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Usineiros preparam ofensiva no exterior

FSP, Dinheiro, p. B3
22 de Abr de 2008

Usineiros preparam ofensiva no exterior

Agnaldo Brito
Da reportagem local

A indústria canavieira do Brasil prepara uma ofensiva mundial para rebater as acusações de que é parte responsável pela inflação global dos alimentos. Depois de ser apontado como solução para o "vício" mundial de petróleo, cresceram as críticas de organizações multilaterais como a FAO (organismo da ONU para agricultura e alimentação) e o FMI (Fundo Monetário Internacional) de que a expansão da produção mundial de combustíveis renováveis reduz igualmente a área para alimentos. Segundo cálculos da Unica, o custo da ofensiva superará R$ 8 milhões nos próximos dois anos.
A Unica (União da Indústria da Cana de Açúcar) ainda não sabe se o ataque ao setor é coordenado ou não, mas acompanha o interesse mundial pelo modelo brasileiro. Jornalistas de mais de 40 países já vieram ao Brasil atrás do modelo para os biocombustíveis no país.
A entidade sabe que empreenderá um esforço delicado a partir de agora. A Unica, que representa 110 das 370 usinas no país, concorda parcialmente com o argumento mundial, mas pretende ressaltar que a questão brasileira é diferente. Falar de problemas na produção de alimentos nos Estados Unidos, que usa volumes crescentes de milho para produzir álcool, faz sentido, mas a discussão é completamente diferente no Brasil.
O plano é mostrar que a produção de álcool a partir da cana não concorre com a produção de alimentos. Nos últimos anos, a produção de biocombustíveis e de alimentos cresceram no Brasil. A Unica quer mostrar, por exemplo, que os canaviais ocupam pequena parte da área para plantio no Brasil. Dirá ainda que esse espaço já substitui metade do combustível líquido consumido pelos automóveis do país.
"Se a idéia é falar sobre a concorrência entre a produção de alimentos e biocombustíveis nos Estados Unidos, aí tudo bem. Lá, de fato, é o local apropriado. Mas incluir o Brasil nessa questão ou é má-fé ou desinformação", diz Adhemar Altieri, diretor corporativo da Unica e o responsável por armar o contra-ataque.
Depois de criar dois escritórios no exterior (Washington e Bruxelas), a Unica estuda um terceiro na Ásia. Segundo Altieri, a localização ainda não está definida.
A idéia é usar todo aparato de comunicação para retrucar todas as informações consideradas erradas pela Unica e emitir comunicados públicos em caso de ataques mais graves.
A nova direção da Unica pretende contratar uma empresa para acompanhar diariamente o assunto na imprensa mundial. É a primeira vez que a entidade terá uma clipagem mundial. "Informações equivocadas sobre o setor em veículos de pouca expressão nunca eram questionadas. Vamos mudar isso. A idéia é não deixar de se manifestar junto ao veículo e até se manifestar publicamente quando for o caso", disse Altieri. Além da mídia, o acompanhamento será extensivo a publicação de estudos e de relatórios ao redor do mundo.
O setor sucroalcooleiro contratou em janeiro a Fleishman-Hillard para administrar a comunicação do setor no exterior. A empresa deve intermediar o contato mundial do setor sucroalcooleiro com veículos de comunicações ou entidades e governos interessados no biocombustível. Um programa de visitas monitoradas ao Brasil também faz parte do plano de comunicação. Na semana passada, por exemplo, uma comitiva de parlamentares noruegueses -liderada pelo ministro de Finanças daquele país- visitou uma usina de açúcar e álcool brasileira. A Noruega é um dos países europeus interessados em adotar a mistura compulsória de álcool na gasolina.

FSP, 22/04/2008, Dinheiro, p. B3

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