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Vale do Rio Doce vai espalhar árvores pelo mundo

O Globo, Economia, p. 40
23 de Set de 2007

Vale do Rio Doce vai espalhar árvores pelo mundo
Mineradora patrocinará 3 bilhões de árvores para combater efeito estufa, mas lança mão de térmica a carvão

Liana Melo

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) está longe de neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa, mas seu projeto de plantar 346 milhões de árvores até 2010, associado ao programa de apadrinhamento de três bilhões de árvores ao redor do mundo, representa um estoque de 1,160 bilhão de toneladas de gás carbônico (CO2) captado da atmosfera. O benefício será obtido ao longo de 21 anos, mas, apesar disso, esse já é o projeto de preservação ambiental privado mais ousado da América Latina. Até agora, esse posto cabia ao Bradesco, que tem no seu planejamento a previsão de plantar 20,5 milhões de árvores até 2009.

A segunda maior mineradora do mundo, dona de uma produção de 264 milhões de toneladas de minério de ferro, em 2006, vai espalhar árvores pelo Brasil - numa área equivalente a 300 mil hectares, o que corresponde a 2,5 vezes o tamanho do Rio de Janeiro. E, também, pelo mundo, na França, na Nova Caledônia (colônia francesa localizada na Oceania, a meio caminho entre Austrália e Nova Zelândia) e no Canadá.

No Guandu, árvores vão recuperar ecossistema
As mudas vão sair dos viveiros da própria empresa, que ficam em Linhares (ES) e em Canaã (AM). Seu banco de mudas soma 55 milhões de unidades de 800 espécies diferentes. Só o Rio de Janeiro, onde está instalada a sede da empresa, vai receber 100 milhões de mudas, e parte delas já começou a ser semeada na Ilha Grande, no Sul Fluminense. Lá, a Vale uniu-se ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) para recuperar esse paraíso ecológico ameaçado pelo turismo predatório e pela degradação ambiental, comentou o engenheiro florestal Ciro Ribeiro, responsável pelo reflorestamento da ilha. Mais um milhão de espécies, também da Mata Atlântica, foi doado ao governo do Estado do Rio e será plantado às margens do Guandu, ajudando a recuperar a mata ciliar.

- Para o senso comum, a mineração é, por essência, uma atividade prejudicial ao meio ambiente. Só que é possível conjugar mineração com proteção ambiental - defende o diretorexecutivo de Meio Ambiente da empresa, Walter Cover.

Ele lembra que a prova é Carajás, a maior reserva de minério de ferro a céu aberto do mundo, no Pará, onde a preservação está restrita ao entorno da mineradora.

Apesar do esforço concentrado para atuar de forma menos agressiva no meio ambiente, a Vale emitiu, em 2005,10,8 milhões de toneladas de CO2. As emissões da canadense Inco, recém-adquirida pela Vale, não estão incluídas nesse cálculo. É um volume bem abaixo da concorrência. As emissões da gigante australiana BHP Billiton chegaram a 51 milhões de toneladas de CO2, em 2006. A distância abissal entre as duas primeiras do ranking mundial da mineração está no fato de a BHP também atuar na área de exploração de petróleo. Já a Rio Tinto emitiu em 2006, 28,3 milhões de toneladas de CO2.

Projeto não neutraliza as emissões da empresa
Ainda que não consiga neutralizar suas próprias emissões, o projeto da Vale vem sendo considerado exemplar, já que ele vai ao encontro da vocação florestal do Brasil, segundo Eduardo Petit, diretor da Max Ambiental, uma das maiores empresas de consultoria ambiental do país. Para ter uma dimensão do que ele significa, basta comparar com os cálculos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) sobre as emissões do Brasil: 1,4 bilhão de toneladas de CO2 em 2006, incluindo a taxa de desmatamento da Amazônia.

Ex-presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o engenheiro Paulo Braga concorda que é importantíssima a iniciativa da Vale. Mas, considerando que a empresa é um consumidor voraz de recursos naturais não renováveis, não basta plantar árvores:
- É preciso rever processos - afirma Braga.

Os primeiros passos nessa direção já foram dados. Desde o começo do ano, as locomotivas da Estrada de Ferro VitóriaMinas e da Estrada de Ferro Carajás passaram a ser abastecidas com uma mistura de 20% de biodiesel e 80% de diesel comum. A medida vai gerar uma economia de 224 mil toneladas de CO2. Enquanto no setor de logística a Vale está lançando mão de projetos de energia alternativa, na outra ponta admite que não descarta térmicas a carvão mineral.
Em Barcarena, no Pará, onde será implantada a primeira delas, a Vale calculou as emissões que serão geradas: 2,2 milhões toneladas de CO2 anuais. A unidade só não entrou em operação porque o licenciamento ambiental ainda não saiu.

O Globo, 23/09/2007, Economia, p. 40

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