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Uma valiosa ferramenta de gestão empresarial

GM, Opinião, p. A3
09 de Ago de 2004

Uma valiosa ferramenta de gestão empresarial

O lançamento na semana passada da Matriz Brasileira de Evidências de Sustentabilidade pelo Instituto Ethos constitui-se em marco na evolução das ferramentas de gestão postas à disposição das empresas brasileiras. A iniciativa tem por objetivo apoiá-las na incorporação dos atributos de excelência que caracterizam a gestão das que se encontram na liderança em termos de responsabilidade social e ambiental ou aspiram a alcançá-la. Irá contribuir, com certeza, para a melhoria da gestão empresarial com vistas à sustentabilidade - vale dizer, à perenidade do empreendimento, sob a ótica da interação de suas três dimensões: social, econômica e ambiental.
Trata-se de um instrumento na forma de aplicativo gráfico que permite às empresas medir e avaliar o impacto de sua política de sustentabilidade no desempenho das atividades, considerando-se os fatores de sucesso e vice-versa. Assim, a matriz, adaptada ao ambiente empresarial brasileiro, permite correlacionar fatores de sustentabilidade com indicadores econômico-financeiros convencionais. Na linha da sustentabilidade encontram-se fatores tais como governança, atenção para com os públicos de interesse, gestão ambiental e gestão de recursos humanos; e, na linha dos indicadores convencionais, observam-se fatores tais como crescimento da receita, custos e produtividade e acesso ao capital. Na interseção das linhas, o gestor poderá visualizar a progressão na realização combinada dos objetivos da sustentabilidade com os de sucesso econômico-financeiro e ajustá-los com vistas à melhoria contínua que, por definição, resulta de sua integração.
Ao colocar a nova ferramenta à disposição dos gestores, o Instituto Ethos presta ainda dois outros serviços de natureza cultural, que derivam da iniciativa como efeitos colaterais. O primeiro é deixar claro, de modo prático e inequívoco, o que vem a ser sustentabilidade no contexto da gestão dos negócios. Contribui, desse modo, para remover a confusão generalizada reinante nos meios empresariais entre responsabilidade social e filantropia. Mediante a utilização da matriz, exercita-se o entendimento de que responsabilidade social é uma das três dimensões da sustentabilidade, de que se falou acima, e diz respeito à postura estratégica da empresa perante todos os seus públicos de interesse ("stakeholders") e não apenas às crianças carentes ou aos animais ameaçados de extinção, como quer fazer crer uma boa parte dos balanços sociais, convertidos em meras peças promocionais.
Na visão da sustentabilidade, responsabilidade social é resposta estratégica à situação atual, em que é crescente a exposição do empreendimento a riscos sociais, ambientais e éticos; crescente também a influência dos critérios sociais e ambientais na análise de risco das instituições financeiras; e crescente a exigência de transparência e conduta ética das empresas por parte da sociedade.
O segundo é prover o gestor de elementos de informação e de convicção que lhe permitirão remover o preconceito de que dispêndio de recursos na gestão socioambiental é gasto e não investimento, ou de que representa somente custo e não benefício. O preconceito vem da ignorância de que o foco central da estratégia empresarial é o ambiente - interno e externo - de negócios da empresa. "Ambiente" conotado aqui em termos mais restritos, envolvendo empregados, fornecedores, clientes, investidores, agentes governamentais, formadores de opinião e outros grupos de interesse que afetam o desempenho.
Na semântica empresarial da sustentabilidade, nada é mais estratégico para a perenidade do empreendimento do que o fortalecimento da capacidade dos gestores de perceber e interpretar os riscos e as oportunidades sociais e ambientais, com vistas à incorporação do valor dos ativos intangíveis no processo e no produto.
Competir com base na eficácia operacional já não é suficiente para assegurar a excelência no desempenho e os melhores resultados, uma vez que a tendência inexorável à "comoditização" dos produtos - populares e de alto luxo -, acelerada pela competitividade global, neutraliza os ganhos diferenciais associados aos seus aspectos tangíveis.
Assim, o diferencial estratégico transfere-se para os componentes ambientais do negócio - os seus aspectos intangíveis, tais como qualidade de vida, ecoeficiência, confiabilidade, "design", etc. Nesse novo contexto, o desafio da excelência ou da liderança consiste no atendimento das demandas que valorizam a incorporação, em proporção crescente, dos ativos intangíveis no valor do patrimônio total.
Eis a utilidade da matriz de sustentabilidade.

kicker: Os indicadores de sustentabilidade do Instituto Ethos permitem monitorar a adição de valores intangíveis nos produtos

GM, 09/08/2004, Opinião, p. A3

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