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Universidade prioriza cotas para índios e não para negros

Gazeta do Acre-Rio Branco-AC
Autor: TATIANA CAMPOS
13 de Mai de 2004

Em 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assinou a Abolição da Escravatura. A lei pôs fim ao trabalho escravo aos quais os negros eram obrigados, mas não acabou com o preconceito que as pessoas tinham com relação à cor da pele. O problema de exclusão social aos quais estavam submetidos não terminou ali, ao contrário, continuou vivo no país. Hoje, para reparar um erro histórico, como a dificuldade de acesso à escolaridade superior, por exemplo, o Ministério da Educação vem estudando a implantação de cotas para negros nas universidades federais.

Em algumas instituições federais as cotas para negros já constituem uma realidade, como no Rio de Janeiro, um dos primeiros Estados a adotar o sistema. Porém, o objetivo do MEC é levar inclusão educacional para as minorias etnico-culturais. O Acre, segundo o pró-reitor de graduação da Universidade Federal do Acre, professor doutor Gilberto Dalmolin, a prioridade são os índios, que, historicamente, foram postos, ao lado dos seringueiros, em condições de trabalho semi-escravas e sofreram todo um processo de exclusão.

"A universidade vem tendo algumas discussões internas, não oficiais, sobre o tema. Por enquanto, estamos seguindo as orientações do MEC, que instituiu uma comissão visando regulamentar o assunto, apontando a melhor forma de procedimento para atender as minorias etnico-culturais", comentou Dalmolin.

Segundo o pró-reitor, o Acre tem uma realidade diferente dos demais Estados brasileiros. "Seria complexo estabelecer cotas para negros aqui. Temos muitos alunos e professores negros, porque o Acre tem uma população descendente de negros e índios. Não teríamos critérios para estabelecer quem é negro ou não, já que muitos, apesar de não terem a pele negra, têm traços e descendência afro-brasileira", ressaltou Dalmolin.

Estudante diz que negros não são os únicos excluídos

O pró-reitor destacou que as discussões serão feitas também com a sociedade e o processo será democrático. Segundo ele, as cotas são apenas uma saída que pode ser adotada para diminuir as desigualdades de acesso das minorias. Existem outras medidas compensatórias que podem ser tomadas, como um pré-vestibular diferenciado.

O estudante de engenharia Diemerson Monteiro da Silva, 19, concorda com a posição da universidade. "Acho que a questão depende do esforço de cada um, independente da cor ou credo. É fato que nem todos têm acesso às melhores oportunidades de ensino, mas conheço vários negros de escola pública que passaram no vestibular", comentou o acadêmico, que passou no primeiro concurso que prestou.

Diemerson acredita que as cotas seriam injustas se fossem apenas para os negros. Segundo ele, há outras minorias que também são excluídas, como os deficientes físicos e os índios. Quanto à discriminação por sua cor, ele diz não ter sofrido nenhuma forma de preconceito, apesar de já ter visto com outras pessoas.

"Isso mostra a fraqueza da mentalidade dos brasileiros. A gente vive numa democracia e é inadmissível que haja algum tipo de preconceito. Temos que vencer essas barreiras e, se acontecer comigo, entro na Justiça e vou lutar por meus direitos", ressaltou o universitário

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