero que o Brasil cresça mais do que o previsto, entre 3,5% e 5%, e isso, inevitavelmente, eleva o risco. Por isso, temos que aumentar a capacidade instalada e recuperar o tempo perdido.

Em relação às participações que a EDP já tem no Brasil, como fica a situação específica da Ampla (distribuidora fluminense)?

Mexia: Não tem mais sentido estratégico para nós mantermos nossa participação, que é minoritária, na Ampla. Vamos aguardar o momento certo, esperar uma oferta pública de ações, por exemplo, para sairmos do negócio.

A EDP está estudando novas aquisições no Brasil?

Mexia: Estamos sempre observando o mercado.

Como o senhor vê o cenário atual das empresas de energia no Brasil?

Mexia: Acredito que haverá um movimento de consolidação.
Há um certo risco de atuar em apenas uma área, como geração ou distribuição, deve haver um mix nos negócios.
(*) A repórter viajou a convite da Energias do Brasil

O Globo, 21/10/2007, Economia, p. 35

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