VOLTAR

Uma grande fonte de oportunidades

Diário Catarinense - www.clicrbs.com.br
Autor: Lauro Eduardo Bacca
14 de Ago de 2010

Parece que o meio ambiente começa, finalmente, a deixar de ser uma questão periférica para posicionar-se mais próximo da questão central do debate político brasileiro. Boa parte dessa tendência começou em Santa Catarina. Pena que isso tenha se dado pela porta dos fundos, na medida em que predominou a queixa do meio ambiente como um cerceador do desenvolvimento em detrimento da discussão sobre a compatibilização de ambos.

O debate salutar dessa compatibilização é irreversível e inadiável, sob pena de colocarmos em pane nossa espaçonave Terra, a única que existe. Se ela falhar, não haverá local para pouso de emergência e nenhuma outra virá em socorro para nos resgatar. No Planeta Titanic não há botes salva-vidas e, mesmo que houvesse, não teriam qualquer destino para onde levar os sobreviventes.

Para resolvermos a problemática ambiental precisamos, a exemplo da economia, também globalizar a ecologia. Felizmente, isso já está acontecendo, e é bom que seja antes tarde do que nunca. Urge corrigir e tentar reverter as consequências do erro primário e descomunal que cometemos de primeiro gerenciar, pilotar e mexer na complexa máquina biosférica (Eco-nomia), que também é nossa Óikós, casa, para, somente depois de muito estrago, começarmos a estudá-la e tentar entendê-la (Eco-logia), numa imperdoável inversão da ordem lógica e natural das coisas. O resultado todos conhecem, na forma dos desequilíbrios amplamente conhecidos por todos.

Para piorar as coisas, há uns 30 anos nossa conta biosférica entrou feio no vermelho. Atualmente, estamos consumindo 20 a 30 por cento a mais do que a capacidade de reposição da natureza e poluindo bem mais do que sua capacidade de absorção de todos os nossos dejetos. Se isso acontece com qualquer orçamento doméstico, de empresa ou de instituição pública, salvo por uma ou outra situação emergencial e temporária, ou saímos dela o quanto antes ou falimos irremediavelmente.

Quando ouço a queixa recorrente de que o meio ambiente estaria atrapalhando o progresso, surge na minha mente a imagem de alguns náufragos do século 16 que conseguiram chegar a uma pequena ilha com algumas galinhas, algumas sementes e umas cabras (eles sempre as levavam em suas grandes navegações).

Olhando para aquelas galinhas se alimentando com o alegre ciscar do chão, as cabras sobrevivendo com o capim e as sementes, tudo o que poderia passar pela cabeça de quem estava com o estômago roncando era devorá-las todas. Essa seria a atitude dominada pela emoção. Os que ainda conseguissem seguir a razão, obviamente que tentariam convencer a todos a passar um pouco de privações, pois, tendo em vista a não garantia de resgate a curto prazo, seria melhor sobreviverem com o leite das cabras e os ovos das galinhas enquanto aguardassem a colheita dos frutos das sementes plantadas, garantindo, assim, a sobrevivência de toda a comunidade.

Analogias simplórias à parte, o fato é que não temos saída a não ser compatibilizarmos desenvolvimento e meio ambiente. Os dois são indissociáveis, caso contrário estaremos falando simplesmente de "crescimento" ou "progresso", termos tão ao gosto dos discursos em campanhas políticas, porém mais identificáveis com um mero "inchaço socioeconômico" do que com desenvolvimento propriamente dito.

A proteção ambiental lato sensu e da biodiversidade em especial, ainda deixa muito a desejar, principalmente aqui em Santa Catarina, um Estado tão avançado em várias outras áreas quanto atrasado na área ambiental. Somos um dos lanterninhas no país em saneamento.

O projeto de lei do ICMS Ecológico, ao contrário do sucesso em vários outros estados, por aqui não avança há mais de 15 anos.

Figuramos entre os estados brasileiros que mais têm desmatado suas reservas nos últimos anos. Nossas unidades de conservação custam a sair do papel, a começar pela maior de todas, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, criado em 1975 e até hoje não implantado, por absoluta falta de vontade política para fazê-lo. Como seria bom se candidatos a cargos eletivos este ano abandonassem a velha ladainha de que nossas reservas não funcionam e se empenhassem em lutar pela sua efetiva implantação.

Santa Catarina, sem qualquer bairrismo, é um dos estados mais belos, equilibrados (não na proteção ambiental, repito) e culturalmente diversificados do Brasil. O Estado tem atraído possibilidades de grandes investimentos, que, naturalmente, implicam estudos ambientais e consequentes formas de evitar, ou pelo menos minimizar, impactos.

A queixa de governantes referente à lentidão dos licenciamentos ambientais tem sido recorrente, mas não tem jeito. Certos estudos ambientais são por demais complexos e demandam muito tempo para serem executados ,e isso não pode ser mudado. O que pode e deve ser feito é o fortalecimento dos nossos órgãos ambientais, a começar pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e Polícia Ambiental estadual, equipados e dispondo de corpo técnico preparado, motivado e competente para atuar. Junto com a simplificação e agilização de procedimentos burocráticos, pode-se melhorar muita coisa.

Precisamos aprender, ainda, que a proteção ambiental movimenta a economia e nos protege de tragédias e prejuízos. Não é à toa que o Japão mantém dois terços de seu território coberto de florestas, mesmo considerando que sua concentração populacional equivaleria a reunir toda a população brasileira em área menor que nos três estados do Sul. Dos Estados Unidos nos vem o exemplo da valorização de seus parques e florestas nacionais e estaduais. Chegam a 300 milhões os visitantes que os procuram, movimentando uma economia de bilhões de dólares anuais.

Temos tudo para passarmos à vanguarda na compatibilização do meio ambiente com desenvolvimento em Santa Catarina. Para isso, precisamos arejar nossas mentes e não mais enxergar o meio ambiente como empecilho e sim como fonte quase inesgotável de oportunidades e bem estar da atual e das futuras gerações.

http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.