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Vale do Ribeira PETAR

Aventura & Ação, n. 162, fev./mar. 2011, p. 50-63
31 de Mar de 2011

Vale do Ribeira PETAR

Frágeis e fascinantes, as cavernas exibem um particular mundo escuro e silencioso, que atrai pelos mais diversos motivos: curiosidade, ciência ou aventura. Entre vales e montanhas no sul do Estado de São Paulo, o Petar abriga a maior concentração de grutas do Brasil, além de trilhas e dezenas de cachoeiras, em meio à Mata Atlântica preservada

Texto e fotos Daniel Cotellessa

Mais de 80% da população brasileira vive nos domínios da Mata Atlântica, da qual restam pouco mais de 7% do território original. Mesmo reduzida e fragmentada, seus ecossistemas ainda abrigam imensa riqueza de espécies animais e vegetais e contam com os mais altos índices de biodiversidade do planeta. Por esses motivos, a Mata Atlântica é considerada um dos cinco biomas mais ameaçados do mundo.
Suas florestas garantem abastecimento de água para 120 milhões de pessoas, conferem estabilidade às encostas, contribuem para a melhoria do clima e preservam um imenso patrimônio histórico e cultural. O maior território contínuo de remanescentes de Mata Atlântica do País, por mais contrastante que seja, encontra-se no Estado de São Paulo: na Serra do Mar, no Vale do Ribeira, na Serra da Mantiqueira e na Serra do Paranapiacaba.
Rumando para o Vale do Ribeira, a fim de conhecer um pouco desse exuberante fragmento de um dos biomas mais ricos do mundo, me deparei com uma paisagem linda e preservada, com casas simples instaladas no meio da mata, que beira as águas barrentas do Rio Ribeira de Iguape.
Datado de 1576, Iporanga, município bastante simples, preserva um centro histórico tombado pela Unesco, como patrimônio histórico da humanidade, e hoje vive basicamente do turismo, pois tem o privilégio de ser uma das cidades que abriga o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira o Petar.
Conhecido como o principal parque de cavernas do Brasil, ao todo, a unidade exibe cerca de 35 mil hectares de Mata Atlântica preservada, em que se espalham centenas de cavernas, trilhas e cachoeiras, além de comunidades tradicionais e quilombolas, sítios arqueológicos e paleontológicos que se exibem no entorno da unidade.
Viagem ao centro da Terra
Há milhares de anos, as cavernas provocam encantamento no homem. Nossos ancestrais usavam essas formações como abrigo e nelas abandonaram restos de fogueiras e ossos e pintaram suas histórias em símbolos que até hoje despertam a curiosidade das gerações posteriores.
Sejam em pinturas rupestres, em depósitos minerais ou acidentes geológicos, os ambientes de cavernas preservaram diferentes momentos da história da Terra, criando um mundo a ser descoberto e propiciando um intenso contato com a natureza. Mais do que caminhar sobre o chão, caminhamos "dentro" da terra, envolvidos por rochas e, muitas vezes, por verdadeiras obras de arte da natureza.
No Petar, os aventureiros atraídos por esse mundo subterrâneo podem se divertir em 12 cavernas abertas à visitação (das 300 catalogadas).
São grutas de todos os tipos e níveis de dificuldade: silenciosas ou barulhentas com seus rios, corredeiras ou cachoeiras; escuras ou superiluminadas com escadas, passarelas e pontes; com o maior pórtico de caverna do mundo ou com entrada de apenas 50 cm² para quem busca mais adrenalina.
Os núcleos
O Parque está dividido em quatro núcleos de visitação. O Núcleo Santana abriga as cachoeiras do Couto, Betarizinho e Andorinha e as cavernas Água Suja, Morro Preto e a mais visitada, a enorme Caverna Santana. O Núcleo Caboclos, que é o mais isolado do restante do Petar exibe as duas magníficas cavernas Teminina e Desmoronada.
O Núcleo Casa de Pedra conta com a caverna de pórtico de cerca de 220 metros de altura, que pode ser acessada por uma bela e exigente trilha de cerca de três horas em meio a muita Mata Atlântica. Já o Núcleo Ouro Grosso, em compensação, exibe a caverna que leva o nome do núcleo com uma abertura minúscula, em que você precisa entrar rastejando até chegar aos salões mais altos, inclusive o que exibe uma cachoeira muito refrescante com um poço perfeito para um delicioso mergulho.
Núcleo Santana
Pela diversidade de atrativos que oferece, o Núcleo Santana é o mais popular entre os turistas que chegam a Iporanga, além de contar com uma boa estrutura, que inclui um restaurante, banheiros, estacionamento e centro de visitantes que vende artesanatos das comunidades quilombolas da região.
Na nossa incursão pelo Parque, contamos com a companhia do guia ambiental do Parque Aventuras, Jura, filho do famoso guia Joaquim Justino, o J.J, que, em 1960, começou as incursões nas cavernas e descobriu cerca de 30 grutas.
Trilha do Betary
Muito bem acompanhado, portanto, dei início à Trilha do Betary em meio à mata rica em fauna e flora, que acompanha o Rio Betary.
Durante a caminhada, atravessamos seu curso cinco vezes de uma margem a outra em um estimulante percurso de sete quilômetros.
Além da beleza e refrescância do Betary, a grande atração da trilha é a Caverna Água Suja, onde presenciamos um fenômeno hidrogeológico (condensação da umidade atmosférica em cavernas subterrâneas) que ocasionou o aumento do nível de água dentro da formação que exibe, inclusive, uma queda de dois metros em um dos salões. Para curtir a sensação única de um banho de cachoeira em plena caverna, os visitantes enfrentam água de aproximadamente 13 graus de temperatura até o peito. Além de bastante água, a caverna exibe formações de estalactites e estalagmites muito peculiares e lagos travertinos (rochas compactas e cristalinas, formadas por precipitação do carbonato de cálcio). Esta também é uma das poucas cavernas que está totalmente "viva", podendo-se observar, ao final do trecho visitável, um grande desabamento não muito antigo.
Voltando à trilha, é possível avistar diversas aves como pica-paus, arapongas, sabiás, saíras e uma ave muito peculiar e mais difícil de ser observada, graças à sua incrível capacidade de mimetismo, o urutau.
Outra surpresa no caminho é o imponente afloramento rochoso Torre de Pedra, que aparece no meio da mata com seus 20 metros de altura. No seu entorno, foram encontrados vestígios que indicam a presença de moradores primitivos no lugar. Mais à frente, os caminhantes chegam à Gruta do Cafezal, com 215 metros de extensão, uma ampla galeria e um salão final bastante cênico.
Quando o barulho da água aumentou na trilha, percebi que estávamos a um passo de alcançar a impressionante Cachoeira das Andorinhas, de 30 metros de altura. Sua queda d'água forte impossibilita o banho, mas admirá-la é recompensador. A queda está incrustada em um paredão rochoso com musgos verdes em suas paredes, onde vivem as andorinhas que lhe deram o nome.
Se não resistir à vontade de cair na água, é só seguir até a Cachoeira do Betarizinho, que fica perto do local. Com uma queda de 45 metros, proporciona um belo banho capaz de repôr as energias antes do retorno ao trekking.
Caverna Santana
A maior caverna do Petar (e uma das maiores do Estado) tem acesso fácil a partir da entrada do Núcleo Santana. São mais de sete quilômetros de extensão ao todo, mas a visitação só é permitida em 490 metros que formam um circuito.
O destaque fica por conta da diversidade de espeleotemas (ver box), com seus intrigantes formatos, como estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, represas de travertino, helictites (depósitos que crescem em diversas direções) e o chamado chão de estrelas (cristais que refletem), além da grande variação em sua morfologia, que inclui a galeria do rio, percorrida pelo Ribeirão Roncador. A caminhada por seu interior é surpreendente: o teto se abaixa, o silêncio dá lugar ao barulho do rio, e de repente se abre um grande salão, um abismo, uma pequena passagem entre blocos; tudo é intrigante nesse mundo curioso.
Na saída da gruta, a pedida é seguir por uma pequena trilha de 400 metros que leva à bela Cachoeira do Couto. Com seis metros de altura, a queda exibe um poço ideal para banho com as águas que saem diretamente da Caverna do Couto, alcançada em alguns metros mais de caminhada.
Couto e morro preto
A caverna do Couto propicia uma interessante vista de um grande jardim natural que se forma do outro lado do morro, o sumidouro do Córrego do Couto. No interior da gruta de 470 metros de extensão, há uma ligação com a Caverna Morro Preto, com a qual compõe um sistema.
A travessia, porém, é para poucos, restrita a grupos preparados e com prévio agendamento.
O pórtico desta caverna de 25 metros de altura é um dos mais bonitos do Parque.
Mais adiante, no Anfiteatro, o espetáculo da luz que invade a caverna, ressaltando os caprichos naturais por todos os cantos.
Rapel da laje branca
Um dos melhores atrativos do Petar, além da exploração das diversas grutas, é o rapel na boca da Caverna Laje Branca, com uma vista de tirar o fôlego. A trilha até a caverna que sai da Estrada do Lageado exibe o abismo Juvenal, o maior abismo (caverna cujo desnível é maior que o seu desenvolvimento horizontal) de calcário do Brasil, com 241 metros de desnível, sendo objeto de vários estudos e pesquisas.
O final da trilha premia os mais aventureiros com a descida emocionante em um negativo de 130 metros, sem tocar os pés, em um espetacular vazio. A adrenalina é complementada com a contemplação das estalactites imensas na gruta e um vale com mata virgem a perder de vista do outro lado, além das gotas d'água que despencam do teto até o solo. A Caverna Laje Branca é uma das mais impressionantes do Petar, mas fechada para visitação por não ter plano de manejo.
No começo da descida, seu portal já impressiona, com uma entrada de grande dimensão e uma parede de calcário com aproximadamente 100 metros, que nos faz sentir pequenos perto de tamanha imponência e beleza.
Após a descida de rapel, nos preparamos para subir o desnível por uma trilha íngreme e cansativa, mas abastecidos pela energia da experiência magnífica proporcionada pela natureza nesse lugar especial.
Boia cross
Descer o Rio Betary de boia é diversão garantida. A atividade surgiu na cidade de Iporanga, com os exploradores de cavernas mais antigos da Sociedade Brasileira de Espeleologia que usavam boias de caminhão para transportar equipamentos espeleológicos pesados em cavernas molhadas e nos rios da região. A brincadeira se espalhou e ganhou até um campeonato que acontece todos os anos na cidade.
O trecho do Rio Betary, no bairro da Serra, é bem tranquilo, ideal para iniciantes, com descidas de classes I e II. A descida reveza algumas corredeiras que dificultam a passagem da boia, com troncos e pedras e também poços de águas profundas. Aos poucos, a velocidade aumenta, proporcionalmente à adrenalina daqueles que se habilitam ao desafio. Nos trechos mais calmos, é possível admirar a beleza das margens do rio cobertas pela mata preservada.
Off road
De 4x4, uma boa dica é conhecer a ex-mina de chumbo em Iporanga. Saindo da base da empresa Parque Aventuras no bairro da Serra, são 30 km de estradinha de chão esburacada, curvas, subidas e descidas com visuais espetaculares em uma estrada abandonada há mais de 50 anos, que hoje é usada apenas por alguns moradores.
A região tem um interessante histórico de mineração, que vai do ouro ao calcário, passando pelo chumbo. A antiga mina de chumbo do Lageado é um exemplo disso, foi aberta na década de 30 pela Companhia de Mineração Iporanga. Sua duração não foi muito extensa, mas representa um importante marco histórico para a região.
É interessante entrar em uma das minas e conhecer um pouco de como funcionava esse tipo de trabalho, que felizmente foi interrompido graças à legislação, pois esse tipo de atividade gera um impacto irreversível no ambiente natural.
Lá dentro, quando se afasta da entrada, a luz desaparece e a sensação é de estarmos em outro universo. A temperatura fica mais amena e só é possível caminhar com auxílio de luz artificial, como nas cavernas. Com sorte, é possível avistar alguns animais cavernícolas.
Reality show da natureza
Em Iporanga, uma diversidade de animais é monitorada por uma equipe de biólogos dedicados a estudar, entender e preservar um dos biomas mais importantes do País.
Além de explorar cavernas, fazer trilhas e tomar banho de cachoeira, em Iporanga vale muito a pena conhecer a Reserva do Betary, um Laboratório Experimental Temático da Mata Atlântica.
Através das câmeras, é possível acompanhar e estudar o comportamento dos grupos de mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e plantas por horas, semanas e até meses na Reserva que é uma unidade de conservação particular, reconhecida como posto avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e em processo de se transformar numa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
O espaço abriga um Centro de Estudos da Biodiversidade - CEB, direcionado ao estudo científico e divulgação da flora e da fauna da Mata Atlântica, além da atuação com educação ambiental para grupos escolares e de turistas.
Com aproximadamente 60 hectares, a Reserva tem um papel estratégico por estar na maior área de remanescentes preservados de Mata Atlântica e diversas Unidades de Conservação.
A ótima infraestrutura inclui sala climatizada para 40 pessoas (onde ocorrem palestras, cursos técnicos, projeção de filmes e apresentações multimídia), um laboratório e biotério, que é um lugar destinado a estudos e criação de insetos e organismos para alimentação dos répteis, anfíbios e peixes.
Os visitantes ainda conhecem uma estufa de 600 m², com ambientes de diversos habitats de Mata Atlântica, plantas típicas da floresta como palmeiras e samambaiaçus, brejos, ambientes aquáticos, cachoeira, riachos e um bromeliário, além de área para germinação de sementes, produção de mudas, tanques de cultivo de plantas aquáticas e criação de peixes de riacho.
O grande arsenal de equipamentos monitorando as atividades dos seres vivos na estufa remetem a um verdadeiro reality show da vida animal, com câmeras espalhadas por todos os lados. "É possível observar o comportamento reprodutivo das espécies de sapos, pererecas e rãs, período reprodutivo, número de ovos postos, saber se são territorialistas, se elas entram em combate, e registrar o comportamento no momento da reprodução (vocalização do macho, corte, duração do abraço nupcial), explica a bióloga Ana Martins. "Com a câmera de infravermelho, capturamos imagens noturnas de animais como o cachorro-do-mato e lontras, entre outros", complementa.
Dentro da estufa, há a sala escura para observação e estudo de curiosas espécies de fungos bioluminescentes e cogumelos que emitem luz instigando cientistas e turistas. Essa região da Mata Atlântica abriga diferentes espécies nativas desses organismos especiais.
No ambiente escuro, também é possível observar a fluorescência de líquens, plantas e rochas expostas à radiação ultravioleta.
Em um lago de 500 m², é possível espionar, por meio de cinco janelas submersas, um pouco dos interessantes habitats aquáticos. Existem ambientes de fundo rochoso e fundo de areia, outros com troncos caídos e folhas, que abrigam plantas aquáticas sésseis e flutuantes, e espécies de peixes, cágados e tartarugas, entre outras.
Há também duas pequenas trilhas para visitas didáticas: a trilha do Poço dos Veados, com cerca de 200 metros, que leva a um local para banho no Rio Betary, e a trilha do Rio Betary, com 650 metros que acompanha a margem direita do rio, em circuito que sai do CEB, passa pelo aquário e retorna para a sede.
Uma opção bem interessante é fazer a visita na Reserva à noite (mínimo de 10 pessoas). A observação dos animais é mais fácil nesse período, pois os anfíbios têm vida noturna e a estufa fica repleta de exemplares que coaxam como em uma sinfonia da natureza, a noite inteira.
Caverna do diabo
A caverna mais conhecida do Vale do Ribeira abriga inúmeros espeleotemas e um rio que atravessa toda sua extensão.
A 30 km da cidade de Iporanga, a Caverna do Diabo, que é conhecida como uma das mais lindas grutas do Brasil, fica dentro do Parque Estadual Caverna do Diabo, integrando o Mosaico de Unidades de Conservação do Jacupiranga, criado em 2008 no município de Eldorado.
Com cerca de 250 mil hectares, esse mosaico é formado por diversas Unidades de Conservação (UCs), em que a gestão dos recursos naturais acontece com a participação das comunidades. Nessas áreas, há diferentes formas de preservação, desde restrição total, parcial ou mesmo áreas em que os moradores podem desenvolver atividades econômicas de forma sustentável.
A Gruta da Tapagem ou Caverna do Diabo, como é mais conhecida, tem mais de dois milhões de anos, mas só foi estudada pelo naturalista alemão Richard Krone, que, a partir de 1886, descreveu 42 cavernas na região do Vale do Ribeira. Lendas curiosas estão por trás do nome da caverna: grupos indígenas acreditavam que as estalagmites e as estalactites eram pessoas ou animais petrificados e que as gotas que pingavam do teto teriam o poder de transformá-los em pedra.
Outra teoria é que os caboclos da região acreditavam que a caverna era morada do diabo e a porta para o inferno, devido aos sons assustadores que saíam de lá parecendo gemidos de almas castigadas. Há ainda a versão de que os moradores locais armazenavam a colheita no interior da caverna e achavam que era o diabo quem remexia a comida durante a noite. Dizem até que uma das paredes da caverna tem a forma dele.
Ao entrar na caverna, percebe-se instantaneamente uma variação ambiental. A luz diminui, a temperatura cai e a umidade aumenta. Bastante turística, porém, a gruta exibe uma ampla estrutura com passarelas, corrimãos e pontos de luz que facilitam a caminhada no trecho de 600 metros de extensão, onde é permitida a visita.
Uma galeria de rio com mais de quatro quilômetros de extensão e a presença de grandes salões com espeleotemas imensos e outros bastante frágeis fazem da caverna um verdadeiro patrimônio ambiental, com evidências de processos geológicos de grande magnitude que atuaram na região, em diferentes períodos.
O salão conhecido como Catedral de Rochas ou Crateras de Lua possui muitas estalactites e estalagmites, mas a ação da água não está presente apenas no teto e nas paredes. As gotas constantes que caem no mesmo ponto do chão criam crateras que lembram a superfície da Lua.
Na área do Parque, também vale conhecer as trilhas e cachoeiras cercadas de muito verde.
Trilha do Mirante do Governador:
com cerca de um quilômetro de extensão, tem início no acesso à Caverna do Diabo e atravessa uma área de floresta e restinga, terminando no Mirante, localizado 700 metros acima do nível do mar, de onde, em dias claros, pode-se ver grande parte do Vale do Ribeira.
Trilha da Ressurgência: em um trecho de um pouco mais de três quilômetros de extensão, caminha-se por cima da caverna, passando-se por uma roça até chegar na ressurgência da gruta.
Trilha do Araçá: inicia-se próximo à Caverna do Diabo e segue por 500 metros até as três quedas da cachoeira de mesmo nome, onde há uma piscina natural.
Trilha do Lamarca: com extensão de 1,4 km, o percurso acompanha o Rio Batatal, de águas límpidas, e trechos com corredeiras e curvas fechadas. O atrativo principal é a Cachoeira da Luz, com cerca de 70 metros de altura.

O que são espeleotemas?

Os espeleotemas são formações de cristais que surgem de soluções de água combinada com minerais dissolvidos que circulam nas rochas calcárias. Graças à diferença de pressão, essas soluções liberam gás carbônico na atmosfera das cavernas e formam depósitos no teto, nas paredes e no chão. Com o passar de muitos e muitos anos, vão surgindo verdadeiras esculturas naturais, como é o caso das estalactites, estalagmites, cascatas, colunas, cortinas e helictites.
A formação montanhosa e a densa vegetação presentes na região funcionam como uma barreira aos ventos que vêm do Atlântico Sul, causando uma alta precipitação chuvosa. A ação da água ácida nas rochas calcárias durante milhares de anos propiciou a formação de cavernas com pisos, paredes e tetos ornamentados por inúmeros espeleotemas (estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, etc.). No Petar são encontradas cavidades naturais de diferentes tipos e dimensões, sejam horizontais (chamadas de grutas ou cavernas) ou verticais (chamadas de abismos).

Fauna

A continuidade de outras Unidades de Conservação vizinhas, como o Parque Estadual Intervales- PEI, Parque Estadual Carlos Botelho- PECB e Estação Ecológica de Xitué-EEX, aliada à existência de uma área de entorno ainda conservada, asseguram amplo território à rica fauna, como a onça-pintada (Panthera onca), o mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides), a ave maria-leque (Onychorhyncus coronatus), a ágil lontra (Lontra longicaudis) e curiosos cágados (Hydromedusa maximiliani). Algumas dessas espécies estão em risco de extinção.

As comunidades quilombolas

Outro atrativo turístico interessante do Vale do Ribeira é a questão cultural, especialmente em comunidades quilombolas, que guardam histórias e tradições africanas.
Resistentes à escravidão, desde o início da sua vinda para o Brasil, muitos negros agrupados se refugiavam na mata, formando os quilombos. Em terras abandonadas em várias regiões do País, tornaram-se pequenos produtores rurais autônomos, num processo de ocupação e uso produtivo das regiões florestadas mais distantes dos rios, em áreas interioranas do Brasil, como nas terras abandonadas por fazendeiros no Vale do Ribeira, após o declínio da mineração do ouro, nos municípios de Iporanga e Eldorado.
Fonte: ISA (Instituto Socioambiental)

Ivaporunduva, o quilombo mais antigo

Ivaporunduva, que em tupi-guarani significa "rio de muitos frutos", surgiu em meados do século 18, pela ocupação de mineradores e seus escravos, graças ao declínio da extração do ouro na região. Com a libertação dos escravos, estes foram ampliando seu domínio sobre as terras, que, com o tempo, se transformaram em um local onde negros livres, libertos e também fugitivos, estabeleceram suas residências e áreas de cultivo. A formação do povoamento ocorreu antes de 1888, data da abolição dos escravos. Em 2011, o quilombo de Ivaporunduva é o único que tem registrado em cartório a sua posse, depois de ter sido reconhecido pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp).
Ao chegar na comunidade, fui recebido por Olavo Pedroso, Coordenador de Turismo, e Benedito Alves da Silva, mais conhecido como Ditão, líder da comunidade e presidente da Equipe de Articulação e Assessoria das Comunidades Negras (Eaacone), que me apresentaram o lugar.
Localizado a 55 km do centro de Eldorado, o quilombo possui uma área de aproximadamente 2.800 hectares e mantem 85% de sua área coberta pela Mata Atlântica, com a grande riqueza de espécies da fauna como o jacu, tucano, araponga, macuco, sabiá, veado, paca, macaco, tatu e tamanduá, entre outras espécies.
O restante do território coberto de pasto e de capoeira é utilizado para o cultivo e produção da comunidade, em um sistema de rodízio. Trata-se de uma área muito rica em recursos hídricos, com várias nascentes, rios e córregos que a atravessam.
O acesso para os quilombos antigamente só era possível através de balsa. Hoje, uma ponte recentemente construída facilitou a locomoção das cerca de 80 famílias que moram no lugar, vivendo do cultivo sustentável de banana, que é uma das principais atividades econômicas da região, e algumas atividades de turismo, pois muitas mulheres se dedicam à produção de artesanatos para venda aos visitantes.
Outra fonte de renda é a pousada, que recebe grupos de estudantes interessados no chamado "turismo étnico/cultural" e na experiência mais próxima com a rica tradição mantida por esse povo simples que vive integrado à natureza, preservando seus recursos, apesar de depender deles.

Onde ficar

Iporanga
Pousada das Cavernas
www.pousadadascavernas.com.br
(11) 3814- 9153

Reserva do Betary
www.reservabetary.com.br
(15) 3556- 1470

Parque Aventuras
www.parqueaventuras.com.br
(15) 3556-1320

Como chegar
Rodovia Régis Bittencourt (BR 116) até Jucupiranga,
SP 193 até Eldorado e SP 165 até Iporanga.

Rodovia Castelo Branco (SP 280) até Tatuí ou Sorocaba,
segue para Apiaí e de Apiaí para Iporanga.

Rodovia Regis Bittencourt (BR 116) até Barra do Turvo
e estrada de terra até Iporanga. Raposo Tavares

Aventura & Ação, n. 162, fev./mar. 2011, p. 50-63

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