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Usina hidrelétrica completa 20 anos

O Liberal-Belém-PA
Autor: Léo Souza
01 de Nov de 2004

Inaugurada em 22 de novembro de 1984, a obra mudou a economia e a paisagem do município do sudeste paraense, que só perde em arrecadação para a capital

Em 22 de novembro de 1984 ocorreu a inauguração da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHE), município localizado no sudeste do Estado, na gestão do então presidente João Baptista Figueiredo. Graças aos royalties da produção de energia elétrica e da área inundada pela barragem, o município só é superado em arrecadação pela capital do Estado.

Os primeiros estudos para a construção de uma hidrelétrica para aproveitar o potencial do rio Tocantins se iniciaram em 1957 e se estenderam até a década de 60. Somente nos anos 70 é que os trabalhos para a construção da hidrelétrica foram intensificados. O próximo passo foi a construção da vila permanente para abrigar os operários, que se transformou num dos primeiros condomínios fechados na Amazônia, dotado de infra-estrutura completa, com esgoto, água tratada, ruas pavimentadas, supermercados, farmácias, escolas, creches.

No final dos anos 80, quando foi finalizada a etapa de construção da hidrelétrica de Tucuruí, ocorreu também a desativação gradativa das vilas temporárias 1 e 2, que proporcionaram melhorias na infra-estrutura urbana do município de Tucuruí. A partir dos anos 90, Tucuruí pôde contar com urbanização e uma boa infra-estrutura procedente do poder público federal.

Após a inauguração da hidrelétrica, foi feita a reforma agrária nas áreas situadas às margens do lago de Tucuruí. No pacote de desenvolvimento chegaram as estradas vicinais e assentamentos de milhares de pequenos e médios agricultores. É que o alagamento causou o desaparecimento de vários povoados, fato que obrigou a Eletronorte a construir dois povoamentos com infra-estrutura urbana: Novo Repartimento, no sudoeste, e Breu Branco, a leste. Posteriormente, esses dois povoados transformaram-se em municípios. A emancipação ocorreu em 31 de dezembro de 1992. A etapa em andamento é a construção das eclusas, que, depois de concluídas, proporcionarão a navegabilidade do rio Tocantins até o Planalto Central. Depois de finalizadas, as eclusas vão duplicar a capacidade geradora da hidrelétrica.

Os 60 mil metros cúbicos de concreto que foram usados mensalmente na construção da segunda etapa da Usina Hidrelétrica de Tucuruí a transformaram na maior obra de construção civil do mundo ocidental, com material suficiente para construir um estádio Maracanã por mês. Foram utilizados mais de cinco mil trabalhadores em escala de revezamento, na construção da casa de forças, do muro de proteção da barragem e nas obras complementares da usina.

Numa operação para a recuperação de recursos, estão sendo explorados 122.653 hectares de madeira que ficaram submersas pelo lago da usina. Após a conclusão da segunda etapa, a hidrelétrica ocupa a condição de a terceira maior do mundo, perdendo para Itaipu (14 mil megawatts-MW) e Guri, na Venezuela (10 mil MW). Em 2006, Tucuruí terá sua capacidade duplicada para 8.400 MW.

Sem boas estradas, a viagem entre o município e Belém era arriscada

O paraense José Mário de Mendonça Dias nasceu em Cametá e chegou à Eletronorte em 1979, ocupando a função de mecânico de manutenção III. Ao ser transferido para Tucuruí, passou a exercer o cargo de mecânico de manutenção IV. Por mais de dez anos, ocupou o cargo de gerente do Setor de Equipamentos Auxiliares da usina. Atualmente, é técnico de manutenção mecânica, trabalhando no Centro de Planejamento da Manutenção.

José Mário chegou a Tucuruí em 5 de maio de 1981. Entre as dificuldades apontadas daquela época estava viajar para Belém por estrada, o que era uma aventura. As estradas praticamente não existiam. Hoje a população conta com a PA-150, completamente asfaltada. O tempo de viagem entre Tucuruí e a capital gira em torno de cinco horas.

No início, o comércio era bem modesto, ao contrário de hoje, que está bem fortalecido, com grandes redes comerciais. "A cidade tornou-se mais bonita, indústrias se instalaram e beneficiam o silício. A agropecuária é muito forte. Observo a cidade de Tucuruí como sendo uma das mais ricas do Estado", compara José Mário. Na área social, diz, o município também sofreu um crescimento acentuado, principalmente com as preocupações com os povos indígenas e os ribeirinhos, em parcerias da prefeitura com universidades e fundações.

Após 20 anos de empresa, ele ocupa o cargo de técnico de manutenção mecânica e trabalha nas revisões de máquinas hidráulicas, nas manutenções dos sistemas de ar comprimido, das pontes e pórticos rolantes, nas manutenções de comportas do vertedouro e tomado dágua, bem como no planejamento dos serviços da manutenção mecânica.

A UHE de Tucuruí representa um marco diferencial, antes e depois de sua construção. "Na parte profissional, é como uma nova escola, onde pude ver na prática toda a teoria estudada. Tive a oportunidade de aperfeiçoar e aumentar meus conhecimentos, conhecer novas tecnologias, novos métodos de manutenção. Na parte pessoal, pude concretizar vários sonhos, como de dar um conforto melhor para minha família", enumera, ressaltando os amigos que conquistou. "Aqui consegui ser Operário Padrão do Pará em 1986. Foi uma felicidade tão grande como a do nascimento dos meus filhos", recorda. José Mário é casado com Zilma da Silva Dias e tem dois filhos: Rangel, com 18 anos e fazendo no Iesam o curso de Engenharia de Controle e Automação, e Geisa, com 14 anos, que cursa a 8ª série. (L. S.)

Eclusas serão concluídas até 2006

Em entrevista a O LIBERAL, o diretor de Produção e Comercialização da Eletronorte, Dílson Trindade, informa que a conclusão das eclusas de Tucuruí é um compromisso do governo Lula e o prazo vai até o final de seu mandato. A responsabilidade pelas eclusas é do Ministério dos Transportes e as obras foram retomadas neste ano, com investimento de R$ 80 milhões e aportados mais R$ 80 milhões para 2005.

O governo federal planeja concluir a obra em 2006, mas ainda faltam R$ 200 milhões. O diretor aponta outro alternativa para a captação deste recurso: seria a antecipação por parte da Eletronorte ao Estado dos royalties, que são uma compensação financeira pela utilização do potencial hidráulico da Usina de Tucuruí.

Qual a quantidade de energia produzida pela hidrelétrica?

Desde o ano de 1984, data do início da operação comercial, até o mês de setembro de 2004, a UHE Tucuruí já gerou um total de energia de 390.867.589 MWh. No ano de 2003, a usina gerou um total de energia de 27.270.425 MWh , tendo uma receita anual de geração na faixa de R$ 1,4 bilhões.

Quanto isso representa em dinheiro para a empresa?

Desde a inauguração em 1984, essa quantidade de energia elétrica representa cerca R$ 20 bilhões.

Quantos empregados a hidrelétrica tem atualmente, direta e indiretamente?

Empregados diretos perfazem um total de 689, e aproximadamente 500 empregos indiretos.

E as eclusas? Saem ou não saem? Falta dinheiro ou vontade política?

A conclusão das eclusas é compromisso do Governo Lula até o final do seu mandato. A responsabilidade pelas eclusas é do Ministério dos Transportes. As obras das eclusas foram retomadas neste ano de 2004 e estão trabalhando hoje nas obras 1.070 empregados, sendo que foram injetados R$ 80 milhões no ano de 2004 e aportados mais R$ 80 milhões para 2005. O governo está planejando concluir a obra em 2006 e para isto ainda faltam R$ 200 milhões. Um outro mecanismo para a captação deste recurso de R$ 200 milhões seria a Eletronorte antecipar ao Estado do Pará os royalties, que são uma compensação financeira pela utilização do potencial hidráulico da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, para os próximos quatro anos, e este seria usado como contrapartida na obra, transferindo estes recursos para o Ministério dos Transportes, o responsável pela obra.

O que se projeta para a hidrelétrica? Há capacidade de aumento de produção?

A capacidade máxima de produção será concluída em 2006, perfazendo um total de 8.370 MW de potência instalada. A hidrelétrica foi projetada para ser feita em duas etapas. A primeira etapa já está concluída, com uma capacidade de 4.200 MW, e a segunda etapa tem a conclusão prevista para o ano de 2006, acrescentado mais 4.170 MW. A UHE Tucuruí terá sua capacidade final totalizando 8.370 MW.

Se sim, a rede de transmissão existente suportará esta capacidade final de 8.370 MW de potência instalada da Usina Hidrelétrica de Tucuruí?
o A rede de transmissão atual atende a toda a demanda de energia, sendo que a ampliação da capacidade das linhas de transmissão atenderá ao escoamento desta energia final instalada da Usina Hidrelétrica de Tucuruí com as construções e licitações das linhas de transmissão de 500 KV - Tucuruí/Vila do Conde, circuito 3, e Tucuruí/ Marabá/Açailândia, circuito 4. (L. S.)

Isolamento da cidade dificultava o crescimento profissional dos pioneiros

Everaldo Cardoso Ribeiro nasceu em São Luís (MA) e trabalhou na Eletronorte de 1982 a agosto de 1983. Em seguida, foi transferido para Tucuruí, para participar do comissionamento dos equipamentos da usina hidrelétrica. Começou como eletricista e hoje é técnico de manutenção elétrica. Vinte anos depois, nota que o município de Tucuruí cresceu muito, principalmente na área de educação. Hoje, conta com escola técnica e as universidades Federal do Pará (UFPA) e Estadual do Pará (Uepa).

A primeira etapa da construção da usina hidrelétrica foi marcada por momentos difíceis. Mas houve um acontecimento que quase levou por água abaixo todo um trabalho de anos, como a enchente ocorrida em março de 1980. "Eu ainda não estava em Tucuruí, mas através de vídeo pude ver a dificuldade para não permitir que as águas levassem todo um trabalho. Este episódio ficou conhecido como 'aguas de março'", recorda. Em meio às dificuldades, Everaldo aponta a saída de Tucuruí, pois não havia estrada asfaltada. "No inverno só era possível sair por via aérea ou fluvial. Mas o isolamento se dava também no campo do conhecimento. Estávamos longe dos grandes centros, onde poderíamos fazer cursos, aprimorar mais os conhecimentos".

Lotado no Setor de Manutenção Eletro-eletrônico, na área de geração, Everaldo exerce as atividades de manutenção em equipamentos, tais como gerador elétrico, transformadores, painéis elétricos e diversos outros equipamentos espalhados pela hidrelétrica. Ele recorda que a evolução salarial ocorreu dentro de um processo de luta dos trabalhadores, em meio aos sucessivos pacotes econômicos do período, levando os trabalhadores a buscar perdas acumuladas por esses planos. A infra-estrutura da usina cresceu e melhorou. Hoje, as condições de trabalho são melhores que há 20 anos atrás, segundo ele.

Everaldo é casado com Deusirene, natural de Tocantins, e tem quatro filhos, todos nascidos em Tucuruí: Patrick, 20 anos; Jéssica, 17; Raquel, 14, e Beatriz, 13. Patrick estuda em São Luís (MA), onde cursa Telecomunicações no Cefet-MA, depois de concluir o curso de Montagem e Manutenção de Computadores no Cefet-PA. Jéssica se prepara para o vestibular. Está se formando no curso "Desenvolvedor de programas", no CEFET-PA. As duas menores cursam o primeiro grau. (L. S.)

Implantação do projeto trouxe o desenvolvimento com qualidade de vida

Fernando Luiz Costa Leite, 45 anos, natural de Martins (RN), começou a trabalhar na Usina Hidrelétrica de Tucuruí em 1984, ocupando a função de supervisor de operação. Atualmente, exerce o cargo de gerente da Divisão de Operação da usina. Ele chegou a Belém em 1971, com onze anos de idade, juntamente com os pais e irmãos. Formado em Eletrotécnica pela Escola Técnica Federal do Pará, entrou na Eletronorte em 1979, na função de operador, após quase dois anos de treinamentos e estágios nas maiores empresas de geração de energia das regiões Sul e Sudeste do País.

Ao retornar ao Pará, passou a operar inicialmente (a partir de 1981) o sistema de transmissão interligado Norte e Nordeste, na Subestação de Tucuruí, que recebia energia da Chesf (Nordeste) para suprir principalmente a cidade de Belém. "A partir de 1984, passei a desenvolver minhas funções na UHE Tucuruí, onde estou até hoje", conta. A família foi constituída na cidade. Sua esposa é maranhense e já tinha três filhos do primeiro casamento - na época todos ainda eram pequenos, hoje dois estão formados e outra fez faculdade e depois parou por motivos particulares. "Além destes três, tivemos mais três filhos. Um deles faz faculdade em Belém e os outros dois são gêmeos, que farão vestibular este ano. Nossa família, hoje, por questão de necessidade de estudos, está dividida entre Belém e Tucuruí", revela Fernando, que destaca ainda que um dos filhos do primeiro casamento da esposa formou-se em Educação Física em Tucuruí, onde exerce a profissão.

Transformações - O técnico observa que durante os 20 anos o município de Tucuruí e a região passaram por grandes transformações. O advento da usina transformou Tucuruí numa cidade pólo, com comércio, rede hospitalar, escolas e rede bancária, estando no ranking dos maiores municípios do Pará em termos de renda e qualidade de vida.

Nesse período, dois fatos marcaram a construção da usina: primeiro, a grande cheia de março de 1980, em que as estruturas de ensecadeiras da obra não estavam projetadas para suportar o volume da enchente que se verificou. "Foram dias de grandes desafios enfrentados pela Eletronorte, e a construtora da obra tomando ações que buscavam proteger as estruturas já construídas. No final deu tudo certo, mas o susto foi grande", recorda. O segundo fato que Fernando foram o fechamento do rio e a conseqüente formação do reservatório. A decisão tornou irreversível a operação da usina. Afinal, havia todo um questionamento dos ambientalistas quanto à ocorrência de impactos catastróficos.

Isolamento - No primeiro momento, quem trabalhou em Tucuruí viveu isolado. Nesses tempos de trabalho duro, lembra Fernando, o ritmo era muito intenso e nos momentos de folga só tnham a opção de lazer por via aérea. "Na época, salário e preços de passagens aéreas não conflitavam tanto como hoje", compara. Contratempos à parte, ele não esconde que adora o seu trabalho. O técnico tem uma identificação até familiar com a usina. (L. S.)

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