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Um terço da Amazônia se encontra sob pressão 'alta' ou 'muito alta', diz estudo

O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade/meio-ambiente
08 de Dez de 2020

Um terço da Amazônia se encontra sob pressão 'alta' ou 'muito alta', diz estudo
Atlas da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada identificou, em 2020, 4.472 locais de mineração ilegal na Amazônia, 87% deles em fase de ativa de funcionamento

Bruno Alfano
08/12/2020

RIO - Um terço da Amazônia se encontra sob pressão "alta" (26% da floresta) ou "muito alta" (7%), segundo o relatório "Atlas Amazônia sob pressão 2020", produzido pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), um consórcio de organizações da sociedade civil dos países onde há o bioma.
- A gente avalia a intensidade de impacto e a sobreposição de pressões para chegar a essa escala. Tem áreas, por exemplo, que sofrem impactos de uma hidrelétrica, de mineração e de uma estrada - afirma Julia Jacomini, geógrafa do Instituto Socioambiental (ISA), que participou como pesquisadora da equipe técnica dos dados brasileiros para o atlas.
A conclusão do estudo, segundo Jacomini, é que o avanço das atividades extrativas, dos projetos de infraestrutura, assim como dos incêndios, do desmatamento e da perda de carbono indicam que a Amazônia está muito mais ameaçada do que em 2012, ano do último atlas produzido pela Raisg.
- Nesse período, vimos um avanço muito significativo da mineração legal e integral e da agropecuária e, como consequência disso, há o aumento do desmatamento e das queimadas, especialmente nos últimos dois anos - diz Jacomini.
As áreas de maior pressão estão localizadas nas regiões periféricas do bioma, em áreas montanhosas e de piemonte localizadas na Amazônia Ocidental, principalmente no Equador, no norte da Venezuela e no sul da Amazônia brasileira.
Avanço de pressões
Desde 2003, quando houve um pico de desmatamento de 49.240 km², a derrubada de floresta tem se acelerado desde 2012, após atingir o mínimo em 2010 (17.674 km²). A área perdida a cada ano triplicou entre 2015 e 2018. Só em 2018, 31.269 km² foram desmatados em toda a Amazônia, o maior desmatamento anual desde o pico em 2003.
Entre 2000 e 2018, o avanço do desmatamento na região amazônica acumulou a perda de 513.016 km² de floresta nativa, um território equivalente à área da Espanha, 8% da área total de 6,3 milhões de km² de floresta que existia em 2000.
"A tendência descrita para toda a Amazônia é fortemente determinada pela situação do Brasil, que concentra 61,8% do território amazônico. Além do Brasil, Bolívia e Colômbia são os países que mais imitaram essas tendências nos últimos anos, com um desmatamento total de 425.051, 31.878 e 20.515 km², respectivamente. Os demais países não apresentam tendências claras de crescimento ou diminuição", afirma o Raisg, em nota.
O Atlas ainda mostra uma tendência de aumento na atividade de mineiração, especialmente o garimpo ilegal. Foram identificadas 4.472 localidades desta atividade ilícita. A maior parte (83%) impacta vários hectares ou os rios amazônicos diretamente. Mais da metade desses pontos estão no Brasil (53,8%). No entanto, 32% deles estão na Venezuela, país que contém apenas 5,6% de todo o território da Amazônia.
Escudos
Segundo o estudo, áreas naturais protegidas e territórios indígenas funcionam como barreiras ao avanço do desmatamento pode ser avaliada com base nas conclusões da Raisg. "Em nível regional, a maior parte do desmatamento (87,5%) detectado entre 2000 e 2018 ocorreu fora dos territórios indígenas e áreas naturais protegidas. Essa tendência se mantém para todos os países. Esses dados evidenciam que os instrumentos de gestão territorial para fins conservação e o manejo indígena das florestas constituem mecanismos eficazes para a preservação da Amazônia", afirma o Raisg.
No entanto, Brasil, Bolívia, Colômbia e Venezuela apresentam maior vulnerabilidade a partir de 2015, à medida que o desmatamento, a mineração ilegal e os incêndios se tornam mais comuns dentro de seus territórios.
- A Amazônia precisa de uma articulação de políticas entre os governos nacionais. Eles precisam conversar. Nunca houve o que deveria, mas hoje há menos ainda - afirma a especialista. - Se a gente não consegue enxergar a Amazônia de maneira integral, fica mais difícil de protegê-la. Se há um derramamento de petróleo no Equador, isso afeta a região toda. Se houvesse uma política de fiscalização intensa do garimpo ilegal no Brasil, o que não há, eles passam para a Venezuela. Isso significa que o impacto permanece existindo.

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