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UnB inventa hidrelétrica portátil

OESP, Economia, p. B13
22 de Jun de 2008

UnB inventa hidrelétrica portátil
Equipamento, ainda em fase de testes, não provoca danos ambientais e fornece eletricidade a até três casas

Leonardo Goy

As comunidades ribeirinhas da Amazônia estão acostumadas a tirar o sustento dos rios, que também servem de "estradas". Agora, uma tecnologia desenvolvida no Brasil vai permitir que essa população retire das águas a sua própria energia elétrica. A Universidade de Brasília (UnB), em parceria com a Eletronorte, criou uma pequena turbina hidráulica, portátil, que dispensa a construção de barragens e é capaz de abastecer até três famílias.

Levar eletricidade a comunidades isoladas sempre foi um desafio tecnológico e econômico. As longas distâncias, a selva e os grandes rios tornam quase impossível o transporte de energia por fios. A saída é gerar energia no local. Mas as tecnologias disponíveis esbarram em problemas ambientais, caso dos geradores a diesel. Opções como placas de energia solar têm o inconveniente de não garantir o fornecimento contínuo.

A alternativa desenvolvida na UnB pode ajudar a resolver esse problema sem causar praticamente nenhum impacto ambiental, já que utiliza água como combustível. Além disso, não alaga um único centímetro de solo seco. O equipamento é conhecido como turbina hidrocinética e vem sendo desenvolvido desde a década de 80.

Hoje, há cerca de 12 máquinas dessas em testes em comunidades do Amapá, do Pará e da Bahia. A capacidade de geração é relativamente pequena, de 1 kilowatt (kW), mas suficiente para abastecer três casas. "O maior trunfo dessa tecnologia é a simplicidade", orgulha-se o professor Antonio Brasil, chefe do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB.

A turbina hidrocinética precisa apenas de um "braço" de aço, similar ao das cancelas dos postos de pedágios, para ser colocada na água. Depois, a correnteza faz o resto. A água passa por uma hélice e o movimento das pás gera energia mecânica, que é convertida em eletricidade em um pequeno reator acoplado ao equipamento. Um cabo leva a energia ao local desejado.

Segundo o gerente da Coordenação de Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento da Eletronorte, Álvaro Raineri de Lima, as comunidades atendidas escolhem para onde vai a energia. Em alguns casos, a turbina é conectada a um centro comunitário e dele sai uma pequena rede para abastecer algumas casas. Em outros, a energia é usada para dinamizar a atividade econômica, como o beneficiamento da castanha do Pará.

"As turbinas permitem, por exemplo, levar luz a escolas e ligar geladeiras em postos de saúde", disse o professor Brasil. Ele contou que uma cena freqüente nas comunidades que possuem as turbinas hidrocinéticas é a visita de vizinhos com baterias sob o braço. "Eles carregam as baterias nas turbinas e voltam para casa. Com a energia das baterias, eles conseguem assistir à TV", disse.

Atualmente, os engenheiros da UnB e da Eletronorte estão trabalhando na terceira geração da turbina. A principal vantagem em relação aos modelos anteriores é a redução, à metade, do peso, de 300 para 150 quilos. A versão mais leve da turbina, sem perda da capacidade de geração, é fundamental para facilitar o transporte. "Para chegar às comunidades mais afastadas, as máquinas passam dias em cima de um barco. A versão leve pode ser transportada até de canoa", disse Brasil.

Até o fim do ano, a UnB e a Eletronorte deverão começar a buscar parceiros comerciais para construir a turbina em escala. Mercado não deverá faltar para emplacar o equipamento. "Os governos de vários países, como Austrália, Índia e Republicana Dominicana, já demonstraram interesse em comprar", disse Raineri, da Eletronorte. A estatal já investiu R$ 640 mil no desenvolvimento da turbina hidrocinética. Segundo Brasil, o custo total do equipamento é de US$ 3 mil a US$ 4 mil por unidade.

OESP, 22/06/2008, Economia, p. B13

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