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Unifesp diploma 16 índios do Xingu

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: Ligia Formenti
08 de Jun de 2001

Todos eram agentes de saúde e concluiram curso de auxiliar de enfermagem

Taliko Kuikuro, de 35 anos, passou a infância impressionado com as histórias contadas pelo avô sobre epidemias que assolaram sua aldeia. Os relatos despertaram no menino a vontade de aprender os tratamentos do homem branco e usá-los em sua tribo. É muito fácil tratar algumas doenças com a medicina de vocês, diz. A missão que Taliko se propôs na infância agora pode ser cumprida. Ele e mais 15 índios de várias aldeias do Parque Nacional do Xingu formaram-se ontem no 1.o Curso de Auxiliar de Enfermagem Indígena.Organizado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por meio do Projeto Xingu, o curso foi dividido em módulos, inicialmente com duração de um mês. Nesse período, Taliko e seus colegas dedicavam oito horas diárias à discussão de problemas e aos trabalhos práticos. Viajava um dia todo de barco para chegar ao local do curso, recorda Taliko. Em alguns momentos pensei em desistir, mas agora vejo que o esforço valeu.Financiado pela Fundação Nacional de Saúde e com apoio do Secretaria de Saúde do Estado do Mato Grosso, o curso foi criado para atender a uma expectativa dos índios. Muitos já trabalhavam como agentes de saúde, mas queriam ter uma formação melhor, conta a médica Sofia Mendonça, coordenadora de formação do Projeto Xingu. Além das informações sobre saúde, os índios fizeram um curso com conteúdo do ensino fundamental. Lavínea Santos de Oliveira, que organizou o programa com método construtivista, nota que a iniciativa trouxe grandes benefícios para o grupo. Com o aprendizado, eles estão mais confiantes e com maior auto-estima.Recurso - Sofia concorda. A profissionalização é mais um recurso para combater a imagem de submissão que existe, afirma. É um rito de passagem, diz. Tanto é que, depois do curso de auxiliar de enfermagem, índios do Xingu estão interessados em outros cursos.A médica conta que nas aldeias há uma divisão clara entre o trabalho do pajé e dos profissionais de saúde. Não há conflito: problemas espirituais ficam sob responsabilidade dos pajés e o restante, com a equipe de saúde, explica. Muitas vezes, o trabalho é feito em conjunto.No Xingu, há crescimento dos problemas como hipertensão e desnutrição. Doenças infecto-contagiosas e sexualmente transmissíveis também preocupam. É difícil convencer o povo de algumas coisas, mas não vou desistir, diz Taliko.

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