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Um jeito ecologicamente correto de índio velar seus mortos

OESP, Vida, p. A14
17 de Nov de 2004

Um jeito ecologicamente correto de índio velar seus mortos
A tradição exige que animais sejam mortos; zôo faz convênio, e agora os bichos mortos são reaproveitados nos rituais

Nelson Francisco, Especial para o Estado

CUIABÁ - A extinção de animais e as leis ambientais levaram índios de Mato Grosso a adaptar uma tradição para que seus mortos descansem em paz. Por acreditar que a morte de um membro tinha sido provocada por animais, pajés, caciques e guerreiros iam à caça para oferecer o bicho ao morto. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ibama e Funai firmaram uma parceria inédita e, quando um animal morre no zoológico da UFMT, ele é doado às etnias para que elas mantenham os hábitos funerários tradicionais.
Isso ocorre quando é possível deslocar o bicho até as aldeias distantes de Cuiabá. E, dependendo da doença que matou o animal, ele não é levado até as aldeias. O zoológico da UFMT tem dezenas de espécies da fauna pantaneira, como onça, capivara, anta, paca, gaviões, cobras e pássaros.
Entre os 42 povos indígenas de Mato Grosso, os ritos diferem significativamente. Mas o uso de animais, peles, plumas é impregnado de sentido religioso.
Segundo o antropólogo e supervisor do Museu Rondon, da UFMT, Aloir Pacini, um dos fatores que resultaram na parceria é a falta de caça. "A devastação da floresta e da fauna está acontecendo a passos largos." Na opinião dele, apesar do esforço para manter a tradição, o ideal seria que os próprios índios tivessem ao seu alcance em suas aldeias os animais que pudessem ser usados nos rituais, conforme a hierarquia dos membros mortos nas etnias.
Segundo o antropólogo, além dos rituais, o intercâmbio entre a instituição com os povos indígenas contribui para que as tradições sejam mantidas. "Há uma sensibilização que é bonita e a preocupação com a cultura indígena tem um efeito simbólico muito interessante", avaliou Pacini.
Museu
Para manter as tradições indígenas, no Museu Rondon, criado em 1972, foi reconstituído pelos próprios índios um ambiente doméstico, com rede, tear, fogo e utensílios, tudo sobre terra preta como se fosse uma casa de aldeia. O museu tem ainda mais de mil peças, como adornos, indumentárias, armas, artefatos de ritual mágico, cerâmicas, instrumentos musicais, tecelagem e utensílios, além do material fotográfico retratando o cotidiano des 22 povos.

OESP, 17/11/2004, Vida, p. A14

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