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Um paraíso verde chamado reserva Amadeu Botelho

JCNET - http://www.jcnet.com.br/
Autor: Rita de Cássia Cornélio
16 de Nov de 2014

Árvores frondosas com mais de 30 metros de altura que se encontram proporcionando uma sombra inigualável. Córrego de água limpa. Borboletas 'dançando' de um lado para outro e colorindo o espaço. Pássaros de cores, tamanhos e espécies diferentes cantando de felicidade. Mamíferos em harmonia com o ambiente que lhes proporciona alimentos e tranquilidade. Quem pensou que este lugar não existisse, errou. Ele existe e perto de Bauru. É a Reserva Ecológica Amadeu Botelho. Uma área de 143 hectares a dois quilômetros da cidade de Jaú.

O 'paraíso' foi mantido por Carlos Amadeu de Arruda Botelho e seus descendentes desde o começo do século passado e hoje oferece trilhas para educação ambiental, estudo de fauna e flora, pesquisas e ecoturismo. Foi transformada em Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) no ano 2000, o que garante sua preservação perpétua.

A reserva é uma floresta classificada como estacional semidecidual (Mata Atlântica de interior) com grande biodiversidade. Conta com mais de 169 espécies de árvores estudadas, 24 mamíferos conhecidos e 174 espécies de pássaros registrados, além de insetos, répteis e outros representantes da rica fauna e flora.

A mata que pode ser intitulada de um "oásis" em meio ao concreto exibe árvores seculares, cachoeira, macacos, esquilos, veados, lagartos e uma variedade enorme de pássaros, insetos e plantas. Curiosidades que, normalmente não encontramos facilmente, lá podem ser vistas sem nenhum esforço.

O ceboleiro, por exemplo, é uma árvore que solta várias camadas, como a cebola e pode ser visto facilmente na reserva. O jaracatiá é uma árvore espinhosa que gera um fruto alaranjado conhecido como mamão bravo ou mamão de macaco que é um vermífugo natural. É típica de matas de altitude, muito encontrada no Estado de Minas Gerais e que também 'habita' a Amadeu Botelho. Os espinhos dela agem como protetor da planta.

A guauvira é uma árvore que produz madeira flexível. Dizem que os índios usavam o broto dessa planta para confeccionar os arcos. A peroba rosa, a primeira riqueza de Jaú marca presença. Escolhida como símbolo da cidade, ela está presente no brasão da cidade. Foi muito utilizada, nos séculos passados, para fazer assoalho e madeiramento de residências.

Já o cedro-rosa, uma frondosa árvore 'abriga' uma broca no interior dos galhos. Os macacos quebram os galhos e comem as brocas. É a natureza cumprindo sua tarefa. Os besouros e outros insetos 'habitam' as madeiras de árvores que vieram abaixo e ajudam na decomposição natural. É assim que se cumpre o trabalho sem a interferência do homem.

Com a embaúba acontece uma simbiose. Árvore oca por dentro ela 'abriga' formigas que a adotam como moradia se beneficiando também de um tipo de alimento que a planta solta. Em compensação, a formiga ataca os predadores quando eles pretendem destruir a planta. É também conhecida como a árvore do bicho preguiça. Na mata ainda são encontradas madeiras de 'lei' como a peroba rosa, cabreúva, ipê, pau marfim, cedro-rosa, jequitibá, araruva, angico, guaritá entre outras.

Não bastasse toda a mata, a reserva é circundada por três cursos de água: o rio Jaú, o córrego Santo Antônio e o córrego João da Velha. No seu interior nascem duas minas de água potável, uma desaguando no rio Jaú e outra no córrego João da Velha.

Educação ambiental

Na fazenda Santo Antonio dos Ipês, onde fica a reserva há um projeto de Educação Ambiental. "Criamos quando a gente achou que Jaú estava crescendo. Tinha uma pressão das pessoas que entravam, querendo ver, mexer, caçar, gente que queriam pegar planta então precisamos conscientizar a população. Criamos o projeto Curumim em 1998. Começamos a trabalhar com educação ambiental nas escolas do município e região. Em 2000 na sequência criamos a RPPN. O projeto funciona com agendamento antecipado. As escolas agendam e tem um custo para manter o projeto. Tem palestra, passeio na reserva e no final um lanche," diz Carlos Amadeu de Arruda Botelho. O agendamento para ecoturismo pelo site: www.rppnamadeubotelho.com.br.

Mata ajuda na qualidade da água

Percorrer a trilha dentro da reserva é uma experiência inesquecível. A começar pelo ar que respiramos entre as árvores. Tem cheiro de mata, fresco e leve se é que podemos falar assim. Na opinião do gestor da área, Antonio Carlos Botelho Müller Carioba, o ar é mais úmido e muito fresco.

"Nunca foi feita pesquisa sobre a qualidade do ar. O que eu sei, por experiência, é que o ar da mata influencia diretamente no clima. Mesmo no verão, aqui a temperatura bem equilibrada. Se fora da reserva está muito quente, no interior dela, a temperatura está amena. Até porque a copa das árvores fica muito distante, mais de 30 metros de altura. A sombra que elas proporcionam é algo que não se vê em qualquer lugar. A copa das árvores também protege as plantas menores das fortes chuvas."

Na opinião de Carioba, a proximidade da reserva com a cidade de Jaú também influencia no clima da área urbana. "Eu acho que influencia porque estamos muito próximo, um quilômetro praticamente. A mata influencia na umidade do ar, na temperatura, o vento passa dentro da mata e vai para a cidade mais fresco."

A questão das chuvas na área urbana, também pode ser influenciada pela mata. "Especialmente, porque a cidade de Jaú é abastecida por dois mananciais e esses rios passam pela mata. A água da chuva é filtrada na mata e vai para os rios. Influencia também na qualidade da água do município."

Vizinho da mata, Carioba usufrui das benesses do clima e do cenário natural que se descortina a sua frente. "Durante o período diurno podemos contemplar os pássaros, são mais de 200 espécies pesquisadas e catalogadas. O veado 'matero' que é um bicho raro porque precisa de espaço para viver é encontrado aqui. Assim como o macaco prego, os esquilos caxinguelê. A onça-parda circula na região, embora seja mais raro poder vê-la. Tem gato e cachorro do mato, tatu, cobra e muitos répteis."

Reserva Ecológica tem legislação específica

A Reserva Ecológica Amadeu Botelho é uma das 10 RPPNs contempladas no Estado de São Paulo com uma verba por serviço ambiental, não divulgado o valor, que garante a execução do plano de manejo. O benefício é um projeto da Fundação Florestal junto com a Secretaria do Meio Ambiente.

"Essa propriedade foi de meu bisavô", conta o gestor Antonio Carlos Botelho Müller Carioba. A mata nativa tem quase 80 alqueires. O pagamento por serviço ambiental é uma coisa nova no Estado de São Paulo para reservas particulares. A família vem mantendo através de gerações. No ano de 2000 achamos importante adquirir uma legislação própria, por ser uma reserva particular a unidade de conservação que cabia a essa área é uma RPPN."

Carioba lembra que a família foi buscar informações no Ibama, na época. "Eles é quem faziam isso em nível federal. Criamos a RPPN para garantir a preservação perpétua e também fortalecer a legislação. Um projeto 14 anos depois nos contemplou com a verba. Com ela montamos uma brigada de incêndio, compramos tanque, arrumamos a cerca que protege a reserva e contratamos um vigia que reforça a guarda nos feriados e finais de semana quando ocorriam invasões."

Para conquistar o benefício, o gestor teve que providenciar muitos documentos. "Muitos, entre eles, o georreferenciamento. A propriedade está em ordem com isso. Concorremos com outras RPPNs. Essa verba foi dividida entre aquelas que tivessem condições. As vantagens é que a gente vai ter, por cinco anos, uma ajuda do governo para manter as metas de trabalho dentro da área." Hoje a área segue o plano de manejo criado e aprovado pelo Instituto Chico Mendes. "Priorizamos o combate a incêndio que é um risco com toda a região. Temos uma pesquisa bem específica de extrato arbóreo de grande porte. Encontramos 170 espécie, é um valor interessante para a nossa região."

Área é pesquisada desde 1990

Desde 1990 são feitas pesquisas na reserva. "Estamos abertos a universidades, trabalho de conclusão de curso, mestrado e doutorado. Temos uns 20 trabalhos de pesquisa para identificação do que tem na reserva, já concluídos. Isso é importante para nós e para os pesquisadores. Desta maneira estamos mantendo um acervo de informações."

Segundo Carioba, cada trabalho foca uma coisa. "Tivemos um trabalho interessante de insetos aquáticos. Foram estudados o conteúdo dos rios. Foram estudados os morcegos e descobriram várias espécies. Muitos são propagadores de sementes, são plantadores de florestas, isso é bacana saber."

A identificação dos pássaros foi outro estudo interessante. "Tem animais que são indicadores de qualidade que estão aqui. Se aparece uma espécie de pássaros ou mamífero que só vive em ambiente equilibrado e ele está aqui é bom sinal."

Os macacos que vivem na reserva necessitam de bastante alimento. Caso contrário entrariam em desiquilíbrio. "As espécies de macacos poderiam afetar as espécies de aves porque eles comem ovos. Mas pelo número de aves, está em equilíbrio. Aqui tudo vive em harmonia."

Calmante é extraído das folhas

A área produtiva da fazenda Santo Antônio dos Ipês de Jaú contém plantação de passiflora incarnata, da família do maracujá de onde é extraído o princípio ativo para a fabricação de um calmante produzido por um laboratório. A planta medicinal é produzida exclusivamente para o laboratório.

O gestor da fazenda, Antonio Carlos Botelho Müller Carioba, explica que o mercado é pequeno, só funciona com contrato. Na opinião dele, não adianta plantar e não ter onde vender.

"Nós colhemos a folha, secamos, ensacamos e encaminhamos para uma empresa de Botucatu que extraí o princípio ativo e manda para o laboratório que faz o remédio. Ele lembra que já cultivou alcachofra para o mesmo fim."

Fazenda tem cultivo de orgânicos

A fazenda que a RPPN está inserida tem uma área produtiva que ainda vive da agricultura. Tem horta orgânica, plantas medicinais, café, cana e gado de leite. " Temos uma área de agricultura convencional ao redor da reserva", explica o gestor da fazenda, Antonio Carlos Botelho Müller Carioba.

Para trabalhar com agricultura orgânica foi criado um grupo de certificação. "Esse grupo é de Botucatu e todos foram certificados com o título de orgânico do Brasil. Cada participante produz alguns itens e entre nós trocamos. Aquilo que sobra do meu eu levo para Botucatu e vice-versa. Assim todos conseguem montar cestas com alimentos orgânicos para serem vendidos."

Ele frisa que para atender os fregueses de produtos orgânicos trabalha com alguns itens industrializados e certificados com a mesma filosofia. "Produtos que a gente não tem em Jaú e na região, a gente busca no mercado orgânico. Às vezes buscamos em outros estados. Trabalhamos com laticínios, iogurtes, coalhada, leite, queijo, arroz e feijão."

A horta orgânica da fazenda é algo bonito de ver. Sem agrotóxicos e inseticidas, as verduras têm até outra cor. Lá é possível encontrar alface, couve, rúcula, cheiro verde, repolho, couve flor, pepino, pimentão, berinjela, tomate, batata doce, mandioca, feijão, beterraba e cenoura".

Para que a agricultura orgânica funcione, ensina o gestor, primeiro tem que ter um solo descansado. "Tem que plantar as espécies típicas da região. Na área que está descansando a gente deixa nascer o que quiser por ali. Depois vamos incorporando aquilo e plantamos com adubo natural que é o composto."

O adubo natural, segundo ele, tem mais nutrientes que fazem com que a plantação se torne mais saudável. "Esse adubo vai ter muito mais vitaminas e nutrientes para as plantas porque é natural. Ele é fruto de compostagem feita com esterco de vaca ou galinha com restos, legumes ou capim. O nitrogênio vem do capim e o carbono do esterco. Vamos fazendo a compostagem durante dois ou três meses, revirando e transformando."

Rotação de cultura

Outra dica de Carioba é fazer a rotação de cultura. "Nunca se planta a mesma coisa no mesmo lugar. Porque se plantar sempre a mesma coisa é possível que uma doença se instale. Fazemos a consorciação que é outra opção. Não plantamos uma única cultura, plantamos várias coisas juntas, isso dá um equilíbrio ecológico no lugar, tentamos imitar a natureza. Quando se planta coisas diferentes, cada uma delas retira uma substância do solo e não causa desequilíbrio."

Segundo ele, se tiver duas plantas diferentes num mesmo local, elas vão retirar muitas coisas e repor também. "A rotação de culturas somada a consorciação de plantas e ao rodízio de área gera um equilíbrio que é o que a gente busca porque não queremos usar nenhum inseticida para controlar os desiquilíbrios."

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