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Uma Kennedy luta por justica no caso Stang

O Globo, O Pais, p.17
18 de Set de 2005

Uma Kennedy luta por justiça no caso Stang
Ethel, viúva de Robert, planeja conversar com Lula sobre o julgamento dos acusados da morte de missionária
WASHINGTON. Os oito irmãos da freira Dorothy Stang, assassinada no Pará em fevereiro passado, acabam de ganhar uma influente aliada em sua luta para convencer a Justiça brasileira de que tanto os pistoleiros quanto os mandantes do crime sejam julgados por um tribunal federal. Trata-se de Ethel Kennedy, viúva do ex-procurador-geral de Justiça dos Estados Unidos Robert F. Kennedy.
Ela planeja viajar ao Brasil, liderando um grupo formado por alguns dos Stang e representantes do centro de direitos humanos Robert F. Kennedy Memorial, que preside, para conversar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Agenda de Lula em Nova York impediu encontro
Uma tentativa de contato com Lula foi feita dias atrás pelos Stang e pela organização não governamental (ONG), quando o presidente esteve em Nova York para participar da reunião da ONU. Mas uma aparente agenda carregada impediu a audiência. Ethel está determinada a visitar Brasília e conversar com Lula. O grupo poderia ser reforçado por parlamentares americanos:
— Entendemos que Lula está passando por momentos dolorosos por causa da atual crise política no país, mas vemos que ainda existe uma reserva de fé e esperança nele. Lula tem a confiança dos mercados e dos movimentos sociais. Achamos que a paixão e a dedicação da irmã Dorothy Stang na defesa dos pobres brasileiros e o fato de ela ter se naturalizado brasileira devem ser compensadas agora com um julgamento claro, transparente, sem a nociva influência dos mandantes do assassinato que, por meio da corrupção, tentam comprar sua liberdade — disse ao GLOBO Emily Goldman, antropóloga do RFK Memorial.
Numa carta aberta ao presidente, publicada semanas atrás pelo GLOBO, os irmãos da freira disseram-se chocados com a decisão do Superior Tribunal de Justiça de rejeitar a federalização do caso. Eles argumentaram que não há dúvida alguma de que o assassinato de Dorothy foi uma clara violação dos direitos humanos. E, pondo em dúvida a lisura do julgamento, perguntaram: Que provas o Pará nos ofereceu de que a justiça será feita? Que apoio o Pará está dando aos pobres e sem-terra?”.
David Stang, que já esteve no Brasil várias vezes, transformou-se no porta-voz da família. Segundo ele, Dorothy vinha tratando de proteger a Amazônia dos ladrões que, com a ajuda de estrangeiros, vêm devastando essa maravilha”.
— Os brasileiros sempre temeram que a Amazônia fosse invadida por estrangeiros. Pois bem, o que vemos hoje é que ela está sendo de fato vendida aos estrangeiros pelos exploradores ilegais de suas matas. Não conseguimos entender por que o país continua permitindo isso — disse ele.
Segundo David Stang, Dorothy amava o presidente Lula e o Brasil de uma forma tão intensa que fez com que todos nós, os Stang, passássemos a nos sentir irmãos de sangue dos brasileiros”:
— Ela deu sua vida pelo país que tanto amava e a sua gente, em especial aos pobres. E não pode ser insultada dessa forma, com essa manobra dos grileiros e madeireiros ilegais para armar um julgamento de fachada, lá em Anapu (no Pará), onde são suficientemente poderosos para se manterem impunes. No Brasil tem sido praxe os mandantes de crimes se livrarem da cadeia — disse o irmão da missionária.
O tom apaixonado, às vezes irado, de sua campanha para que mandantes e assassinos sejam julgados em conjunto, num processo integrado e conduzido pela Justiça Federal, é temperado pelo estilo filosófico de sua irmã, Marguerite, que também participa ativamente daquele movimento:
— Dorothy era uma poderosa testemunha da verdade. E por isso não podemos permitir que a escuridão do mal prevaleça. Temos de ser muito firmes e determinados, porque essas forças do mal estão vivas... muito bem vivas — disse ela ao GLOBO, na sede do RFK Memorial, em Washington.
Irmão quer manter viva a memória da freira
David Stang deixou claro que assumiu de vez a luta de Dorothy. Ele pretende manter viva a memória da irmã, continuando seu trabalho — ainda que à distância — e monitorando a ação dos seguidores dela:
— Dorothy deu sua vida para provar que os pobres podem participar da economia. A impressão que temos, hoje, é que os ricos só querem os pobres como servidores, alguns como escravos. Vamos continuar a luta dela. Nós, os Stang, acreditamos nisso firmemente porque nossa própria família veio da classe pobre — disse ele.

O Globo, 18/09/2005, p. 17

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