VOLTAR

Uma fauna de nomes

CB, Brasil, p. 8
10 de Jul de 2006

Uma fauna de nomes
Pesquisa da USP, que será apresentada na reunião anual da SBPC, identifica 40 mil verbetes de bichos que têm mais de uma alcunha no país. Dicionário catalogou espécies de animais registradas desde 1500

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

Você já ouviu falar num bicho chamado mucura? Provavelmente não. E num animal com o nome de serigüê? E timbu? Gambá todo mundo sabe o que é. Na verdade, mucura, gambá e timbu são variantes de nomes para a mesma espécie de animal. No entanto, dependendo da região, o bicho recebe um nome diferente dado pela população. Gambá é no Sul e Sudeste. Serigüê no Centro-Oeste e timbu, pelo Nordeste. Além desses nomes, o gambá é também é chamado pelo Brasil afora de cassaco, micurê, sarigüéia, saruê, tacaca, taibú e ticaca.

O gambá não é o único animal que tem múltiplos nomes. Um trabalho científico, que será apresentado na reunião anual da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência (SBPC), reúne mais de 40 mil verbetes de bichos que têm mais de uma alcunha no país. A pesquisa, coordenada pelo biólogo Nelson Papavero, da Universidade de São Paulo (USP), vai atualizar o único dicionário de nomes populares de bichos existente no Brasil, que é de 1940.

A publicação terá dois volumes e cada unidade contará com mais de 2 mil páginas. O primeiro traz o nome dos bichos, suas variações e um pequeno comentário sobre a origem da denominação. O segundo conterá imagens da maioria deles e o catálogo científico com o nome universal. Para a comunidade científica, os dois livros são de extrema importância. "Biólogos do mundo inteiro aguardam ansiosamente as duas publicações", ressalta o pesquisador Napoleão Villa-Nova, da Universidade de Campinas (Unicamp).

O dicionário está em fase de finalização. Para produzi-lo, o pesquisador Nelson Papavero catalogou todas as espécies de animais que têm mais de um nome popular desde 1500, quando chegaram as primeiras expedições no solo brasileiro. As variações também foram pesquisadas na literatura. "Encontramos bichos com nomes diferentes em obras de Graciliano Ramos e José de Alencar", ressalta Papavero. Para ele, o mais importante é que a obra mostra a diversidade da cultura brasileira.

Os pesquisadores resolveram não incluir no dicionário o nome dado pelos índios aos animais da floresta para não deixar as nomenclaturas complicadas. "Os índios dão nomes incomuns aos animais usando a própria língua. A capivara, por exemplo, tem um nome na aldeia do Norte e outro nas comunidades indígenas do Centro-Oeste", ressalta Papavero. Algumas comunidades quilombolas também dão nomes específicos a alguns bichos.

Antes de registrar uma variante do nome do animal, os pesquisadores consultaram mais de 6 mil referências, entre livros e pesquisas de campo. Foram consultados ainda textos de cronistas e relatos de viajantes em expedições exploradoras. O boto, golfinho típico da Amazônia, recebe dois nomes diferentes. O primeiro deles foi dado quando a primeira expedição exploradora chegou ao Norte do país. Nos relatos dos aventureiros, o animal foi descrito com o nome de odre. Em algumas comunidades do Amazonas, o boto ainda é chamado por esse nome.

Na SBPC, o trabalho que será apresentado à comunidade científica pelo pesquisador Papavero sobre a variação dos nomes dos animais ainda não estará concluído. "Não achávamos que os livros ficariam tão grandes. Tem ainda as gravuras, que dão muito trabalho de pesquisa. A previsão é que o primeiro volume esteja disponível só em 2007", diz o pesquisador. Na reunião, ele falará sobre a diversidade da cultura e dos costumes brasileiros e como isso reflete na nomenclatura dos animais.

Encontro quer atrair empresas

A reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) deste ano terá a participação de 600 palestrantes e deverá ter um recorde de público, com cerca de 26 mil pessoas. O grande desafio do encontro será unir pesquisas básicas com tecnologia. Dessa vez, o encontro terá como objetivo estimular a participação do setor empresarial e atrair novos investimentos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Na reunião, que correrá em Florianópolis a partir do próximo dia 16, serão discutidos temas de impacto na indústria nacional como a implantação da TV digital no país, novas tecnologias na extração de petróleo, robótica, nanoeletrônica, aços especiais, engenharia biomédica e computação.

Além disso, a Expociência, que costuma ser realizada junto com a reunião anual, ganhará novo formato. Pela primeira vez, haverá um ciclo de debates sobre inovação tecnológica, envolvendo trabalhos feitos por instituições que apoiam a pesquisa. Haverá também um recorde de expositores, mais de 50, entre instituições de fomento, universidades e empresas. "Foi dado o primeiro passo para a participação das empresas na reunião anual", afirma Ennio Candotti, presidente da SBPC. "O que almejamos é acelerar o processo de aproximação entre ciência, tecnologia e produção visando o crescimento sustentável", completa.

A reunião de Florianópolis pretende inovar no formato. Além das 50 conferências, 60 simpósios, 50 minicursos, 30 mesas-redondas, haverá encontros abertos ou painéis de cinco e oito especialistas destinados a produzir documentos que nortearão a política e as ações da entidade durante o ano.

A SBPC terá também grupos de trabalho sobre temas de diversas áreas, como terapia gênica, água, evolução, ética e criminalidade. O programa dos grupos de trabalho não se limitará à reunião anual, já que estão previstas reuniões mensais até o fim do ano.

CB, 10/07/2006, Brasil, p. 8

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.