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Universo Indígena em questão

Folha Popular- Palmas-TO
09 de Abr de 2002

Será aberto hoje, às 19h30, e prossegue até amanhã, no campus da Unitins de Palmas, o II Fórum sobre Questões Indígenas, promovido por um grupo de estudantes de Jornalismo, com o apoio da instituição e da Funai. Com o tema "O Karajá na Atualidade", durante os dois dias de debate, serão enfocados vários assuntos relacionados ao universo indígena contemporâneo. Além das discussões, os participantes também poderão apreciar uma mostra com 25 fotografias, realizadas na Ilha do Bananal.

A série de palestras será aberta pelo advogado Samuel Karajá, que vai falar sobre a questão tutelar indígena. O professor Iiuraru Karajá abordará a temática educação e o acadêmico de direito, Kohãlue Karajá, vai falar sobre ensino diferenciado. Do Mato Grosso virão a vereadora de Luciara, Berixa Karajá, que enfocará situação da mulher e da política, e o técnico da Funai, Isariri Karajá, que fará uma exposição da situação ambiental. Como convidado especial, está o doutor em Antropologia, Manuel Lima Filho, professor da Universidade Católica de Goiás, que vai compartilhar suas experiências com a cultura indígena.

Durante o fórum, também será apresentada a revista Aldeia da Ilha, resultado de um projeto de extensão, realizado pelos acadêmicos de Comunicação, desde julho do ano passado, com a intenção de estudar e registrar a realidade social das comunidades indígenas que habitam a Ilha do Bananal. Assuntos como educação, saúde, política, economia, o papel da mulher e costumes (morte, rituais, espiritualidade) estão em foco. Aldeias da Ilha traz também vários artigos, assinados por índios como Waxiy Karajá, técnico da Secretaria Estadual de Educação, e pesquisadores, como a doutoranda em História, Juciene Ricarti Apolinário.

O público alvo da revista são estudantes secundaristas. Com uma tiragem de apenas mil exemplares, a revista foi distribuída em escolas públicas dos municípios de Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão, Cristalândia e São Félix do Araguaia (MT), todos no entorno da Ilha do Bananal, além do Colégio Estadual de Palmas, na Capital. Durante a entrega, os conhecimentos dos estudantes sobre a questão indígena foram diagnosticados, por meio de questionários. A meta dos editores da revista é que ela seja uma ferramenta complementar ao ensino de história, geografia e matérias afins.

Projeto
Quando participavam da audiência pública sobre a hidrovia Tocantins-Araguaia, realizada em Palmas, em novembro de 2000, os estudantes de Jornalismo da Unitins Aurielly Painkow, Celiana Azevedo, Gina Carla, Kassandra Valduga, Lailton Alves e Rísia Lima foram despertados para conhecer melhor a questão dos indígenas do Tocantins. Um número da revista Babel, editada pelos alunos de Comunicação da USP (Universidade de São Paulo), dedicada aos indígenas paulistas, serviu de inspiração para o desenvolvimento do projeto.

Assim, o grupo, orientado pelos professores Odair Giraldin e Fábio d´Abadia, elaborou o projeto "Aldeias da Ilha: Estudo e Registro da Realidade Social dos Indígenas que Habitam a Ilha do Bananal". Por meio do Instituto Ecológica, os estudantes conseguiram apoio do Fap (Fundo de Apoio a Parcerias), do Banco Mundial, para viabilizar o projeto e começaram a trabalhar.

Durante os meses de julho e novembro do ano passado, fizeram cinco viagens à Ilha do Bananal, onde tiveram contato com 13 comunidades do povo Iny (popularmente conhecidos como Karajá, Javaé e Xambioá). Por meio de entrevistas, observação e convívio, os estudantes foram aprofundando o olhar sobre a cultura daquele povo. As impressões ficaram gravadas em dezenas de fitas e pilhas de negativos - matéria-prima para confecção da revista Aldeias da Ilha e da mostra fotográfica.

Aurielly Painkow, que hoje está no último semestre de Jornalismo, disse que a experiência foi inesquecível. "Foi o maior aprendizado da minha vida. Temos mania de estabelecer pré-conceitos quando não conhecemos o 'diferente', com a convivência, o meu ponto de vista mudou", analisou, acrescentando que os índios e tudo que envolve sua condição não passam mais despercebidos aos seus olhos.

A futura jornalista destaca que a visão que a sociedade brasileira tem do indígena ainda é muito romantizada. "Por muitos, os índios continuam sendo vistos como pessoas que andam peladas no meio do mato. Também há muita exploração da imagem e, em algumas aldeias, a situação é bastante precária", disse, defendendo que a educação é fundamental para que esse ponto de vista mude. "Nós precisamos romper a barreira da autoridade, para aprendermos a viver com eles de uma forma mais humana", finalizou.

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