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Unesco exige 'pequena reforma' no cais

O Globo, Rio, p. 12
11 de Jul de 2017

Unesco exige 'pequena reforma' no cais
Pedras de sítio arqueológico devem ser assentadas, e grama substituída por água do mar para que lugar volte a ter aparência do século XIX
"Se ele (o Cais do Valongo) não for cuidado como merece, o título pode ser retirado pela Unesco." Tania Andrade Lima Arqueóloga

NATÁLIA BOERE
natalia.boere@oglobo.com.br

Depois da festa, foi hora de arrumar a bagunça. Após ter sido flagrado pelo GLOBO tomado por lixo e exalando cheiro de urina bem no dia em que foi eleito Patrimônio Mundial Cultural pela Unesco, o Cais do Valongo passou por uma grande faxina: garis da Comlurb limparam o local e, por volta das 11h de ontem, o novo orgulho do Rio estava tinindo. Os desafios, no entanto, continuam. A prefeitura terá agora que dar conta de compromissos assumidos com a Unesco e dar uma outra "geral" no espaço. Está prevista a consolidação das rochas que compõem o sítio arqueológico para que elas não fiquem soltas. A grama que circunda o local também deverá ser substituída por água do mar. O projeto já foi autorizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A prefeitura disse que o projeto está em estudo, mas não informou quando iniciam as intervenções.
- A água do mar não chega à superfície porque há algumas bombas aqui embaixo para canalizá-la. Faremos a mudança para que as pessoas tenham a real dimensão de como era o Cais do Valongo. Se era um porto, o mar ia até as imediações das rochas. Queremos fazer também um guarda-corpo de vidro porque o de cabos de aço é muito vulnerável. As pessoas ainda não têm um entendimento de que, se entrarem no lugar preservado, podem colocá-lo em risco - diz Mônica da Costa, superintendente do Iphan/RJ.
Usuários de crack e moradores de rua costumam ser vistos com frequência dentro do Cais do Valongo.
- É urgente a conservação do Valongo e do entorno, é preciso que o sítio arqueológico tenha vigilância. Como um Patrimônio Mundial vai ficar coberto de lixo, se deteriorando? Se ele não for cuidado como merece, o título pode ser retirado pela Unesco. Eles fazem acompanhamento periódico dos Patrimônios Mundiais - alerta a arqueóloga Tania Andrade Lima, coordenadora da equipe que, entre janeiro de 2011 e junho de 2012, desenterrou a história do Cais do Valongo durante as obras de revitalização da região do Porto.
Entre os achados das escavações, foram encontrados 500 mil objetos, como miçangas, búzios e brincos, que foram levados para o Galpão da Gamboa, na Zona Portuária. O material está armazenado sob a tutela da Secretaria municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação. Há duas semanas, reportagem do GLOBO mostrou que os guardas municipais que tomavam conta do local foram expulsos por traficantes do Morro da Providência, vizinho ao galpão.
-Temos um projeto, em parceria com a prefeitura, para fazer ali um laboratório aberto de arqueologia urbana para estudar os achados de toda a região portuária. Já demos o primeiro passo, o inventário está todo concluído. Isso permite expô-los futuramente no Memorial do Valongo ou no Museu da Escravidão e da Liberdade - conta Mônica da Costa.
A construção do Memorial do Valongo é outro compromisso assumido com a Unesco. Segundo Mônica, ele pode, ou não, estar localizado dentro do Museu da Escravidão e da Liberdade, uma promessa da secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira. A vontade da secretária é erguê-lo no Armazém Docas Dom Pedro II. No entanto, a desocupação do espaço de 6,5 mil metros quadrados, erguido num terreno pertencente à Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e, desde 2000, sede da ONG Ação da Cidadania (criada em 1993 por Herbert de Souza, o Betinho), está em litígio.
- Quando a SPU solicitou a reintegração do galpão, a pedido da prefeitura do Rio, entramos com uma ação na Justiça. Em meados de agosto, teremos uma audiência com a SPU para tentarmos resolver a situação. Estamos dispostos a tocar o projeto do museu junto com a Secretaria de Cultura e ceder uma área do galpão de mais de dois mil metros quadrados. Investimos R$ 15 milhões ali - afirma Kiko Afonso, diretor executivo da ONG.
A secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, afirma, por sua vez, que "chegou a hora de interesses particulares não prevalecerem em detrimento de causas tão urgentes". Ela diz esperar que a decisão do governo federal seja tomada logo:
-Espero que saia logo, pois temos apoios internacionais importantes e parceiros privados no Brasil que não podemos perder.
Secretário de Articulação e Desenvolvimento Institucional do Ministério da Cultura, Adão Cândido diz que, "junto à SPU e à Casa Civil", está "tentando encontrar outro local que atenda às exigências da ONG, para que ela possa continuar desenvolvendo suas atividades.

O Globo, 11/07/2017, Rio, p. 12

https://oglobo.globo.com/rio/unesco-exige-pequena-reforma-no-cais-21575…

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