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Um futuro de metrópoles inundadas

O Globo, Sociedade, p. 21
09 de Fev de 2016

Um futuro de metrópoles inundadas
Estudo prevê efeitos do aquecimento para os próximos mil anos

RIO - Os efeitos do aquecimento global até 2100 já foram alvo de diversos estudos, mas a comunidade internacional pouco discute o que pode acontecer a partir de então. Uma nova pesquisa publicada na revista "Nature Climate Change", porém, tenta expandir o horizonte dos levantamentos e faz um diagnóstico catastrófico sobre os impactos das mudanças climáticas para os próximos séculos. A permanência do carbono já existente na atmosfera, além do impacto de novas emissões, pode elevar o nível dos oceanos em 25 metros nos próximos mil anos. As consequências seriam sentidas no mundo inteiro. Moradores de metrópoles como Nova York, Londres e Rio de Janeiro seriam obrigados a deixar suas casas.
- Boa parte do carbono já emitido pela queima de combustíveis fósseis ficará na atmosfera por milhares de anos, e mais gases de efeito estufa serão liberados - alerta Peter Clark, paleoclimatologista da Universidade do Estado de Oregon e líder do estudo, publicado esta semana na revista "Nature Climate Change". - As pessoas precisam entender que os efeitos das mudanças climáticas não irão embora, ao menos não por milhares de gerações.
AUMENTO TÍMIDO NO SÉCULO XXI
O aumento do nível do mar, causado pelo derretimento do gelo que cobre Antártica, Groenlândia e Ártico, é uma das principais consequências do aquecimento global, embora seus efeitos só tenham começado a ser percebidos recentemente. De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o aumento do nível do mar deve se restringir a um metro até 2100.
Na nova análise, porém, os pesquisadores traçaram quatro cenários para o aumento do nível do mar, baseados em diferentes previsões para o ritmo do aquecimento global. A situação considerada mais amena pressupõe que os governos mundiais conseguirão executar as anunciadas e ambiciosas medidas para reduzir as emissões de carbono. Já no prognóstico mais grave, o homem eliminará, nos próximos séculos, metade do estoque de combustíveis fósseis ainda disponível.
Em centenas de anos, diz a pesquisa, é possível que o mar suba até 25 metros mesmo que, até 2100, a temperatura aumente "apenas" dois graus Celsius. O Ártico e a Groenlândia perderiam até 70% de sua cobertura de gelo, estima o estudo.
Mas os cientistas concluem que, se no futuro o aquecimento atingir a marca de 7 graus Celsius, o nível do mar pode se elevar em até 50 metros. Neste caso, não haveria mais geleiras em áreas de latitude temperada, e a Groenlândia perderia todo o seu gelo.
- Demora muito tempo, até séculos, para observarmos o impacto do aumento do nível do mar - explica Clark. - É como ter uma panela de água no fogão. Ela não ferve por um bom tempo, mesmo já aquecida, mas ferverá enquanto houver calor. O carbono continuará na atmosfera por centenas ou milhares de anos, e neste período permanecerão o aquecimento e o aumento do nível do mar.
No cenário mais ameno estudado por Clark, estima-se que ao menos 10% das pessoas que vivem em 122 países serão afetadas pelo aumento do nível do mar. Até 1,4 bilhão de habitantes - 20% da população global atual - vivem, hoje, em áreas que seriam atingidas no futuro.
- Não podemos construir paredões no litoral com 25 metros de altura - ressalta Clark. - Populações inteiras terão que deixar suas cidades.
Daniel Schrag, professor do Departamento de Geologia da Universidade Harvard, destaca que há questões morais sobre "que tipo de ambiente estaremos passando para as próximas gerações".
- O aumento do nível do mar pode não parecer um assunto grave hoje, mas estamos tomando escolhas que afetarão nossos netos, bisnetos e as gerações seguintes - pondera Schrag, coautor do estudo. - Precisamos pensar cuidadosamente sobre as repercussões a longo prazo de nossas emissões.
Os pesquisadores avaliam que, considerando o tempo de permanência do carbono na atmosfera e sua interferência no aquecimento global, a redução das emissões pode não ser suficiente.
- Para pouparmos as próximas gerações dos piores impactos das mudanças climáticas, precisamos zerar as emissões de carbono o mais rápido possível - anuncia Clark.

O Globo, 09/02/2016, Sociedade, p. 21

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/estudo-preve-efeitos…

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