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Um gasoduto no meio da selva

Jornal do Brasil-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Rafael Rosas
12 de Out de 2003

Petrobras quer sinal verde do Ibama para reduzir desperdício de gás na Amazônia

A Petrobras entrega na próxima terça-feira ao governo do Amazonas o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente relativo ao gasoduto de 430 quilômetros que ligará os municípios de Coari e Manaus. A expectativa é de que as obras comecem em janeiro e terminem em 2006. Diariamente, a estatal é obrigada a reinjetar no solo 7,5 milhões de metros cúbicos de gás natural produzidos na província petrolífera de Urucu, a 650 quilômetros da capital, devido à impossibilidade de escoamento.

- Já estamos prontos para disponibilizar o gás. A única coisa que falta é a construção dos dutos para escoamento - diz Mauro Mendes, gerente de produção de Urucu. Atualmente, há apenas um gasoduto, de 18 polegadas, e um oleoduto, de 14 polegadas, que cobrem os 285 quilômetros de distância entre Urucu e a cidade de Coari. De lá, os 100 mil barris de óleo extraídos diariamente de Urucu seguem até Manaus em navios. O projeto que será entregue ao governo inclui um gasoduto de 20 polegadas e capacidade para escoar 10,5 milhões de metros cúbicos por dia. A demanda atual de Manaus é de 5 milhões de metros cúbicos-dia. Com isso, quatro usinas termelétricas da capital, com capacidade para gerar 400 megawatts, trocarão o diesel pelo gás como matriz energética, reduzindo o preço do megawatt-hora (MW/h) dos atuais US$ 100 para US$ 30. A Petrobras também espera que até novembro esteja resolvida a questão em torno do gasoduto Urucu-Porto Velho, com 530 quilômetros de extensão. O projeto, para dutos de 14 polegadas e capacidade para escoar 2 milhões de metros cúbicos-dia, chegou a ser liberado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas a licença prévia obtida em dezembro de 2002 foi suspensa pelo Ministério Público. O duto levaria gás para a usina Termonorte I, na capital de Rondônia, garantindo a geração de 64 MW. A estatal espera concluir as obras até janeiro de 2006. A previsão é de que, nos dois gasodutos, sejam investidos mais de US$ 500 milhões.

- O Ministério Público exige projetos de contrapartida socioambientais. Pretendemos investir até US$ 15 milhões em programas junto às comunidades locais - explica Sven Wolff, gerente-geral da Unidade de Negócios da Bacia do Solimões, onde fica Urucu.

A empresa anunciou também a inauguração, em março do ano que vem, de uma nova unidade de processamento de gás natural na província, o que aumentará a produção diária de gás de cozinha (GLP) em 500 toneladas. Atualmente, as duas unidades existentes na região disponibilizam 1.100 toneladas-dia de GLP, abastecendo Amazônia, Maranhão e Piauí. A partir de março, todo o Ceará também receberá gás de cozinha produzido em Urucu.

A produção de petróleo e gás na região, iniciada há 15 anos, representa 5,5% do total nacional. O gasto médio por poço é de US$ 7 milhões, contra os US$ 25 milhões a US$ 30 milhões na Bacia de Campos.

A Base de Operações Geólogo Pedro de Moura, a 650 quilômetros a sudoeste de Manaus, surpreende pelo gigantismo. Para chegar ao local, só de avião ou barco. Toda entrada e saída da região é controlada pela Petrobras, que administra a concessão do campo de exploração até 2024. Ela funciona como uma cidade. Por turno, trabalham na unidade, de 120 quilômetros quadrados, 1.400 funcionários. Royalties engordam orçamento URUCU, AM - A produção de petróleo tem trazido bons frutos ao Amazonas, que, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, possui reservas de 85,050 bilhões de metros cúbicos de gás. O pagamento de royalties rendeu aos cofres amazonenses R$ 70,31 milhões no ano passado, ou 12,8% do orçamento estadual. Com 57.230 quilômetros quadrados e população de 67.087 habitantes, o município de Coari, onde está situada a província petrolífera de Urucu, recebeu R$ 22,41 milhões deste royalties, o que o deixa na nona posição entre as cidades que mais ganham dinheiro com a exploração de petróleo em todo o país. Os oito primeiros colocados no ranking ficam na Região Sudeste e são beneficiados pela exploração off-shore na Bacia de Campos, maior produtora do país.

Além de Coari, outros 17 municípios amazonenses receberam em conjunto R$ 2,43 milhões, 17 cidades paraenses foram beneficiadas com R$ 640 mil e três municípios do Amapá ganharam R$ 113 mil em 2002. Com isso, a região amazônica recebeu no ano passado, entre governos estaduais e municípios, R$ 95,9 milhões.

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