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Uma tarefa para políticos e economistas

O Globo, Ciência, p. 35
Autor: BRODER, John M.
12 de Dez de 2011

Uma tarefa para políticos e economistas

John M. Broder
Do New York Times

DURBAN, África do Sul. Por 17 anos, autoridades de quase 200 países se reúnem sob os auspícios das Nações Unidas para tentar um acordo sobre uma das mais perturbadoras questões do nosso tempo: como reduzir a velocidade do aquecimento do planeta.
A cada ano, eles deixam um rastro de desilusão e descontentamento, particularmente entre as nações mais pobres e aquelas mais vulneráveis à elevação do nível do mar e à desertificação. A cada ano, eles falham em conseguir avanços significativos para alcançar as metas que impediriam a temperatura média global de se elevar acima dos 2" Celsius.
E foi o caso, novamente, este ano. O evento, a 17ª Convenção de Mudanças Climáticas da ONU, só terminou na manhã de ontem com resultados modestos: a promessa de um trabalho conjunto para um novo acordo global nos próximos anos e um plano para o fundo climático de Cancún.
A decisão de começar a discutir um novo tratado - que substituiria o antigo sistema que obriga apenas as nações desenvolvidas a cortarem emissões - foi alcançada a duras penas, depois de 72 horas de contínuos debates. Mas, por enquanto, é meramente uma intenção, já que todos os detalhes precisam ainda ser negociados.
Os negociadores também deixaram para outro dia o detalhamento preciso das fontes financeiras para o fundo e como e por quem ele poderia ser desembolsado. Chamado de Fundo Climático Verde, ele mobilizaria US$100 bilhões por ano em recursos públicos e privados para ajudar países em desenvolvimento a se adaptarem às mudanças climáticas e a adotarem fontes limpas de energia.
Não há como negar a dedicação e o vigor dos ministros do meio ambiente e diplomatas que conduziram as negociações. Mas, ainda assim, talvez eles não estejam à altura da tarefa. Os temas em debate são bem mais amplos do que os níveis atmosféricos de CO2, as práticas florestais ou como criar um fundo para compensar os países mais afetados pelo aquecimento global.
O que está em jogo é política em larga escala; as relações entre Europa, EUA, Canadá, Japão e as três potências econômicas emergentes, China, Índia e Brasil. Essas relações, por sua vez, são conduzidas pelas políticas internas de cada país e o impacto da crise financeira global em cada um deles. E a questão da "equidade climática" - a obrigação das nações ricas de ajudar os países pobres a lidar com um problema que não criaram - é muito mais do que uma questão "ambiental".
Lidar efetivamente com as mudanças climáticas ao longo das próximas décadas vai requerer uma transformação na produção de energia, no transporte e na agricultura em todo o planeta - os sustentáculos da vida moderna. É, simplesmente, uma tarefa grande demais para os que se reúnem desde 1992 nas conferências das Nações Unidas.
- Há uma desconexão fundamental em se ter ministros do meio ambiente negociando geopolítica e macroeconomia - resumiu o analista Nick Robins.

O Globo, 12/12/2011, Ciência, p. 35

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