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Uma viagem pelas aldeias do estado

Gazeta do Povo-Curutiba-PR
Autor: PATRÍCIA PINHEIRO
13 de Abr de 2002

Crianças INDÍGENAS ainda mantêm as tradições e têm contato com o futebol e a televisão. Situação dos povos, no entanto, ainda é bastante precária

Índio nu, de rosto pintado e com cocar. A imagem dos livros e que vemos em documentários é cada vez mais rara. Hoje, eles se vestem, andam de cara lavada, estão mais parecidos com os brancos e lutam para manter suas tradições.

Para conhecer um pouco mais da história desses povos, a equipe da Gazetinha visitou três aldeias de índios Guarani - a Karugua, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, e outras duas nas ilhas de Superagüi e Cotinga, no litoral do estado.

Nessa viagem pela cultura, e por um mundo completamente diferente do nosso, descobrimos o quanto eles respeitam a natureza, a hierarquia e os idosos. Prova disso, é que fomos sempre atendidos pelos caciques, e os indiozinhos que falaram conosco só o fizeram depois da autorização do líder da aldeia. Acompanhe a gente neste passeio!

Pertinho da capital

A 60 quilômetros de Curitiba fica a aldeia Karugua (que quer dizer arco-íris). Lá encontramos o Alex Karai Jekupe, dez anos, que ainda não sabe ler e escrever, mas como todas as outras crianças fala tupi-guarani. "Eu queria aprender a ler e escrever para ter um futuro melhor, poder entender os brancos e ajudar o meu povo a manter a nossa cultura", fala Alex, bastante acanhado.

Enquanto isso não acontece, o garoto divide seus dias entre as brincadeiras, o aprendizado do artesanato e da cultura. "Eu só sei fazer colar e minha mãe faz balaios com o bambu", conta o garoto, ao mesmo tempo que descascava o bambu.

Mais acostumados ao contato com os brancos, os índios da aldeia Karugua apresentam-se em festas, colégios e diversos eventos. "Nós cantamos e dançamos, e essa é uma forma de conseguirmos dinheiro para sobreviver", explica o cacique Marcolino da Silva.

Os Karugua vivem num pedaço de terra emprestado. Não podem caçar e nem plantar, por isso sobrevivem de doações, da venda de artesanato e de um CD gravado em guarani. Ao todo são 53 pessoas, sendo 26 crianças que têm aulas com um professor índio.

Destino: litoral do estado

De Piraquara partimos para o litoral do estado, rumo à Superagüi e Cotinga. A viagem, que deveria durar apenas um dia, transformou-se numa aventura. Na volta de Superagüi, o tempo mudou e precisamos dormir na ilha de Urá. Por causa deste imprevisto, pudemos concluir nossa missão apenas no dia seguinte.

Na aldeia Morro das Pacas, em Superagüi, conhecemos a índia guarani Lúcia da Silva, 13. Para conversarmos com a garota contamos com a ajuda do cacique Nelson Ortega - já que ela não fala português.

Na conversa, descobrimos que Lúcia gostaria de aprender a língua dos brancos. "Assim eu entenderia o que eles falam e quando chegasse gente de fora eu poderia antender", responde timidamente a garota enquanto amassa um pão.

No Morro das Pacas, a 239 quilômetros de Curitiba, o passatempo é correr pelas matas, observar e explorar a natureza, ouvir as lendas e histórias dos antepassados. As brincadeiras se confundem com o trabalho, inclusive caçar, que todos aprendem bem pequenos para ajudar a aldeia.

No local, existem seis pequenas casas-ocas, construídas de troncos de árvores e cobertas de palha, que abrigam 52 índios, 25 deles crianças. A sobrevivência vem da plantação de milho, mandioca, feijão e da caça. Praticamente isolados, não possuem barcos ou qualquer outro instrumento que os ligue ao mundo civilizado.

Sem perder os costumes

Futebol, televisão e aula. Poderíamos estar falando do cotidiano de uma criança de qualquer lugar do país, mas ainda estamos falando dos índios. Na Ilha da Cotinga, os pequenos, 40 no total, convivem constantemente com a realidade branca, mas eles fazem questão de manter a cultura. "Nós estamos com os brancos, mas continuamos sendo índios e nos orgulhamos disso, tanto que até os sete anos as crianças só falam guarani", diz o cacique Jair Mariano Rodrigues, que concluiu o curso de magistério e dá aula para as criancas índias da ilha.

Os irmãos Augusto, um, Valdemir, 11, e Valderi de Castro, 12, não estão matriculados na escola. Quando perguntamos o motivo, eles simplesmente saem correndo e nos deixam falando sozinhos.

Antes disso, descobrimos que eles têm televisão em casa, mas nem por isso ficam o tempo todo vidrados na telinha. "A gente assiste de vez em quando desenho e futebol, mas preferimos brincar de jogar bola e subir em árvores do que ficar parados", explica Valderi.

Na Ilha da Cotinga, a reserva indígena oferece um pouco mais de conforto à população. Há uma escola indígena e um posto de saúde, que atualmente está desativado. As casas têm, inclusive, energia elétrica, conseguida através de placas solares.

Os Povos INDÍGENAS no Paraná

Em nosso estado, a população indígena é de 10.375 pessoas, sendo que a maioria é criança. Na Ilha da Cotinga, por exemplo, dos 72 índios residentes, 40 têm até 14 anos. Em média, os menores representam 50% de cada aldeia, e a perspectiva é de que este número aumente, pois a taxa de crescimento indígena é de 4,6%, enquanto entre os brancos não passa de 1,5%. Confira as áreas ocupadas por índios no Paraná:

1 - Chopinzinho, Coronel Vivida e Mangueirinha - Kaigang

2 - Palmas - Kaikang e Guarani

3 - Alto do Iguaçu Espigão e Nova Laranjeiras - Kaigang, Guarani e Xetá

4 - São Miguel do Iguaçu - Guarani

5 - Guarapuava e Turvo - Kaigang e Xetá

6 - Manoel Ribas e Pitanga - Kaigang

7 - Inácio Martins - Guarani

8 - Cândido de Abreu - Kaigang

9 - Ortigueira - o município possui duas reservas diferentes que abrigam os Kaigang

10 - Londrina - Kaigang

11 - São Jerônimo da Serra - são duas reservas diferentes que abrigam os Kaigang, Guarani e Xetá

12 - Santa Amélia - Guarani

13 - Tomazina - Guarani

14 - Paranaguá - Guarani

15 - Guaraqueçaba - Guarani

16 - Diamante do Oeste e Ramilândia - Guarani

17 - Piraquara - Guarani

18 - Ilha de Superagüi - Guarani

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