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Vai dar para escapar?

Veja, Brasil, p. 56-57
25 de Fev de 2015

Vai dar para escapar?
Com o mês de fevereiro mais chuvoso em nove anos, aumentam as chances de São Paulo se livrar do racionamento. Mesmo assim, o volume de água do Cantareira ainda equivale a míseras duas colheres de sobremesa no fundo de um copo

Pieter Zalis

Ainda não dá para cravar que será possível evitar o racionamento de água em São Paulo - o oficial, não aquele que muita gente já experimenta faz tempo quando abre as torneiras de casa. Mas, pela primeira vez neste ano, isso agora parece possível. Depois de dois verões seguidos com muito menos chuvas do que o habitual, elas voltaram a cair sobre os reservatórios que abastecem a capital. Fevereiro ainda nem terminou e já é o mais chuvoso em nove anos, com 30% acima da média histórica, muito mais úmido que os meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro, período em que choveu a metade do esperado. O nível do Sistema Cantareira, o principal da cidade e responsável pela água nas torneiras de mais de 6 milhões de paulistanos, subiu pelo 159 dias seguido e estava em 10% na sexta-feira passada. Se subir mais 0,7 ponto, vai recompor a segunda cota do volume morto, que tinha começado a ser usada em 24 de outubro do ano passado.

Ainda é pouco, pouquíssimo. O Cantareira tem 980 bilhões de litros de capacidade total e está agora com 98 bilhões de litros. Isso equivale a dizer que, se fosse um copo, ele teria agora o correspondente a duas colheres de sobremesa de água molhando seu fundo - nada mais do que um gole, portanto. Mas a chuvarada dos últimos dias autoriza alguma esperança. "Ela desembarcou no Sudeste com quatro meses de atraso", afirma José Marengo, coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Um estudo feito pelo Cemaden traça cinco cenários para os próximos meses. Em um dos mais otimistas, o volume de chuvas se mantém acima da média, como está agora, até o fim de abril e o Cantareira chega a até 28% de sua capacidade. Nesse caso, é praticamente certo que o racionamento será descartado. Em outro cenário, as chuvas voltam à média histórica e o nível do sistema fica em torno de 13%. Esse é precisamente o patamar a partir do qual otimistas e pessimistas divergem sobre a obrigatoriedade de racionamento. Embora o governador Geraldo Alckmin (PSDB) negue que exista uma "meta mágica" para evitar o rodízio de água, técnicos da Sabesp, por exemplo, acreditam que, se o Cantareira atingir essa capacidade no fim da temporada de chuvas, será possível evitar o racionamento - o que, conforme antecipou o governo, significará algo em torno de cinco dias de torneira seca para dois dias de água. No pior cenário do estudo, as chuvas voltam a ficar cerca de 50% abaixo do normal, como vinha ocorrendo até janeiro. Nesse caso, o maior reservatório de São Paulo chegará ao mês de abril com 5% de sua capacidade - e, aí, o racionamento seria inevitável. Para o Cemaden, o mais provável dos cenários é o segundo.

Desde o início da crise hídrica, o governador Geraldo Alckmin foi superado pela população na capacidade de tomar providências para minimizá-la. Alckmin resistiu, durante meses, a reconhecer a gravidade do problema. Ao longo da campanha à reeleição, chegou a descartar a hipótese de rodízio. Enquanto isso, a população tratou de adotar as medidas que estavam ao seu alcance. Desde que ficou clara a profundidade do poço vazio em que estavam metidos, os paulistanos já economizaram em torno de 100 bilhões de litros de água, o equivalente a 10% do Sistema Cantareira. Isso significa que, se não fosse a economia das famílias, as reservas chegariam ao terceiro e último volume morto, em vez de estarem quase de volta ao primeiro.

O governo paulista agora corre para fazer a sua parte. As obras emergenciais em curso têm por objetivo melhorar a distribuição de água entre os vários sistemas que abastecem São Paulo. Uma delas pretende aliviar o Cantareira fazendo com que 1,2 milhão de moradores da Zona Leste, atualmente abastecidos pelo sistema, comecem a receber água do Alto Tietê, que hoje está com 17,8% do volume armazenado. Para reforçar o Sistema do Alto Tietê, estão previstas obras que captarão água do braço do Rio Grande na Represa Billings, do Rio Itatinga e do Rio Guaió. Mesmo sem a conclusão dessas obras, se as chuvas continuarem a cair, o paulistano poderá escapar do racionamento. Mas vai ser raspando.

Veja, 25/02/2015, Brasil, p. 56-57

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